Uma "cidade" dentro de Salvador. É assim que o bairro de Cajazeiras, na capital baiana, pode ser definido.

O local, onde o participante do "BBB 24" e motorista por aplicativo Davi Brito cresceu, fica a cerca de 20 km do Centro; tem um jeitão de município, com escolas, hospitais, postos de segurança e comércio movimentado e é um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina, segundo a secretaria municipal do turismo de Salvador.

🚨POLÊMICA NO BBB24: em conversa com outros participantes do reality show no fim de semana, a carioca Fernanda Bande disse que Davi saiu do “c* da Bahia”. A declaração da sister causou revolta dos baianos nas redes sociais. Na noite desta terça-feira (5), Davi foi ao Paredão com Michel e Alane, mas permaneceu na casa.

Quinze bairros em um

➡️Apelidado de “Cajacity”, o bairro é composto por 15 setores — hoje já considerados independentes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o professor baiano Clíssio Santana, que é Mestre em História, o bairro e, posteriormente, suas subdivisões, surgiram com as construções dos conjuntos habitacionais populares, fomentadas pelos governos federal e estadual a partir da década de 1970.

"Inicialmente era um bairro de moradia, quem vivia lá trabalhava nos centros comerciais e industriais da cidade, como o Centro Histórico. As subdivisões que hoje a gente conhece nasceu dos conjuntos habitacionais. O processo de ocupação territorial foi se expandindo e a dimensão saiu dos planos iniciais".

📍Compõem Cajazeiras os endereços conhecidos como:

  • Cajazeiras II
  • Cajazeiras IV
  • Cajazeiras V
  • Cajazeiras VI
  • Cajazeiras VII
  • Cajazeiras VIII
  • Cajazeiras X
  • Cajazeiras XI
  • Fazenda Grande I
  • Fazenda Grande II
  • Fazenda Grande III
  • Fazenda Grande IV
  • Águas Claras
  • Boca da Mata
  • Jaguaripe I

A família de Davi vive entre Fazenda Grande III e IV, caracterizadas por forte comércio local, como destaca a ativista social Bárbara Trindade.

"Tem igreja católica, tem muitas igrejas evangélicas, tem muitas pessoas, principalmente muitas mulheres, empreendendo. Se você for ali à noite, tem alguém vendendo cachorro-quente, beiju, acarajé, churrasquinho, point de pizza, caranguejo…".

Moradora de Cajazeiras há mais de 20 anos, Bárbara atua em prol da comunidade. Ela acompanhou a equipe do g1 durante a reportagem, apresentando pontos relevantes sobre a história do lugar, como o Parque Pedra de Xangô e a icônica "Ladeira da Oito", que desafia a habilidade de motoristas que trafegam no local. (veja o vídeo acima)

Dúvida sobe tamanho da população

Em termos populacionais, restam dúvidas sobre o número exato de moradores.

Por lá, moradores repetem a famosa estimativa de que há um milhão de habitantes na soma de todos os setores.

A Fundação Gregório de Mattos, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), disse que Cajazeiras seria um dos maiores conjuntos habitacionais da América Latina.

Os números do IBGE, no entanto, são mais contidos: 152 mil habitantes no total, de acordo com o estudo "O Caminho das Águas em Salvador", produzido pelo próprio instituto em 2010.

Mesmo com os números desatualizados, o bairro da capital baiana é mais populoso do que a cidade de Cajazeiras, no sertão da Paraíba. A xará tem 61.776 habitantes, de acordo com a prefeitura local.

De onde vem, então, a percepção superpopulosa?

"A divisão territorial que o IBGE utiliza é diferente da divisão identitária da população", afirmou o historiador baiano Clíssio Santana ao comentar a disparidade em relação ao número de habitantes.

Na avaliação do professor, o sentimento de pertencimento dos moradores da cidade ultrapassa os limites da divisão territorial. Isso significa que as 15 localidades que compõem Cajazeiras podem não ser contabilizadas juntas nas pesquisas do IBGE, mesmo que os moradores considerem fazer parte da mesma comunidade.

Além disso, a percepção de superpopulação pode ser associada à necessidade da comunidade cobrar os direitos básicos de saúde, educação e lazer, por exemplo.

"A grandeza populacional pode ser uma forma de dizer 'nós somos grandes, nós somos trabalhadores majoritariamente negros, merecemos e exigimos sermos vistos pelo poder público e pela mídia'", afirmou.

Cajacity, a cidade dentro da cidade

🔎Quem transita pelas ruas de Cajazeiras vê cenários semelhantes aos de qualquer centro urbano:

empreendimentos comerciais de todo porte — tem shopping, feiras populares, mercados, lojas e bares, entre outros espaços;

templos religiosos — diversas igrejas, especialmente evangélicas, terreiros de candomblé e centros espíritas;

esporte, lazer e cultura — espaços como a Arena Pronaica sediam aulas de futebol para crianças.

Por essas e outras questões, moradores até brincam que “não precisam ir a Salvador”, já que moram, trabalham e realizam outras atividades sem sair de “Cajacity”.

"Se eu disser a você que tem mais de sete ou oito anos que eu estive em Salvador, na Calçada, aí eu estou mentindo porque tem mais que isso aí".

A declaração é da vendedora Maria Dnalva, de 62 anos. Atualmente, ela mora em Cajazeiras XI.

A ausência de visitas à região do centro da capital baiana pode ser explicada pela distância: o trajeto da casa da vendedora até o bairro da Calçada é estimado em 1h30 de transporte público.

"Aqui eu tenho farmácia, tenho mercado (...), feira livre. Então, eu não tenho do que reclamar", completa.

Para o historiador Clíssio Santana, a fala de Dnalva faz todo o sentido: hoje em dia, o bairro não precisa mais do centro da cidade para sobreviver. Segundo ele, "lá em Cajazeiras tudo tem" é uma frase repetida com orgulho pelos moradores.

Ares de interior

Também segundo a Fundação Gregório de Mattos, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), o bairro de Cajazeiras começou a se formar em meados de 1977 em uma área de três antigas fazendas.

Desde o século XIX, a área era utilizada para o cultivo de laranja, café, mandioca e cana-de-açúcar até que foi desapropriada pelo então governador Roberto Santos.

Mas parte desse passado é de certo modo ainda remanescente em alguns setores do bairro. Há diversos sítios, especialmente nas Fazenda Grande III e IV, onde se preserva o cultivo de frutas e a criação de animais.

Para Bárbara Trindade, tal característica mantém em partes do bairro uma aura de interior em meio a todo o urbanismo.

“Você compra um ovo, por exemplo, de galinha feita ali mesmo. Você compra um leite de vaca, você compra uma banana tirada no fundo da casa, você compra uma jaca tirada no fundo da casa, um abacate tirado no fundo da casa...”

Segundo a ativista, essa produção é revertida em negócio para os próprios moradores que empreendem no bairro.

Reality próprio

📸Cajazeiras é tão independente que tem até reality show próprio. Em 2021, moradores da área criaram o "BBB Cajazeiras", uma versão baiana e online do programa da TV Globo.

A versão local tinha provas, paredão e até prêmio final — a vencedora ganhou R$ 200 e uma viagem com tudo pago para Morro de São Paulo, no baixo sul. Mas sem confinamento.

Toda a brincadeira rolava através do celular, onde os participantes formaram um grupo de conversa e trocavam mensagens, organizando toda a dinâmica do "programa". Assim como no BBB original, a decisão final era do público, que votava por meio de enquetes nas redes sociais.

Fonte: g1

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