O Exército Brasileiro iniciou estudos detalhados para projetar como será a força terrestre no horizonte até 2040.
O plano – batizado internamente de Força 40 – já mapeou o cenário de riscos geopolíticos pela próxima década e meia.
Os estudos vão apontar as necessidades de atualização e readequação do Exército em termos de diretrizes estratégicas, capacidades operativas, doutrina e necessidades de pessoal até 2040.
O resultado deverá orientar a elaboração dos próximos planos estratégicos da força: 2024-2027, 2028-2031, 2032-2035 e 2036-2039.
Liderado pela 7ª Subchefia do Estado-Maior do Exército (EME), que tem à frente o general de brigada Fernando Bartholomeu Fernandes, o Força 40 poderá indicar — eventualmente — necessidade de mudanças na organização territorial das tropas e ajustes em projetos estratégicos de reaparelhamento.
O essencial é “a obtenção de novas capacidades e o desenvolvimento de novas competências [que] permitirão alcançar o desenho de uma Força organizada, articulada e preparada” no horizonte até 2040, conforme se lê em um dos documentos preparatórios do plano.
Em outro documento, são abordadas oito premissas para o planejamento do Exército:
- Não existem indicações de que a missão constitucional e as atribuições da força terrestre sofrerão alterações no horizonte temporal considerado.
- Visualiza-se um aumento exponencial da aplicação militar de tecnologias críticas, como inteligência artificial, veículos e sistemas de armas autônomos, internet das coisas no campo de batalha, cibernética, propulsão nuclear. Tudo isso contribuirá cada vez mais para o agravamento das assimetrias de poder, modificando constantemente o caráter da guerra.
- Estratégias militares da presença e da dissuasão continuarão a ser priorizadas. No entanto, assumirá também posição de destaque a estratégia da projeção de poder.
- Serviço militar terá que continuar sendo obrigatório, pois a estratégia da presença requer um grande contingente de reservas mobilizáveis.
- Atividades de monitoramento, controle e pronta-resposta a qualquer ameaça ou agressão vão demandar que as Forças Armadas possam operar em rede, buscando a interoperabilidade, com sinergia para ações em conjunto.
- Importância da Amazônia — com extensão territorial, baixa densidade demográfica, dificuldades logísticas, abundantes reservas de recursos naturais e biodiversidade — exigirá presença efetiva do Exército.
- Forma de atuação e emprego das Forças Armadas será cada vez mais influenciada por agravamento das mudanças climáticas, com mais desastres naturais e afetando as relações entre países.
- Comunicação institucional do Exército será dificultada por ações de inteligência artificial, bots, trolls, deep fakes
O mundo e o Brasil até 2040
Para nortear o planejamento estratégico do Exército, foi realizado um amplo diagnóstico das principais tendências para o Brasil e o mundo no horizonte até 2040.
Mais de 350 especialistas, de diversas áreas do conhecimento, foram ouvidos durante o processo. Desse longo processo de oitiva surgiram dez características que devem afetar o ambiente operativo do Exército, segundo a própria força terrestre:
- Incremento da competição entre potências: maior conflitividade regional e estabelecimento de “guerras por procuração” (proxy wars), disputa por acesso a recursos naturais estratégicos, fragilização dos instrumentos de concertação internacional, aumento da sensação de desconfiança entre países, ampliação dos gastos militares.
- Aumento da dependência tecnológica em todos os segmentos: crescente automação e informatização das relações sociais e econômicas, dificuldade na identificação de agentes responsáveis por ações cibernéticas, concentração do poder digital, incremento das vulnerabilidades nos países que dependem das tecnologias empregadas para navegação e geoposicionamento.
- Agravamento das questões climáticas: risco de desestabilização social por causa de desastres naturais, redução da disponibilidade de recursos hídricos, novos movimentos migratórios, incremento da presença militar nos polos (Ártico e Antártica), mais operações civis e militares de ajuda humanitária.
- Aumento da polarização política: risco de fragilização política-institucional, mais pressão sobre as Forças Armadas para manutenção da ordem pública e institucional, aumento da mobilização popular, fortalecimento do crime organizado no contexto de Estados enfraquecidos.
- Incremento de tecnologias disruptivas aplicadas ao campo militar: emergência de uma quinta revolução industrial na década de 2030 e implementação progressiva ao longo da década de 2040, desenvolvimento contínuo da inteligência artificial e automação de processos robóticos.
- Intensificação da corrida especial por grandes e médias potências: incremento de dispositivos autônomos de emprego militar demandará crescente acesso a comunicações satelitais, aumento de serviços privados que exploram capacidades especiais, dificuldades na regulamentação do uso do espaço tensionam relações internacionais.
- Crime transnacional organizado: aumento da violência vinculada a grupos armados (demandando participação das Forças Armadas em operações na fronteira), aumento da violência urbana (demandando participação das Forças Armadas em operações de GLO), risco de associação do crime organizado com organizações terroristas.
- Ambiente de desinformação: incremento da manipulação da informação em favor do atingimento de objetivos políticos, econômicos, psicossociais e militares.
- Agravamento da desigualdade entre países: mais pobreza nas regiões menos desenvolvidas do mundo, aumento dos movimentos migratórios rumo a regiões mais desenvolvidas e ampliação de tensões sociais, maior importância dos recursos naturais como fonte de tensão entre nações.
- Mudança do perfil demográfico: envelhecimento progressivo e diminuição da população, urbanização acentuada dificulta situação socioeconômica de muitos países, dificuldades para o recrutamento militar.
Fonte: CNN / Foto: Fabio Rodrigues
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