Óleo ainda é resíduo de substância que atingiu as praias em 2019
São sete meses desde que o petróleo cru começou a manchar as praias do litoral nordestino. Tanto tempo depois, o desastre ambiental ainda está longe de terminar. Nesse domingo (8), cerca de 5 toneladas da substância foram retiradas da praia de Itacimirim, no litoral da Bahia. O trabalho de limpeza foi realizado através de um mutirão organizado por voluntários.
O grupo Guardiões do Litoral trabalha voluntariamente no combate aos impactos provocados pelo óleo cru desde que as primeiras manchas começaram a aparecer. Ao todo, 80 voluntários se revezam em monitoramento e nos mutirões de limpeza. Nos últimos dois finais de semana, o trabalho foi concentrado em Itacimirim. Em três dias de trabalho, incluindo o domingo, os voluntários limparam cerca de 7 toneladas da substância.
“Esse é o mesmo óleo de meses atrás. Não chegou novo, é um óleo que estava camuflado. E agora, por conta das mudanças de maré naturais desse período, a correnteza retira bancos de areia que estavam escondendo esse óleo e a gente consegue fazer a remoção”, explica o biólogo e voluntário do grupo, Mauricio Cardim.
Mauricio acredita que o maior desafio do grupo é seguir engajando voluntários para o trabalho que ainda é necessário. “Temos feito tudo sozinhos neste novo mutirão em Itacimirim. O único órgão que esteve no local foi o Inema, apesar de termos acionado todos os órgãos competentes”, explica. O grupo também encontra vestígios da substância em localidades como Subaúma e Sauípe. Apenas em Salvador, mais de 30 praias são monitoradas pelo grupo.
Procurado, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) informou que a responsabilidade pela retirada do óleo é da Prefeitura de Camaçari, município onde está situada a praia de Itacimirim. Uma equipe do órgão esteve no local apenas para monitorar a situação e deve retornar após o processo de limpeza, para realizar a destinação final do resíduo.
Em nota, a Prefeitura de Camaçari informou que uma equipe da Capitania dos Portos fará uma visita técnica nesta terça-feira (10), acompanhada por agentes da prefeitura, com o objetivo de definir os próximos procedimentos sobre a remoção da substância. A prefeitura disse que "não existe nenhuma recomendação regulamentada dos órgãos ambientais sobre o manejo dos resíduos que ficaram nas pedras, corais ou solidificado na areia. Nossa postura é de cautela nesse procedimento, buscando evitar que o dano ambiental da retirada desses resíduos nas pedras e corais seja maior".
Óleo antigo
Um dos pesquisadores responsáveis por acompanhar os impactos causadas pelo vazamento do óleo nas praias, o professor Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia (Ibio) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), explica que o óleo retirado neste último final de semana não é substância nova e, sim, uma sobra do mesmo resíduo de meses atrás.
“Esse é um óleo de alta densidade, não é um óleo que fica flutuando. Então aquele óleo que chegava à noite era coberto por areia e os voluntários que faziam a limpeza não conseguiam enxergar. Agora as mudanças climáticas naturais do período estão ajudando a encontrar o que estava escondido”, explica.
O professor detalha que, desde que o óleo começou a aparecer, estuda seus impactos ambientais, que seguem acontecendo. “O óleo está aí, esse veneno está ai, já é possível perceber uma diminuição no número de animais vivos nas praias e não há qualquer sinal de recuperação. Esse óleo aparecer só reforça essas conclusões”, acredita o pesquisador, que focou seus estudos nas praias de Itacimirim, Praia do Forte, Guarajuba e Genipabu.
Também monitorando os impactos, a Bahia Pesca realiza coleta de pescado em áreas atingidas pela mancha de óleo. O resultado das análises realizadas na última coleta será divulgado no próximo dia 26 e quatro dias depois, no dia 30, um novo ciclo de coletas será iniciado.
Correio 24 Horas