Na última semana, muito se falou nas redes sociais sobre a atriz Camila Pitanga e a filha dela terem sido diagnosticadas com malária, doença infecciosa transmitida por mosquitos infectados pelo parasita Plasmodium. O que muita gente não sabe é que a doença é, talvez, mais comum do que se imagina, principalmente na chamada Região Amazônica no país, sendo ainda um importante problema de saúde pública no país.

Na Bahia, de acordo com dados coletados pelo BNews no Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, aliado aos números mais recentes para a doença divulgados pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), entre 2014 e 2020 (até junho), foram registrados 145 internações por causa da doença, o que corresponde a uma média de dois casos a cada mês atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Para o biomédico e sanitarista do Programa Estadual de Controle da Malária da Sesab, Gabriel Muricy Cunha, “apesar de o estado da Bahia não estar na área endêmica para malária, existe o risco de ocorrência de casos importados, com local de infecção em outros estados, sobretudo oriundos da Região Amazônica e/ou dos países africanos”.

Em conversa com o BNews, Gabriel disse que a Bahia “é um território receptivo à circulação do Plasmodium, que é o agente da malária”. Isso acontece, segundo ele, porque o estado possui uma ampla “dispersão de espécie de mosquitos competentes à transmissão da doença”, o que pode levar à ocorrência de surtos e epidemias.

Ao analisar os dados coletados do Sinan, o BNews detectou que, em 2018, houve uma acentuação da curva de crescimento nos casos de malária no estado, causada por uma alta de internações no município de Wenceslau Guimarães. Gabriel explicou que o aumento se deve a um surto de malária na zona rural da cidade, ocorrido em janeiro daquele ano. “A investigação epidemiológica demonstrou a relação com caso índice importado do estado do Pará”, disse.

Atrás de Wenceslau Guimarães, os dados do Sinan apontam os municípios de Salvador, Porto Seguro, São Francisco do Conde e Feira de Santana. Já Vitória da Conquista, Valença, Santo Amaro, Ourolândia e Nova Viçosa têm os menores índices do estado.

Transmissão importada
Como aconteceu em Wenceslau Guimarães, os casos mais comuns de malária na Bahia se tratam de importação, quando uma pessoa chega ou retorna ao estado já portando a doença e o agente transmissor. E, por ser uma região receptiva, como bem explicou Gabriel Muricy, há risco de que outros mosquitos piquem o doente, adquiram o parasita e transmitam ele em outras picadas.

Em Wenceslau Guimarães, o especialista em malária afirmou que se tratou de um “indivíduo, natural do município, com histórico de trabalho rural do estado do Pará, retornou à cidade em dezembro de 2017, portando o parasita Plasmodium vivax, ocasionando a infecção dos mosquitos do gênero Anopheles (existentes na área rural de Wenceslau Guimarães), a transmissão do parasita no local,  e, consequentemente, a ocorrência de surto do agravo (ocorrência de casos autóctones)”.

Em 2018, a cidade registrou, segundo dados do Sinan, 88 casos da doença, o que representa uma média mensal de 7 internações a cada mês daquele ano. Ao saber da alta de malária na região, a Sesab coordenou as ações de investigação epidemiológica, delimitação da área com transmissão ativa e controle do surto.

O especialista destacou que, ao identificar a causa do surto, que, neste caso específico, foi uma importação, é necessário se realizar alguns procedimentos. “A malária tem, pelo menos, quatro parasitas, sendo que no Brasil são dois os mais comuns: o Plasmodium Vivax, responsável por cerca de 80% dos casos no país, e o Plasmodium Falciparum, que é, porém, mais agressivo”.

Após detectado o tipo de parasita responsável pelo caso de malária, o tratamento deve ser iniciado imediatamente. Segundo Gabriel Muricy, apesar de mais comum, o Vivax é mais trabalhoso no tratamento e, portanto, na cura da doença, sendo, por isso, mais importante se ter o diagnóstico rápido.

“É importante um diagnóstico preciso e a comunicação com o estado para que seja dado o tratamento adequado”, disse. Além disso, de acordo com o sanitarista, toda pessoa que teve febre e retornou de um lugar considerado endêmico deve ser tratada como um caso suspeito de malária, devendo buscar o diagnóstico e, caso confirmado, o tratamento.

O pesquisador também contou ao BNews que, atualmente, a Sesab “gerencia insumos estratégicos como testes rápidos para diagnóstico de casos suspeitos, medicamentos anti-maláricos e inseticidas de uso em saúde pública”.

A secretaria também “coordena a rede de laboratórios de saúde pública, realizando o controle de qualidade das análises laboratoriais para diagnóstico da malária, por meio do método de Gota Espessa (considerado padrão ouro para diagnóstico da Malária).

Além da gestão de controle da malária, por meio do acompanhamento de casos suspeitos, realização de testes rápidos, a Sesab também é responsável pelos inseticidas utilizados no controle da doença. “É diferente daquele usado nos casos de arboviroses, por exemplo”, explicou Gabriel Muricy. Por fim, o especialista ressaltou a importância de, em qualquer sinal, mesmo que mínimo, da doença, é necessário que se busque o órgão de saúde competente, já que todo o tratamento é custeado pela rede pública de saúde, por meio do SUS.

“Para prevenir casos é complicado, porque não dá para controlar o fluxo de pessoas. Precisamos manter as equipes de saúde sensíveis aos casos de pessoas que têm febre e viajaram para área de risco”, concluiu.

BNews 

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