O PT em Salvador perdeu uma boa oportunidade de não politizar uma tragédia. Ao ingressar com uma ação contra a prefeitura de Salvador e o vice-prefeito Bruno Reis, por distribuir cestas básicas aos alunos da rede municipal de ensino, o diretório local parece não ter seguido o republicanismo presente nas relações entre o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto durante a crise do novo coronavírus. É radicalismo puro e simples, tão criticado pelo PT no bolsonarismo.
A prefeitura consegue facilmente justificar a entrega das cestas básicas. Vivemos em uma situação de calamidade pública na capital baiana, reconhecida pela Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), e medidas como essa são mais que necessárias, sob o risco de famílias em condições de vulnerabilidade social serem afetadas de maneira assustadora pelo fantasma da fome. Não acredito que seja esse o objetivo do PT ao questionar a decisão do prefeito ACM Neto.
O que parece ter acontecido nesse caso foi um palanque precoce por parte do PT. É sabido por todos que Bruno Reis é pré-candidato a prefeito pelo DEM e poderia ser beneficiado pelo pacote de medidas adotado pela prefeitura. No entanto, até aqui, o protagonismo de todo o processo é de Neto. Ele tem anunciado as ações, participado das discussões e mantido uma relação cortês com o governador. Como é esperado, inclusive. Então, personificar em Bruno Reis ou até mesmo no secretário municipal de Educação, Bruno Barral, é rasteiro.
Lógico que o problema da Covid-19 não é justificativa para atuar à margem da lei. Ninguém espera isso. E todos repudiamos. Tanto que essa liberação para que os orçamentos sejam flexibilizados merece muita atenção dos órgãos de controle e também da população. No entanto, nada justifica procurar pelo em ovo para tentar inviabilizar uma virtual candidatura pelo que parece uma birra.
Como nenhum dos caciques petistas se manifestou sobre o tema, parece que o processo foi um voo solo de dirigentes menores do partido. Se esperavam algum tipo de espaço na mídia com a ação judicial, até conseguiram. Difícil é garantir que a avaliação tenha sido positiva. Afinal, a distribuição das cestas básicas é uma agulha no palheiro do iminente caos social vivido agora no país. Politizar isso pode ter sido um tiro no pé.
Por Fernando Duarte