O presidente Jair Bolsonaro aproveitou a solenidade de assinatura do decreto que institui o Sistema de Integridade Pública do Poder Executivo Federal nesta terça-feira (27/7) para fazer defesa de seu governo. O mandatário voltou a afirmar que está há dois anos e meio sem acusações de corrupção. O chefe do Executivo ainda se justificou indiretamente sobre a aliança agora fortalecida com o Centrão e alegou que, no começo do mandato, "abandonou um pouco a questão política", mas viu que era necessário o apoio do Congresso. Com isso, segundo ele, o governo foi se "moldando".

"Em 2018, numa campanha modesta, num primeiro momento sozinho, mas acreditando em Deus e na potencialidade do seu povo, aconteceu o que ninguém esperava: chegamos ao governo. E tínhamos que fazer algo realmente diferente, mas diferente para melhor. Tive a oportunidade ímpar como chefe do Executivo de escolher o nosso ministério baseado em questões técnicas, pouco políticas, mas era o que podíamos e tínhamos que fazer naquele momento. Compusemos um time de ministros nunca visto em outros governos. Abandonamos um pouco a questão política, mas vimos que era necessário, cada vez mais, buscar o apoio e o entendimento do parlamento. Fomos nos moldando, mas, desde o início, aquela bandeira que foi de todos os outros que me antecederam, que não foi diferente da minha, nós pusemos em prática: o efetivo combate à corrupção", apontou.

"Hoje podemos falar disso porque estamos há dois anos e meio do início do nosso governo sem uma mácula sequer sobre corrupção, demonstrando na prática como poderíamos mudar o Brasil. Antes de nós, os bancos e estatais davam prejuízo de dezenas de bilhões, conosco passaram a ter lucro. Podemos citar alguns casos práticos como o nosso BNDES, como era utilizado no passado e como é utilizado nos dias de hoje sob comando do (ministro da Economia, Paulo) Guedes. Também a nossa Caixa, em dois anos tivemos muito mais lucro que os 10 anos que nos antecederam, o mesmo com o Banco do Brasil", acrescentou.

Bolsonaro continuou destacando que o governo não possui qualquer acusação de corrupção. Apesar disso, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid investiga casos de corrupção envolvendo o Ministério da Saúde do governo. O senador Ciro Nogueira (PP-PI), escolhido como chefe da Casa Civil também responde na Justiça. O parlamentar é investigado em três inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Em dois deles, o Ministério Público Federal já ofereceu denúncia, mas ainda não foram aceitas pela Corte. As investigações correm no âmbito da Lava-Jato, e ele é acusado de receber e pagar propina.

"Dois anos e meio sem qualquer acusação de corrupção, realmente é uma coisa fantástica. Mas nós não consideramos isso virtude, é uma obrigação, é o mínimo que podemos fazer para com nossa população. Vamos nos mantendo nessa posição, que só assim podemos, de fato, mais que sonhar, ter a certeza que teremos um Brasil melhor para todos nós. E todos nós sabemos o que queremos".

Hoje, a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar suspeita de pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina, que teria sido solicitado pelo ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias. A denúncia foi feita pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que disse à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, no Senado, que recebeu pedido de propina de Dias ao tentar vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, no dia 25 de fevereiro.

Eleições 2022

Por fim, o presidente citou países vizinhos como exemplos a não serem seguidos pelo Brasil e também deu recado velado sobre as eleições de 2022 e sobre o projeto de voto impresso que o governo pretende aprovar. "Volvemos o nosso olhar para países outros da América, para onde eles foram e por que essa população está perdendo. Está perdendo algo muito, mas muito mais caro do que seu patrimônio, estão perdendo a sua liberdade. O que nós todos aqui, pessoas realmente que estão engajadas no futuro da nossa nação, nós não podemos lá na frente olhar para trás e nos perguntar: 'Como pudemos errar tendo tudo em nossas mãos?' Acredito no povo brasileiro, acredito em todos aqui presentes que nós faremos mais que diferente, faremos aquilo que todos esperavam do Brasil, um país próspero, livre e realmente um país de primeiro mundo", concluiu.

Ontem, em entrevista à Rádio Arapuan, o chefe do Executivo relatou que, caso cortasse relação com deputados e senadores que respondem a inquéritos, "perderia metade do parlamento". Ele usou um exemplo pessoal para sustentar o argumento, relatando que também é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em um processo que responde por ofensas à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). “Então não deveria estar aqui também”, alegou na data.

Por Ingrid Soares / Correio Braziliense

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