O Rio Solimões atingiu nessa sexta-feira (30), o nível mais baixo já registrado na história. A cota medida foi de -0,94 metro na cidade de Tabatinga, na calha do Alto Solimões, interior do Amazonas. A régua de medição é monitorada diariamente pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) desde o fim da década de 70. O número está atualmente negativo justamente por estar abaixo da régua de medição. Os dados apontam que esta é a maior seca, pelo menos, dos últimos 40 anos na região.

No Amazonas, o percurso do Rio Solimões é dividido em três trechos, chamados "calha". O Alto Solimões, onde se atingiu a menor cota já registrada, é a "porta de entrada" do rio no Brasil. Ele segue descendo rumo as proximidades de Manaus, passando pelas calhas do Médio e Baixo Solimões. A seca na parte alta do rio é um indicativo de que, nos próximos dias, as águas baixem gradativamente nas demais regiões.

Nas últimas 24 horas o nível desceu mais 16 cm. A estiagem é tão severa e atípica que o Serviço Geológico Brasileira vai precisar ir ao local na próxima semana para instalar uma nova régua que faça medições até -2 metros, algo inédito.

As duas piores marcas já atingidas no Alto Solimões tinham sido registradas no fim do processo de vazante dos rios. Em 2010, em 11 de outubro, o nível bateu -0,86 metro. No ano passado, a régua marcou - 0,76 metro em 23 de outubro.

A escassez hídrica causa complicações na vida de grande parte da população local e pode até mesmo causar o isolamento completo de municípios. É o caso de Benjamin Constant e Atalaia do Norte.

As duas cidades se conectam por terra, mas dependem de caminhos pelo Rio Solimões para receber remédios, alimentos e todo o tipo de mantimento. Esse caminho está perto de secar completamente, segundo o secretário-executivo de Defesa Civil de Benjamin Constant, Ricelly Dacio.

“Estamos muito apreensivos. Já há produtos essenciais com preços ficando caríssimos. Água, por exemplo, pesa muito, ocupa espaço e o preço não é caro, então os barcos não querem mais trazer os galões para a cidade. Começamos a registrar acidentes dos barcos batendo no fundo do rio. Enquanto isso, estamos dando ajuda humanitária com cestas básicas e realizando também a manutenção de purificadores de água. A escassez está muito forte e atípica”, relata Dacio.

Vale ressaltar que agosto faz parte da primeira metade de todo o período de estiagem, que deve perdurar até o fim de outubro. Por isso, a previsão é que o nível da água continue a descer fortemente.

No Alto Solimões, a média dos últimos 20 anos, para o dia 30 de agosto é de 2,71m. Ou seja, o rio em 2024 está quase 4 metros mais raso que o normal para o período. 

Dentro do período só há 17 anos contabilizados, excluindo do cálculo 2024. Não há números de 2004, 2006 e 2020 para a data. Portanto, o número foi somado e dividido por 17 para chegar a média dos últimos 20 anos.

A estiagem severa já impacta todo o estado do Amazonas e fez com que o governo estadual decretasse na última quarta-feira (28) situação de emergência para todos os 62 municípios amazonenses. Para 2024, o governo estadual prevê uma seca severa que pode ser tão grave quanto, ou até pior do que, a enfrentada no ano passado.

Ao longo de agosto, a região do Alto Solimões viu o nível descer em ritmo atípico. O cenário que se desenha é catastrófico para comunidades ribeirinhas que dependem da água até mesmo para ter o que beber.

Ajuda humanitária

De acordo com o Governo do Estado do Amazonas, já há mais de 300 mil pessoas afetadas diretamente pela seca severa em todo território amazonense. No âmbito da assistência humanitária, cerca de 730 toneladas de alimentos já foram distribuídas para municípios do interior.

Com o decreto, a gestão estadual poderá solicitar e receber apoio federal nas ações de assistência já realizadas pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM). Até o momento, já foram enviadas mais de 200 toneladas de medicamentos e insumos aos municípios das calhas dos rios Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões. Uma usina de oxigênio foi instalada no município de Envira e cilindros de oxigênio foram enviados para o hospital de Canutama.

Rio Solimões

O Rio Solimões é uma das principais bacias do Amazonas e banha 24 cidades do estado. Mais especificamente, o Alto Solimões abrange nove municípios que totalizam cerca de 260 mil moradores.

O Solimões nasce, na verdade, fora do Brasil, mais precisamente no Peru. Em território peruano recebe o nome de Rio Marañón, que é proveniente de uma geleira situada na Cordilheira dos Andes a mais de 1.600 metros de altitude. Por isso, o nível do rio depende diretamente das chuvas na região dos Andes e é afetado diretamente pelo derretimento atípico gerado pelas mudanças climáticas.

Junto do rio Amazonas, forma a maior bacia hidrográfica do mundo. A bacia formada por todo o Amazonas, que compreende o rio Solimões, compreende uma área de mais de 7 milhões de km².

Fonte: g1

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