Após relatos no interior, moradores de Salvador também informaram sentir o tremor de terra na manhã deste domingo, 30. O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) registrou um terremoto de magnitude 3.7, na escala Richter (mR), na cidade de São Miguel das Matas, e dois terremotos de magnitude 4.2 e 3.7 mR, na cidade de Amargosa, ambas no Centro Norte baiano.
Emerson Oliveira, morador do bairro de Garcia, na capital baiana, diz que sentiu o abalo sísmico por volta das 7h40. “Estava dormindo e acordei com a cama tremendo. Achei que fosse minha esposa que levantou e saiu, então continuei na cama. Depois que levantei e pesquisei que percebi que era tremor”, relatou.
A esposa de Emerson que, na hora do tremor estava na cozinha, não chegou a sentir. “Não entendo como ela não sentiu, porque eu cheguei a acordar com a cama tremendo”, acrescentou.
De acordo com o mestre em geologia Henrique Assumpção, os abalos sísmicos estão acontecendo por conta da interferência humana em locais que antes eram ocupados apenas pela natureza, como o crescimento das cidades e a utilização de poços artesianos.
As cidades estão crescendo e a identificação de tremores vai aumentando. As pessoas estão ocupando espaços que os tremores já acontecia. A própria população também pode dar essa consequência dos tremores", pontua o geólogo.
Henrique explica que isso acontece, principalmente, pela utilização dos poços artesianos, que retira água da terra e, consequentemente, deixam um espaço vazio.
"Esse tremor é devido a acomodação de terra, ou seja, quando a terra colapsa no subterrâneo. No recôncavo temos rochas, chamadas de rochas sedimentares, que são arenosas. Esse tipo de situação se tem rios subterrâneos, chamados de aquíferos, que são utilizados para abastecimento de água com os poços artesianos. Devido esse rebaixamento do nível de água do aquífero, vai criando este vazio nas regiões. Vai chegar o momento que todas as extensões nesta terra vão colapsar de forma rápida e gerar este abalo sísmico", constata o geólogo.
O geólogo Henrique Assumpção também explica que os casos que estão acontecendo na Bahia não podem ser chamados de terremoto, pois não envolvem atritos entre placas tectônicas.
Distante 18km do Garcia, a jornalista e digital influencer Ana Letícia também relatou que sentiu os tremores de terra no bairro do Trobogy, onde mora. Ana sentiu dois tremores no bairro, o primeiro mais leve e depois um mais intenso.
“Estava deitada e senti um primeiro tremor. Depois de novo e continuou”, contou Ana, que alegou não ter associado o abalo a um tremor na terra, e sim às obras que acontecem na vizinhança.
Segundo o médico Anderson Vinícius, que no momento do tremor estava chegando no plantão no Hospital Português, no bairro da Barra, ele chegou a sentir o abalo por cerca de cinco segundos.
“Foi muito brusco e durou menos de 5 segundos. Achei que estava com sono demais pois estava chegando no plantão”, comenta.
Médico Anderson Vinícius estava chegando no plantão quando sentiu o tremor |
Nas redes sociais, moradores da capital baiana também relataram sentir o tremor de terra na cidade. “Alguém de Salvador sentiu o tremor? Porque eu tava acabando de acordar quando senti a casa tremer (por uns 2 segundos no máximo) e achei que estava doida”, relatou uma moradora no Twitter.
Segundo relatos, obtidos via Cidadão Repórter, o abalo sísmico também foi sentido nos bairros de Pernambués, Cabula VI, Mata Escura, Caixa D’Água, Itapuã, Engenho Velho da Federação, Ondina, Brotas, Cajazeiras, Imbuí e Ribeira.
Interior da Bahia
Além da capital, diversas cidades do interior baiano sentiram o abalo sísmico na manhã deste domingo. Moradores de cidades do Recôncavo, como Vale do Jiquiriça, Muritiba e Santo Antônio de Jesus, São Félix, Cachoeira, e municípios do Baixo Sul baiano, como Gandu, Valença, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Amargosa e São Miguel das Matas informaram sobre o tremor de terra.
Centro de Sismologia da USP registrou abalo de 3.7 mR em São Miguel das Matas |
"Estou em Jiquiriça e, assim, geralmente, quando tem estes tremores de terra só as coisas mexem, como vidro. Desta vez a gente tremeu junto", relatou Nayre Rocha, moradora do Vale do Jiquiriça, no Recôncavo.
Moradora do povoado de Fátima, em São Miguel das Matas, Rayane Barboza relatou que estava dormindo e acordou assustada quando começaram os tremores de terra. As outras seis pessoas que estavam na casa junto com ela também acordaram.
"Durou menos de um minuto. Primeiro vibrou mais leve, depois ficou forte e voltou a vibrar mais leve de novo. Primeiro eu pensei que tava sonhando, depois fiquei muito assustada", disse Rayane.
Ainda conforme Rayane, meia hora depois do primeiro tremor eles chegaram a ouvir um estrondo. "Não sentimos, foi auditivo mesmo".
O tremor também foi sentido na cidade de Valença, no Sul da Bahia. Segundo o morador da região Magno Jouber, o tremor aconteceu na cidade por volta das 8h e durou cerca de 10 segundos. "Estava sentado no sofá e de repente o gesso que tem no teto balançou e ouvi um barulho muito forte. Cheguei a pensar que era um caminhão passando na rua, mas depois fiquei sabendo do tremor".
Henrique alega que não é preciso que os moradores fiquem preocupados com os tremores que os tremores podem parar ou diminuir de magnitude.
"O que está acontecendo agora é que a terra está se acomodando. Para chegar no nível 4.2 na escala Richter é porque está perto de se acomodar completamente. Fora que estes abalos raramente chegam ao ponto de extrapolar e chegar ao nível 5", finaliza o geólogo.
"Recebi os dados sismograficos da USP, mostrando que o epicentro foi a 10 km de profundidade, o que indica que pode ser também que tenha alguma influência das falhas geológicas que temos nessa região. E deve ter acontecido algum pequeno deslocamento nas falhas, que fez com que a energia se dissipasse em forma de tremor", acrescenta.
Caso em Cachoeira e São Félix
No dia 19 deste mês, o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) confirmou que realmente ocorreu um tremor de terra, no Recôncavo Baiano. De acordo com o grupo de pesquisa da instituição, ocorreu um pequeno sismo na região de São Félix.
Ainda conforme o centro, ele aconteceu às 18h51, e teve magnitude de 1.6 mR. O grupo explicou, na época, que tremores pequenos são relativamente comuns no Brasil e podem ocorrer em qualquer lugar. Normalmente, não trazem nenhum perigo, a não ser susto à população.
Casos no Nordeste
Segundo o Laboratório de Sismologia (Labsis), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), diversos outros tremores foram registrados em cidades do Nordeste brasileiro nas últimas semanas.
Um tremor de terra de magnitude 2.2 mR foi registrado na região de Pedra Preta, no Rio Grande do Norte, por volta das 5h20 do último sábado, 29. Já na quinta-feira, 27, o laboratório registrou quatro tremores de terra, com média de magnitude de 1.8 mR, no município de Caruaru, em Pernambuco.
Um tremor de magnitude 1.6 mR também foi registrado na madrugada da última quarta-feira, 26, na região da Serra da Meruoca, no Ceará.
Por Victor Rosa