A irrigação de lavouras e pastos utiliza 1.038,1 m³ de água por segundo, o que significa menos de 0,6% da vazão total média dos rios brasileiros. O dado contrasta com o senso comum de que até 70% da água do País é usada na agropecuária. A informação é do professor sênior da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e presidente da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem (Abid), Everardo Mantovani, que palestrou a um grupo de jornalistas associados à Rede Brasil de Jornalistas Agro.

O uso das águas para a irrigação é mais um tema cercado de desinformação e comumente direcionado para criticar a agricultura e a pecuária brasileiras. Segundo ele, os levantamentos frequentemente divulgados criam uma imagem distorcida sobre o tema.

“Nossos estudos apontam que a irrigação utiliza 49,8% da água retirada das bacias hidrográficas, não de toda a vazão dos rios, o que é muito diferente", pontua Mantovani. "Além disso, o porcentual de 70% comumente alegado não desconta a evaporação da água, que chega a 99% do total, que volta ao ciclo natural.”

Os cálculos usuais consideram que o abastecimento urbano “devolve” à natureza até 90% da água utilizada, mas a metodologia não é aplicada aos dados de consumo da agropecuária. Os números aceitos pelo especialista, referência mundial no tema, dão conta de que a irrigação usa 0,6% das águas de superfície do País. Desta maneira, há muito espaço para ampliar o uso de água para a produção de alimentos sem risco ambiental.

Os segmentos com maior consumo de água são os seguintes, segundo os critérios de percentual retirada dos rios e total da vazão dos rios:
  • Irrigação – 49,8% da água retirada e 0,57% da vazão mínima total dos rios brasileiros;
  • Abastecimento urbano – 24,3% e 0,26%, respectivamente;
  • Indústria – 9,70% e 0,13%;
  • Uso animal – 8,4% e 0,11%
  • Termelétrica – 4,5% e 0,06%
  • Mineração – 1,7% e 0,03%;
  • Abastecimento rural – 1,6% e 0,02%.

Mantovani acrescenta que tais números não incluem as águas subterrâneas, nas quais o Brasil é muito rico. “Ainda assim, diversas entidades públicas e privadas estão atentas a possíveis estresses e critérios científicos para outorga de água”, comenta.

O Brasil, apesar de ser um dos cinco maiores produtores de alimentos do mundo, está apenas em 9º lugar quando o assunto é dimensão irrigada, atrás de países como México, Paquistão e Irã. Segundo publicação de 2019 da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), a China lidera com 69 milhões de hectares irrigados, seguida por Índia, com 66,7 milhões, e Estados Unidos, com 26,4 milhões. Os dados referem-se ao ano de 2012, quando o Brasil teria 5,4 milhões de hectares irrigados.

O professor Everardo atualiza os dados sobre o Brasil para 9,2 ou 9,5 milhões de hectares em 2022, pouco mais de 11% da área agrícola do País, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Abimaq. Entre as culturas mais destacadas por este critério estão cana-de-açúcar, arroz e café.

“Um aspecto muito importante é a evolução tecnológica da irrigação, com o Brasil dispondo das mais avançadas técnicas desenvolvidas no mundo, chegando até emissores de precisão e automação total por satélite", lembra o professor. "A evolução reduz significativamente o consumo de água e de energia.”

Segundo ele, o Brasil tem um potencial físico-hídrico para irrigar até 55 milhões de novos hectares, mas o potencial efetivo gira ao redor de 13,69 milhões de hectares, seja com irrigação em sequeiro ou pastagens sem necessidade expandir a área de produção.

"Pegada hídrica do bife"

Outro tema “alegórico” sob o ponto de vista da ciência é a “pegada hídrica” de determinados produtos agrícolas, como a tese que alega que a produção de cada quilo de carne representa o consumo de 17,1 mil litros de água, entre outras distorções. “Com base em estimativas como essa, alguns grupos chegam a argumentar que o Brasil exporta água por meio de alimentos, o que não faz o menor sentido prático”, sublinha Mantovani.

Ele apresentou um estudo que mostra que, no caso do milho, cada grão leva apenas 0,017% da água usada na produção para onde quer que vá e não 750 litros. A mesma lógica, reservadas as devidas particularidades, vale para outros produtos agrícolas.

Fonte: A Tarde

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