A delegada Andréa Ribeiro, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmou, em entrevista coletiva nesta terça-feira (21), que não havia mandado de prisão contra os jovens que foram encontrados mortos após uma abordagem policial, em Salvador.

O caso aconteceu no domingo (19), enquanto a dupla seguia para a praia na região da Ladeira da Preguiça. Os corpos de Jamilton Bispo da Silva, 22 anos, e Jorge Luís Silva Nascimento, 23, foram encontrados com marcas de tiros e sinais de violência na região do bairro de Granjas Rurais Presidente Vargas, na segunda-feira (20).

Quando foram abordados pela polícia, Jamilton e Jorge Luís não estavam com nenhum material que levasse a uma prisão por flagrante por assalto a ônibus. Sem esse elemento e sem o mandado de prisão, eles não deveriam ter sido levados para o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc).

A delegada Andréa disse ainda que há a informação de que os dois tinham passagens pela polícia, por furtos.

"A informação que nós temos é de que as vítimas tinham passagens policiais pela prática de crimes contra o patrimônio ali na região da Preguiça e também no Centro da cidade. Mas o que a gente tem é que, no dia da apresentação, não constava contra elas mandado de prisão em aberto".

"Então o delegado que recepcionou a ocorrência teria ouvido as vítimas e teria liberado. E aí, depois que eles foram liberados da unidade policial, os corpos dos dois foram localizados com marcas de tiros e sinais de violência", destacou a delegada.

O G1 localizou um processo contra Jorge Luís por tráfico de drogas, em grau de recurso. No documento consta que ele foi detido, em uma abordagem no mesmo bairro, a Barroquinha, em maio de 2017.

Na ocasião, os policiais militares informaram que encontraram Jorge Luís com uma pistola, três porções de maconha e três pedras de crack. Ele estava acompanhado de outro jovem, que não terá nome citado pois não tem relação com o caso atual.

A diretora do DHPPP informou ainda que já solicitou a ocorrência do momento em que as vítimas foram levadas para o Gerrc. Segundo ela, as investigações do que aconteceu entre a saída deles da unidade policial, até os corpos serem encontrados já estão em andamento.

"Já solicitamos essa ocorrência. Todas as peças que foram produzidas no Gerrc já foram encaminhadas aqui para o departamento e já estão à disposição do delegado que está à frente do cargo. Eles realmente foram apresentados, foram ouvidos e liberados. É lógico que a gente vai tentar buscar esse caminho", disse.

"Qual foi o caminho? Qual foi esse laço temporal da saída deles até o momento em que os corpos foram localizados? Vamos traçar esse caminho por onde eles percorreram, qual trajeto eles fizeram, de algum veículo que eles possam ter adentrado, dos autores, de que forma eles possam ter sido abordados após a saída da unidade policial".

Andréa informou também que todas as informações que já são de conhecimento da polícia serão colocadas nos autos e que os familiares das vítimas já foram intimados a prestar depoimento, para ajudar nas investigação.

"Todas as informações serão trazidas as autos, principalmente a partir do momento em que a gente puder ouvir os familiares, que já foram intimados por nossas equipes. Buscamos também imagens que possam nos ajudar a identificar a autoria do crime. O nosso serviço de inteligência também já está trabalhando no caso e todos os recursos já estão disponibilizados para que a gente possa confirmar as informações e trazer para as investigações e para o nosso inquérito policial".

Nesta terça-feira, cerca de 50 pessoas se manifestaram contra a morte dos jovens, na frente do Elevador Lacerda. O protesto foi pacífico e terminou por volta das 14h30.

Caso

Jamilton e Jorge Luís moravam na Barroquinha, região do Centro Histórico da capital. Eles saíram no domingo (19) para ir à praia, quando foram abordados por policiais militares. Os dois foram levados para o Gerrc e depois desapareceram.

Os corpos dos jovens só foram encontrados na segunda-feira (20), pela manhã, na BR-324. Inicialmente, a informação era que as vítimas estavam em Valéria, que também fica às margens da rodovia.

As famílias contaram que os rapazes foram confundidos com assaltantes de ônibus. Eles teriam sido liberados entre as 15h e 17h, mas não foram mais vistos com vida desde então. Por causa das mortes, os moradores da Barroquinha fizeram um protesto na manhã de segunda.

Exaltados, eles foram contidos pela PM, que usou spray de pimenta e balas de borracha. Quatro pessoas – dois homens e duas mulheres – foram detidos pelos policiais. Por causa da movimentação no bairro, os coletivos pararam de circular no local.

Em nota, a Policia Militar informou que policiais militares da Operação Gêmeos realizavam rondas no na região do Comércio quando abordaram os dois rapazes e levaram para o Grupamento Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc).

De acordo com a corporação, um deles foi reconhecido pelo cobrador do ônibus como autor do roubo. A PM não respondeu sobre o desaparecimento dos jovens.

Fonte: G1

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