A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quarta-feira para apurar suspeita de fraudes em contratos da empreiteira Construservice com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) apreendeu mais de R$ 1 milhão em dinheiro vivo na residência de um dos investigados.
A companhia é comandada politicamente pelo Centrão. A operação cumpriu 16 mandados de busca e apreensão na superintendência do Maranhão, e prendeu o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido como "Imperador". Os crimes sob investigação são fraudes em licitação, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
As notas, que incluíam cédulas de R$ 200, R$ 100, R$ 50 e também valores menores, estavam espalhadas por vários cômodos da casa, escondidas até mesmo em um cofre. Foram fotografadas pelos policiais federais responsáveis pela execução da Operação Odoacro, conduzida pela PF do Maranhão.
O material foi localizado em um dos endereços de São Luís que foi alvo das buscas. O alvo do mandado foi uma pessoa suspeita de ser laranja do grupo empresarial e vinculada a uma empresa de fachada, que disputava licitações apenas para dar um aspecto de legalidade ao processo e permitir à Construservice a obtenção de contratos.
Após terem constatado o grande volume de dinheiro, a PF levou até o local uma máquina para contagem de notas. No final da manhã desta quarta, essa contabilização já ultrapassava o valor de R$ 1 milhão.
Nas buscas, também foram apreendidos itens como relógios de luxo e bolsas. Nas residências de outros dois alvos, houve apreensão de dinheiro em valores menores, de R$ 55 mil e R$ 95 mil.
O principal alvo da operação é o empresário Eduardo José Barros Costa, conhecido pela alcunha de "Imperador", que foi alvo de prisão temporária.
As diligências são conduzidas pela PF do Maranhão, após autorização da 1ª Vara Federal de São Luís. A operação foi batizada de Odoacro, em referência ao sobrenome de um soldado italiano que liderou uma revolta para dar fim ao Império Romano -- Eduardo José Barros Costa é conhecido pela alcunha de "Imperador".
Em nota, a defesa de Eduardo José Barros Costa afirmou que entende como ilegal e desnecessária a prisão temporária do cliente.
"(A defesa) Informa que tudo o que há nos autos do inquérito policial em curso é fruto apenas do início da investigação e da visão unilateral da Polícia e do Ministério Público sobre os fatos; que ele nunca sequer foi notificado para falar, apresentar documentos e/ou quaisquer outras manifestações defensivas; que, a partir de agora, colabora com a investigação - que corre em segredo de justiça - esperando ter a oportunidade de prestar os devidos esclarecimentos, com os quais demonstrará sua inocência", afirmaram os advogados Daniel Leite e Tharick Ferreira.
A empreiteira alvo da operação executa diversas obras da Codevasf em municípios do estado. A investigação da PF detectou a existência de falhas graves nas licitações dessas obras. Os indícios obtidos apontam que empresas de fachadas ligadas ao grupo empresarial sob investigação eram criadas para simular a disputa dos contratos, que acabavam ficando com a empreiteira principal do grupo.
A Codevasf, empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), foi um dos principais órgãos do governo abastecido com verbas do orçamento secreto. Parlamentares indicaram repasses aos estados usando as chamadas "emendas de relator", que impedem a identificação do autor das emendas. O Supremo Tribunal Federal (STF) já ordenou ao Congresso Nacional a definição de uma maior transparência na sistemática.
Sem nunca ter firmado contratos com o governo federal antes de 2019, a Construservice participou de obras de pavimentação em seis estados por um valor que pode chegar a cerca de R$ 400 milhões.
O valor emprenhado do governo para a empresa foi aumentando ano a ano: foram R$ 32 milhões em 2019, R$ 16 milhões em 2020 e R$ 92 milhões em 2021. O volume de recursos deve ser ainda maior em 2022: no mês de dezembro, a empresa venceu nove pregões para obras de pavimentação realizados pela Codevasf.
Os dados foram obtidos pelo GLOBO no Portal da Transparência e indicam que, já em 2020, a Construservice foi uma das empresas que mais receberam valores do chamado orçamento secreto: foram R$ 58 milhões nos últimos dois anos por meio das emendas parlamentares sem transparência.
Fonte: O Globo
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