A divulgação de um estudo preliminar pelo Instituto Butantan sobre a efetividade da Coronavac contra a Ômicron incomodou integrantes da comunidade científica que apontam que os dados são insuficientes e estão sendo mal interpretados.

O Butantan divulgou nesta semana que a Coronavac combate a nova variante do coronavírus, a ponto de se sobrepor à Pfizer, com base em um estudo conduzido por pesquisadores chineses da Universidade Fudan e da Universidade de Medicina Tracional Chinesa, em Xangai, da Universidade Jinan, em Guangdong, e da Universidade de Hong Kong.

O material foi publicado no periódico científico Emerging Microbes & Infections.

De acordo com o Butantan, o ensaio, feito em laboratório, apontou, preliminarmente, uma menor perda de anticorpos contra a Ômicron, o que teria levado à conclusão supostamente equivocada de que a Coronavac neutraliza o vírus mais do que a vacina da Pfizer.

Para o infectologista, Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), os dados não estão completos. “Os dados são preliminares para chegar a algum tipo de conclusão sobre a eficácia da Coronavac contra a variante Ômicron”, disse à CNN.

Outros especialistas ouvidos pela CNN foram além e fizeram críticas ao estudo. O número de amostras foi considerado sem significância estatística.

Outra observação é que ainda que registre boa neutralização do vírus, não compensaria o número total de anticorpos produzidos pela vacina da Pfizer.

Marco Aurélio Palazzi Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirmou à CNN que os dados são limitados e não há como comparar as análises em ambiente controlado de um laboratório com a vida real.

“Uma limitação importante dos dados in vitro de laboratório é que não existe uma correspondência direta entre estes resultados e a efetividade das vacinas no mundo real para a prevenção de doença, em especial para a prevenção de formas graves. Tivemos acesso a estudos de laboratório para avaliar a performance da Coronavac frente a Ômicron. Estes estudos têm mostrado que existe um prejuízo muito grande na produção de anticorpos neutralizantes para a Ômicron, antecipando uma preocupação com o que deve acontecer no mundo real com a proteção oferecida pela vacina para a doença”, disse.

Um dos estudos a que Sáfadi faz referência é o realizado por um grupo de pesquisadores, entre eles brasileiros, vinculados à Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e que aponta que três doses de Coronavac não oferecem a imunidade desejada contra novas variantes do coronavírus.

A CNN encaminhou as críticas para o Butantan. Em resposta, o Instituto afirmou que “confia no estudo”. “Os estudos divulgados pelo Instituto Butantan passam por uma análise criteriosa”, diz a nota. O texto informa ainda que há um compilado de estudos que comprovam a eficácia e a segurança da vacina (leia aqui).

Performance das vacinas

Como contraponto ao que o Butantan afirma, o mesmo estudo de Yale conclui que pessoas inicialmente vacinadas com a Coronavac obtém resultados melhores se utilizarem a Pfizer como terceira dose e não a própria Coronavac.

“É provável que doses heterólogas (com vacinas de RNAm como a Pfizer e a Moderna) sejam necessárias para restaurar a proteção em previamente vacinados com a Coronavac. Importante salientar que até o momento não há dados publicados da efetividade de vacinados com Coronavac contra a Ômicron”, completou Sáfadi.

As vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer, tendem a produzir mais anticorpos do que as de vírus inativado, como a Coronavac.

Na próxima semana, a revista Lancet publica, na íntegra, um dos estudos que demonstram a performance da Coronavac. O levantamento sobre Ômicron é pioneiro e conta com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade de Oxford e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino. O estudo lembra que a Coronavac não possui registro definitivo para uso no Brasil até hoje.

Fonte: CNN Brasil

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