Após decidir demitir o número 2 da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o presidente Lula (PT) chancelou a permanência na chefia do órgão de Luiz Fernando Corrêa, que promoveu a troca de outros seis diretores.
A exoneração de Alessandro Moretti e todas as outras mudanças foram publicadas em edição extra do Diário Oficial da União na noite desta terça-feira (30), em meio às investigações sobre a "Abin paralela" que teria sido montada na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Devido ao sigilo inerente à função, os nomes dos demais diretores dispensados e aqueles que assumem as vagas não foram publicados no Diário Oficial, apenas as matrículas. Quatro dos novos diretores são mulheres.
A Abin diz que as trocas não têm relação com as investigações, já estavam programadas e obedecem ao cronograma de reformulação do órgão iniciado no ano passado.
A agência de inteligência está no centro de uma crise envolvendo as investigações em torno da possível montagem de uma estrutura paralela de espionagem durante a gestão Bolsonaro.
A Polícia Federal já realizou três operações autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal e, entre outros pontos, afirma ter havido um "conluio" entre a atual gestão do órgão de inteligência e os investigados.
A presença de Moretti no cargo passou a ser contestada após ele ser citado na operação deflagrada na semana passada.
De acordo com a PF, ele participou de uma reunião com representantes de servidores da Abin, em março do ano passado, e teria dito que a investigação sobre a agência tinha "fundo político" e iria passar.
No documento, a PF disse que a postura de Moretti não é a esperada de um delegado que, até dezembro de 2022, ocupava a função de diretor de Inteligência da Polícia Federal.
Ele nega qualquer ação com o intuito de tentar barrar as investigações.
O especialista em inteligência Marco Cepik, atual diretor da Escola de Inteligência da Abin, assumiu o cargo de diretor-adjunto.
Apesar de a PF colocar Corrêa e Moretti no mesmo patamar de suspeição, Lula tem, como declarou em entrevista nesta terça-feira, uma relação de confiança com Corrêa.
Além das investigações, as cúpulas da Abin e da Polícia Federal promovem um embate nos bastidores.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o diretor-geral da Abin ocupam campos divergentes dentro do governo.
Andrei é delegado da PF e coordenou a equipe de segurança de Lula na campanha. A PF está subordinada ao Ministério da Justiça.
Corrêa também é delegado federal, foi diretor da PF no segundo mandato de Lula e chegou ao comando da Abin após o petista tirar o órgão das mãos dos militares (o Gabinete de Segurança Institucional), em março, e alocá-lo na Casa Civil, hoje comandada por Rui Costa.
Na montagem do governo, Corrêa escolheu como números 2 e 3 da agência Alessandro Moretti e Paulo Maurício Fortunato, respectivamente. Esses nomes viraram munição contra o chefe da Abin, que foi acusado de contaminar a gestão Lula com resquícios do bolsonarismo.
Fortunato foi alvo da PF na primeira operação da investigação, tendo sido encontrados US$ 171 mil em sua casa. Ele foi afastado por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que preside as investigações.
Moretti, que também é delegado federal, foi o número dois de Anderson Torres na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, entre 2018 e 2021, e diretor de inteligência da PF em 2022, quando Torres era ministro da Justiça.
Ele chegou a ser indicado pela gestão Bolsonaro para ser adido do órgão na França, mas o ato acabou sendo anulado por Andrei.
A investigação sobre a "Abin Paralela" sob Bolsonaro começou em março, após vir à tona a informação de que o software FirstMile foi usado pela agência, durante a gestão Bolsonaro, para espionar adversários políticos.
A PF abriu inquérito e a atual gestão da Abin, uma sindicância investigativa.
A primeira operação autorizada por Alexandre de Moraes ocorreu em outubro e incluiu buscas na Abin.
A segunda, no último dia 25, mirou Alexandre Ramagem, chefe da Abin sob Bolsonaro e hoje deputado federal pelo PL do Rio.
A terceira, na segunda-feira (29), teve como principal alvo o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), apontado pela PF como integrante do núcleo político da organização que usaria a Abin para fins escusos.
Fonte: Bahia Notícias
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