Um dos principais alvos dos golpistas que invadiram as sedes dos Três Poderes em 8 janeiro de 2023, em Brasília (DF), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes falou sobre os atos antidemocráticos daquele dia em longa entrevista ao jornal O Globo.
Relator das investigações sobre o episódio na Corte, ele afirmou que havia três planos contra ele: um deles envolvia até prisão e enforcamento na região central da capital federal.
Moraes contou que a primeira ação dos golpistas previa que as Forças Especiais (do Exército) o prenderiam em um domingo e o levariam para Goiânia. "No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio", disse.
O terceiro plano, "de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes". "Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição", completou.
Também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Moraes é, de longe, o ministro do STF mais popular nas pesquisas feitas no Google, em parte devido à atuação contundente contra discursos e movimentos antidemocráticos, mesmo antes do 8/1
Só nos últimos 30 dias, por exemplo, dados do Google Trends mostram que Moraes responde por 38% das buscas por ministros da Corte no site. Depois, aparecem Dias Toffoli (12%) e Luís Roberto Barroso (10%).
Afastamento do governador do DF
Ao jornal O Globo, Moraes explicou que a ação rápida das instituições e o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), evitaram uma rápida escalada dos eventos golpistas.
Rocha foi removido temporariamente do cargo "para evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista".
Segundo o ministro, se o Supremo não tivesse agido, demonstrando que não admitiria "nenhum tipo de golpe", poderia ter ocorrido "um efeito dominó que geraria caos no país".
O principal erro antes do 8/1
Para Moraes, a principal falha das autoridades foi permitir a instalação de acampamentos em frente a quartéis em diversas partes do país. "Isso é crime e agora não há mais dúvida disso", disse.
"Como na posse não houve nada, infelizmente as pessoas da área de segurança talvez tenham ficado mais otimistas. O grande erro doloso foi permitir a entrada na Esplanada dos Ministérios. O 8 de janeiro foi o ápice do movimento: a tentativa final de se reverter o resultado legítimo das urnas", completou.
Objetivo dos golpistas era convencer Exército a aderir ao golpe
Moraes também disse que investigações e interrogatórios de vários golpistas mostraram que o objetivo dos acampados era "invadir o Congresso e ficar até que houvesse uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para que o Exército fosse retirá-los".
"Então, eles tentariam convencer o Exército a aderir ao golpe. O que mostra o acerto em não se decretar a GLO, porque isso poderia gerar uma confusão maior, e sim a intervenção federal", explicou.
Responsabilização dos culpados
Indagado sobre qual o papel de Jair Bolsonaro (PL) no 8/1, já que o ex-presidente fez seguidos ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral brasileiro, Moraes preferiu dizer que "todos aqueles que tiverem a responsabilidade comprovada, após o devido processo legal, serão responsabilizados".
O ministro afirmou que "desde executores até eventuais políticos" serão investigados, caso a Polícia Federal (PF) encontre indícios de participação no 8/1.
Moraes ainda declarou que integrantes do poder público com comprovação de envolvimento nos atos golpistas "devem ser alijados da vida política, além de responsabilidade penal". "Quem não acredita na democracia não deve participar da vida política do país", continuou.
Perfil dos golpistas
Conforme Moraes, a maioria dos golpistas é de classe média, principalmente do interior. "E acham que a prisão é só para os pobres. A Justiça tem que ser igual para todos", analisou.
Papel das redes sociais no 8/1
Principal campo de batalha na polarização política e instrumento importante para a disseminação dos atos golpistas, as redes sociais "falharam e foram instrumentalizadas no 8 de janeiro", de acordo com Moraes.
O ministro disse que a regulamentação das redes "vai ser uma bandeira importante" do TSE no primeiro semestre de 2024. Ele acredita que é preciso "impedir a continuidade dessa terra sem lei das redes sociais. Sem elas, dificilmente (os atos golpistas) teriam ocorrido de forma tão massiva".
Ameaças e ataques
Moraes contou que sua segurança pessoal "continua a mesma" desde que ele assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em 2014.
O ministro lamentou os ataques à família, sobretudo às filhas. "Chegam muitas ameaças. Nisso eles são misóginos. Preferem ameaçar as meninas e sempre com mensagens de cunho sexual. É um povo doente", classificou.
Fonte: SBT
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