Assustado com repercussão, ele diz estar arrependido por ter feito filmagem

Ele só queria ajudar, mas acabou virando vítima. O rapaz autor do vídeo que mostra um policial militar agredindo um jovem em Paripe no último domingo (2) não está mais ficando em casa após as ameaças indiretas que passou a receber por ter feito a filmagem. Com medo de se identificar, ele deu entrevista ao CORREIO por telefone acompanhado do advogado e de membros do Coletivo de Entidades Negras (CEN), do qual faz parte.

Segundo o rapaz, que é morador da região onde o fato ocorreu, há cinco meses ele também foi abordado de forma truculenta por PMs. “Fui chamado a entrar na viatura, queriam me algemar e me levar. Eu falei para eles que não era ladrão e eles disseram que, se eu não entrasse no carro, iria apanhar igual mala velha. Entrei na viatura sem ser algemado, mas fui com eles e teve troca de tiro lá na área comigo ainda dentro da viatura”, contou. 

Ele diz que a atuação dos policiais no bairro onde nasceu e foi criado sempre foi violenta e que já presenciou outras pessoas sendo abordadas e insultadas por agentes por causa do cabelo e da forma de se vestir.

“Quando a gente fica naquela resenha na rua após as aulas, eles chegam de maneira agressiva e sempre falam do cabelo”, denunciou.

Na situação que conseguiu filmar, flagrou um PM agredindo com murros e depreciando o cabelo black power de um garoto de 16 anos. “Eu vi a ação, achei errado e decidi gravar, mas não achei que teria essa repercussão”, disse. A partir daí, com os compartilhamentos do vídeo nas redes sociais, o rapaz passou a receber ‘recados’ de outros moradores do bairro alertando que sabiam que ele tinha gravado.

O autor da gravação diz que é muito conhecido e querido em Paripe e foi avisado por diversas pessoas da região que os policiais já tinham conhecimento da autoria.

Ameaça

“Eu não posso ficar a mercê do que estão comentando, me disseram para abrir o olho”, afirmou ele, que está sendo acolhido por membros do CEN enquanto teme voltar para casa. O rapaz diz que se arrepende de ter gravado o vídeo porque foi afastado da convívio familiar. “Minha família está horrorizada porque eu nem posso pensar em ir lá. A minha mãe está me perguntando porque eu fiz isso de ter gravado. Estou com medo de que algo aconteça comigo ou com a minha família”, disse.


Conforme informações do Coletivo de Entidades Negras (CEN), a corregedoria da Polícia Militar está sendo acionada pelos advogados da entidade sobre as ameaças. Conselheiro de Direitos Humanos do Estado da Bahia e membro do CEN, Yuri Silva disse à reportagem que também pedirá à Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (SJDHDS) que inclua o autor da filmagem no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos. 

Segundo Yuri, nesta quarta-feira (5), o coletivo fará denúncia do caso junto à Defensoria Pública e também à Corregedoria da Polícia Militar. Advogado do rapaz ameaçado, Marcos Alan Brito disse que o jovem tinha total liberdade para filmar a atuação policial. "É uma atitude pública, de um agente público agindo de forma ilícita em via pública", ressaltou.

Corregedoria da PM vai apurar

Por conta do vídeo, uma nota foi divulgada na segunda-feira pela assessoria da Polícia Militar. Nela, a corporação informou que "não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta". Além disso, confirmou que o vídeo será encaminhado para a Corregedoria-Geral da PM para ser analisado. 

O policial militar filmado agredindo o adolescente de 16 anos já foi afastado das ruas e cumprirá apenas expediente administrativo. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) comunicou ao CORREIO que está buscando informações junto à polícia para se inteirar do caso.

Correio 24 Horas

Receba notícias do Jacobina Notícias pelo nosso Instagram e fique por dentro de tudo! Também basta acessar o canal no Whatsapp e no Google Notícias.

Postagem Anterior Próxima Postagem