Em entrevista a ÉPOCA, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou que espera concluir aplicação em voluntários até setembro
Nos últimos cinco dias, a plataforma de triagem para os testes clínicos da vacina chinesa contra a Covid-19, conduzidos pelo Instituto Butantan, registrou quase 1 milhão de candidatos. A aplicação em voluntários começa já na segunda-feira (20). Entretanto, as inscrições permanecem abertas até se chegar aos 9 mil selecionados previstos nesta etapa de testes da vacina produzida pela empresa Sinovac, da China. Em entrevista a ÉPOCA, o hematologista Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou que espera concluir a aplicação das vacinas nos voluntários até setembro e demonstrou otimismo em relação ao prazo de conclusão da fase de testes. “Seria muito oportuno encerrar essa etapa até o final deste ano”, disse Covas.
O Instituto Butantan é o responsável pelos testes no Brasil da vacina desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac. Qual é o estágio atual desse processo?
Estamos no início da fase três, que efetivamente começa na segunda-feira com a vacinação dos primeiros voluntários. Esperamos concluir essa fase muito rapidamente. Queremos vacinar até setembro todos os 9 mil voluntários. A partir daí, passamos para a fase de acompanhamento, que significa avaliar periodicamente os dados da eficácia da vacina. Essa fase deve ocorrer ainda este ano. Estamos otimistas em relação ao prazo. Seria muito oportuno encerrar essa etapa até o final deste ano. E, no início do próximo ano, a vacina começaria a ser distribuída.
O Butantan contabilizou 600 mil acessos em 24 horas na plataforma digital criada para a inscrição de voluntários. Como é esse processo?
Ainda não são inscrições propriamente ditas, mas candidaturas. O aplicativo foi desenhado para a pessoa entrar e responder a algumas questões. No final, o programa conclui se ela é elegível ou não. Sendo elegível, será direcionada a procurar um centro de pesquisa para, de fato, submeter a sua inscrição. Em cinco dias, quase 1 milhão de pessoas já se candidataram. Quantos efetivamente foram direcionados ao centro, ainda não sabemos.
O interesse dos potenciais voluntários surpreendeu a equipe do Butantan?
A gente sempre espera que haja um interesse muito grande, mas essa dimensão realmente chamou a atenção. Isso mostra como a Covid-19 está sendo percebida como grave pela população. E a solução é a vacina. Enquanto não houver vacina, ainda vamos conviver com essa pandemia.
Todos os interessados que acessaram a plataforma são profissionais de saúde?
Não. Mas vamos selecionar profissionais de saúde. No questionário apresentado aos interessados estão perguntas relacionadas à profissão. Se é da área de saúde, se lida com a Covid-19.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan Foto: Divulgação |
O medo do coronavírus é o que atraiu tantos potenciais voluntários nesse primeiro momento?
Todos gostariam de se submeter a uma vacina mesmo que ela não tenha sido aprovada em definitivo. O medo das pessoas é muito grande e justificável. Eu mesmo declarei que sou candidato. Sem dúvidas, isso reflete a preocupação do momento.
Algum outro teste anterior, relacionado a outras vacinas, despertou tanto interesse da população?
O último grande estudo que nós fizemos foi sobre a vacina da dengue, que terminou no ano passado. Não sei dizer com precisão, mas foi um número bem menor. Mesmo porque, apesar de a dengue ser um grande problema, não tem a dimensão do coronavírus. Todo ano nós temos muitos casos de dengue e, de certa forma, a população já se acostumou a conviver com isso. Mas, mesmo assim, muitas pessoas continuam não tomam as providências necessárias. E o mosquito continua proliferando.
O teste com voluntários começa já na segunda. Isso significa que as inscrições estão encerradas?
Não. As inscrições só vão se encerrar quando o número de 9 mil voluntários for alcançado. Os interessados ainda podem acessar a plataforma. O processo ainda está aberto, mesmo com a aplicação das primeiras doses da vacina a partir de segunda-feira. Vamos começar por São Paulo e, progressivamente, estender aos outros centros que participam da fase de testes. Cada selecionado receberá uma vacina aleatória, que pode ser a desenvolvida pela Sinovac ou apenas um placebo.
Tendo a eficácia da vacina comprovada, qual será a produção prevista?
No Brasil, até 100 milhões de doses. Mas, enquanto não houver uma produção local, vamos receber da Sinovac a vacina a granel para ser formulada e envasada aqui no Butantan. Será finalizada aqui.
Revista Época