Empreendedores que criam negócios em momento de crise precisam estar atentos aos riscos e oportunidades.
Segundo dados do Ministério da Economia, entre 31 de março e 1º de agosto, foram criadas quase 680 mil novas empresas no Brasil.
A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus está provocando um crescimento do número de novos negócios formais criados no país. Esse fenômeno é resultado da busca, cada vez maior, de pessoas que se viram desempregadas e que, por não conseguirem se reinserir no mercado de trabalho, enxergaram no empreendedorismo uma alternativa para gerar renda. Dados do Ministério da Economia mostram que entre 31/03 e 01/08, foram registrados (criados) 593.577 microempreendedores individuais (MEI) e 85.036 Micro e Pequenas Empresas.
A maior parte desses novos empreendedores busca se estabelecer no setor de serviços. A razão disso é o baixo investimento inicial. Enquanto um empresário que resolve abrir um pequeno negócio no segmento da indústria ou comércio vai precisar de capital inicial para a compra de máquinas, insumos e possivelmente do aluguel de um espaço físico, nas atividades de serviços, essa demanda é mínima ou até inexistente. Um empreendedor que resolva abrir um negócio de “marido de aluguel”, por exemplo, precisa apenas de um celular e uma caixa de ferramentas para começar a trabalhar.
Segundo o gerente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae, Enio Pinto, nesse contexto em que as pessoas abrem o próprio negócio motivadas pela necessidade, é importante que esses novos empreendedores estejam atentos à necessidade de se qualificarem para a gestão da empresa. “Normalmente, as pessoas que empreendem em razão do desemprego não se preparam adequadamente e têm um sério risco de atravessar problemas na administração do negócio no futuro”, comenta Enio. Para essas pessoas, o gerente do Sebrae lembra que a instituição oferece um universo de cursos que podem ser feitos à distância (até mesmo pelo WhatsApp) e sem nenhum custo.
“Antes de abrir o próprio negócio, esse potencial empreendedor precisa ter em mente que as empresas existem, fundamentalmente, para oferecer soluções aos problemas que as pessoas enfrentam no seu dia a dia”, lembra Enio Pinto. E no ambiente de profundas transformações dos hábitos de consumo e de vida que as pessoas experimentaram nos últimos meses, o gerente do Sebrae reforça que os futuros empresários que planejam abrir suas empresas precisam avaliar se o serviço que eles pretendem oferecer continuará sendo demandado do mesmo modo, após a pandemia.
É o caso, segundo Enio Pinto, do segmento de alimentação fora do lar. “Esse período de isolamento social está fazendo com que muitas empresas passem a adotar - permanentemente - o modelo de home office. Isso vai diminuir o fluxo de pessoas nos centros comerciais. Ao mesmo tempo, por conta dos cuidados com higiene, muitos consumidores vão preferir levar o próprio alimento de casa para o trabalho”, alerta. Com isso, é possível – avalia Enio – que a ideia de abrir um quiosque para lanches em um centro comercial, não seja mais uma ideia viável (considerando os custos fixos que essa empresa teria).
Transformações da pandemia
De acordo com o gerente de Relacionamento com o Cliente do Sebrae, a quarentena imposta pela pandemia está deixando pelo menos quatro legados muito fortes para as empresas. O primeiro é o cuidado com a higiene, aspecto fundamental para quem já está no mercado ou planeja abrir agora o próprio negócio. A segunda grande transformação é que as pessoas vão evitar, pelo menos até que surja uma vacina eficaz, os espaços com grandes aglomerações, o que deve gerar necessidades de adaptação para as empresas que atuam em áreas de grande concentração comercial.
O terceiro legado da pandemia é que as pessoas estão mais autônomas e independentes. Muita gente descobriu, por exemplo, que é capaz de cozinhar e que pode continuar assim. Por fim, uma das mais importantes mudanças geradas pela crise foi a aceleração da transformação digital. As empresas que estão surgindo agora já precisam nascer preparadas para fazer negócio nesse ambiente. Isso significa estar presente nas redes sociais, ter uma loja online, atuar no Market Place e aplicativos e atender o público pelo WhatsApp. “Não é mais possível para um empreendedor ignorar o ambiente virtual", sentencia Enio Pinto.
Dicas para quem quer empreender
Um dos principais alertas para os empreendedores que pretendem abrir o próprio negócio neste momento de crise é avaliar criteriosamente a estrutura da empresa. Em um contexto ainda fortemente marcado pela retração do consumo, as micro e pequenas empresas precisam ser muito “enxutas”. Todo custo que não agrega valor ao cliente deve ser eliminado. É fundamental também que o empreendedor trabalhe com o conceito de omnichannel. Em outras palavras, isso significa que todos os canais da empresa devem atuar em perfeita sintonia e articulação.
Os potenciais empresários precisam ainda estar sintonizados ainda com as tendências de consumo mais presentes no momento de pandemia. Quem pretende abrir uma empresa deve observar que os conceitos de saúde, vida saudável, vida ao ar livre, bem-estar, nunca estiveram tão em alta. “As pessoas estão dispostas a consumir serviços que agreguem qualidade de vida”, destaca Enio Pinto.
Por fim, o gerente de Atendimento ao Cliente do Sebrae, Enio Pinto, aponta três dicas que podem orientar o potencial empreendedor no momento de escolher um segmento de atuação:
1. Faça uma relação das atividades que você gosta de fazer
2. Escolha aquelas em que você tem um desempenho acima da média
3. Observe se essa atividade onde gosta de atuar e na qual tem um excelente desempenho vai ao encontro das necessidades das outras pessoas. Ou, em outras palavras, as pessoas estariam interessadas a pagar por esse serviço?
Sebrae
Foto: divulgação