Para que este artigo venha com bastante transparência, irei começar falando sobre a campanha política de 2016, quando o ainda candidato a prefeito de Jacobina, Luciano da Locar foi abordado por mim, sob o questionamento de como ficariam as nossas tão abandonadas micaretas. Com a resposta de que elas seriam promovidas em seu governo, sugeri que então confeccionasse um banner prometendo à população que em seu mandato, a cidade teria a tão sonhada festa todos os anos. “Como sei que nossa cidade não possui verba suficiente para eventos faraônicos, resgate a tradição anual, mesmo que seja apenas com atrações locais e logo teremos referências e patrocinadores suficientes para uma micareta nível Feira de Santana” comentei. Visão aceita, banner virtual confeccionado pela sua assessoria. Luciano eleito e, após três anos, apenas uma edição foi realizada (ponto).

Indubitavelmente essa é uma festa que arrasta multidões e, levantando uma pesquisa, seria facilmente verificada uma aprovação por parte da maioria da população. É indiscutível também, o aumento da economia da cidade antes e durante o evento, principalmente para lojas e ambulantes, respectivamente. Ali as pessoas curtem um bom som, uma boa bebida e um bom papo com os amigos. O brilho no olhar do folião, o colorido dos blocos, aquele artista que tanto sonhamos em ver, passando em nossa frente gratuitamente. O beijo na boca, a cerveja gelada e o glamour dos camarotes. A lucratividade das serigrafias, o aluguel de som, palco e trio elétrico, além do que nós da imprensa arrecadamos com publicidade. Se fôssemos elencar aqui as vantagens que traz uma micareta, o artigo se tornaria longo e cansativo. Mas eu te desafio a responder sem pesquisar, o nome de três grandes atrações que tivemos em 2017 (ponto).

Voltando aos dias atuais, abro parênteses para lhe fazer um outro desafio: você já teve a oportunidade de ir em um Happy Hour Motinha Malte, às 18h de uma quinta-feira? Caso não, você precisa conhecer. Como dizem os mais atualizados, a vibe é incrível! Ali as pessoas curtem um bom som, uma boa bebida e um bom papo com os amigos. Eles sabem que estarão ouvindo a última música já combinando que na semana seguinte se encontrarão novamente no mesmo local. Prestigiam, na maioria das vezes, os talentos de Jacobina. Aonde quero chegar com isso? te explicarei nos parágrafos seguintes para mostrar porque HOJE eu sou contra a micareta de Jacobina.

Fazendo uma conta rápida, a festa momesca custa em média aos cofres públicos, o valor de R$ 1,5 milhão (um milhão e quinhentos mil), gastos em três dias de festa. Arrisco dizer que mais de dois terços desse valor são levados por prestadores de serviço de fora (atrações, estrutura, trios, entre outros) e uma semana depois ninguém fala mais do evento. Agora, e se pudéssemos remanejar esse valor de R$ 1,5 milhão para prestadores de serviços locais, não em uma micareta, mas sim durante todo o ano, você consegue imaginar? Caso não, irei ser ousado e imaginar por você, vamos aos números: R$ 28 mil por semana.

Lembra do Motinha Malte com sua vibe incrível? Agora imagine se aquele evento de todas as quintas-feiras fosse municipalizado e abrisse oportunidade para que mais ambulantes pudessem vender seus produtos? Melhor ainda, que essa mesma estrutura fosse montada também todas as sextas-feiras em distritos de Jacobina, aos sábados no Alto da Missão e aos domingos os moradores dos principais bairros da cidade pudessem ir às praças curtir ali um bom som, uma boa bebida e um bom papo com os amigos? 

O artista da terra vê a micareta como uma vitrine, e está corretíssimo! Quem não deseja descer a avenida, em cima de um trio, arrastando a galera? Essa é a parte do amor pela arte, mas vamos falar da parte financeira? É um cachê que servirá para pagar as contas do ano todo? E se nossos talentosos artistas estivessem todos os fins de semana em uma praça da cidade, balançando essa mesma galera? O aluguel de som e palco acontecesse toda semana, assim como a presença dos barraqueiros ganhando seu dinheiro o ano inteiro?

Utopia, não é? Eu sei que é um sonho louco, você sabe e quem ora participa de grupos políticos no poder, que saiu do poder ou que querem entrar no poder, também sabem. Os que tiveram oportunidade não fizeram e os que querem entrar não farão nem a micareta todos os anos, nem as festas de bairros todos os fins de semana. Deixemos a hipocrisia de lado e vamos mostrar que a falta de apoio à cultura é um problema de todas as gestões e siglas partidárias, sejam elas municipais, estaduais ou federais. E não venham me dizer que isso é politicamente favorável, pois Valdice Castro promoveu três edições da micareta e perdeu a eleição. Em Irecê, Sobral realizou quatro grandes festas de São João e não preciso te dizer o resultado. 

A necessidade de um povo perpassa os momentos de festas, mas este artigo foi especificamente sobre elas e sobre pessoas que apenas desejam curtir um bom som, uma boa bebida e um bom papo com os amigos.

“As pessoas inteligentes mudam de ideia constantemente. Isso significa que elas pensam. E quando a gente pensa, novas ideias surgem. Novas opiniões. Diferente daqueles que não mudam nunca de opinião. Aqueles não costumam pensar”. (Sabrina Niehues)

Por Igor Fagner – Jacobina Notícias

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