A auxiliar de limpeza Elisabete Maria Santiago da Silva, de 39 anos, matou o companheiro com uma facada no peito, no último dia 18, em Guarulhos, na Grande São Paulo, para, segundo ela, se defender de uma agressão. A mulher foi solta no dia seguinte, por determinação da Justiça, para responder ao caso em liberdade.

Elisabete afirmou que, no mesmo dia em que foi liberada da carceragem do 1º DP da cidade, que fica no centro, foi para a residência de uma parente, na periferia de Guarulhos. Ela teria, então, sido procurada por integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que queriam submetê-la a um “tribunal do crime”.

“Me falaram que a minha cunhada que chamou eles, falando que eu tinha matado meu companheiro dormindo, com duas facadas no peito, mas isso é mentira”, afirmou a auxiliar.

A auxiliar só não foi arrebatada pelos criminosos porque, segundo ela, estava fora da área de ação deles. “Eu estava no território de outro ‘disciplina’ [responsável pelo cumprimento das regras do PCC], fora do meu bairro. Eles não podiam me colocar no carro sem a autorização dele. Aproveitei para sair dali, porque não queria e não quero ser morta por uma mentira que minha cunhada inventou.”

Desde então, a auxiliar está escondida para preservar a própria vida. Ela afirmou que os criminosos já afirmaram que pretendem matá-la, porque eles “compraram” a versão da cunhada dela.

Legítima defesa

Elisabete havia retomado o relacionamento com Stefano de Oliveira Umbuzeiro, 36 anos, no início deste ano e, nos últimos dois meses, ela afirmou que ele estava com um “ciúme doentio” — o que já teria provocado o término do relacionamento de ambos em outra ocasião.

Na noite que antecedeu o homicídio, ele ficou ligando insistentemente para a auxiliar, quando ela estava no trabalho, na zona sul da capital paulista. Quando ela chegou em casa, no bairro dos Pimentas, já em Guarulhos, notou que ele estava supostamente sob o efeito de álcool e drogas. No dia 18, dia do crime, por volta das 15h, Stefano ainda aparentava estar alterado, afirmou a auxiliar.

“Quando me sentei na cama [tarde do dia 18], ele veio para cima de mim, cuspiu na minha cara. Perguntei por que ele estava fazendo aquilo. Aí comentei que seria melhor a gente se separar, antes que desse alguma merda.”

A auxiliar telefonou para a dona da casa em seguida, para avisar sobre a situação, porque ou ela ou Stefano iriam assumir a locação do imóvel. “Aí ele se sentou na cama e me xingou, disse que eu era um demônio na vida dele, que quando eu saísse de casa para ir trabalhar que eu levasse o meu demônio junto comigo.”

Estavam na casa Elisabete, Stefano e o filho caçula dela, de 6 anos. A mulher também tem outro filho, de 16 anos, que estava ausente. Stefano era padrasto deles.

Violência doméstica

De forma agressiva, segundo Elisabete, o homem teria afirmado que não iria deixá-la sair de casa. Ela, então, ligou para a Polícia Militar e, quando falava com um atendente do 190, teve o celular retirado da mão e jogado no chão. A discussão evoluiu para uma tentativa de agressão.

“Com muita gritaria em casa, ele veio para me dar um murro na cara e me enforcar. Passei por ele e fui para a cozinha, com ele correndo atrás de mim falando que ia me matar.”

A auxiliar conseguiu pegar uma faca, que diz ter usado para se defender.

“Eu não vi nada, virei meu rosto. No desespero, não vi onde havia furado ele. Peguei meu filho pequeno e corri para a rua. Eu acabei ferindo ele [Stefano] para me defender, eu juro que eu não fiz por maldade.”

Stefano chegou a ser levado por vizinhos até o Hospital Pimentas Bonsucesso, onde morreu. A própria Elisabete chamou a Polícia Militar até o local e assumiu a autoria do homicídio.

Tribunal do Crime

A versão dela, porém, está sendo questionada pela irmã de Stefano, que procurou integrantes do PCC, de acordo com a auxiliar de limpeza. Aos criminosos, a agora ex-cunhada teria afirmado que o irmão foi morto enquanto dormia. O Metrópoles tentou localizar a irmã de Stefano, sem sucesso. O espaço segue aberto para manifestações.

“Não devo nada para ninguém, não estou negando que matei ele, mas essa versão de que ele estava dormindo é mentira, e estou com a vida em risco por causa disso”, afirmou a auxiliar de limpeza.

Ela acrescentou que quer responder judicialmente pelo homicídio, resultante, segundo ela, de legítima defesa.

“Estou mostrando meu rosto e dando o meu nome para provar que não devo nada e que preciso de proteção [contra o PCC] e também para que os caras do crime saibam que minha cunhada está mentindo.”

A auxiliar está hospedada na casa de conhecidos, sem informar a localização, por temer que seja localizada pelo PCC e executada.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo afirmou que, até o momento, a Polícia Civil de Guarulhos “não teve conhecimento do relato citado pela reportagem [sobre o PCC]”.

A pasta orientou que a vítima busque auxílio em um distrito policial para registrar as ameaças “de modo que providências possam ser tomadas”.

Fonte: Metrópoles

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