Conhecido como Setembro Amarelo, o mês é marcado pelo Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, que ocorre nesta terça-feira, 10. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, sendo que mais de 90% dos casos estão associados a distúrbios mentais e podem ser evitados se tratados corretamente.
A estudante de medicina veterinária Luiza Barbosa, de 23 anos, percebeu que tinha algo errado quando estava no ensino médio. Questões familiares, aliadas à pressão do vestibular e à rotina pesada de estudos, trouxeram crises de ansiedade e depressão. "Eu comecei a me isolar, não sentia vontade de sair, nem de fazer as coisas que sempre gostei. Meu irmão me pedia pra sair de casa, pra ver meus amigos, dizia que eu não era assim", conta.
Luiza ressalta que procurou uma psicóloga e começou a fazer terapia mas, depois de um tempo, a situação começou a piorar. "No terceiro ano piorou bastante, e o ápice foi quando precisei ir para casa do meu pai no interior, porque eu estava sobrecarregada e muito triste, queria desistir de tudo. A minha psicóloga pediu para eu descansar, passar uma semana fora e, depois disso, ela foi conversando comigo para eu ir a um psiquiatra, mas eu fui bem resistente na época".
Mesmo reconhecendo que não estava bem, a estudante tinha medo de ir ao psiquiatra, ficar dependente da medicação e nunca melhorar. "Minha psicóloga me explicou que existia um limite e que não poderia me ajudar além disso, porque estava faltando química no meu corpo, a medicação iria complementar isso para ajudar no tratamento psicológico", destacou Luiza.
O apoio do pai foi fundamental para deixar de lado o medo do que os outros iriam pensar. Luiza explica que o início do tratamento com medicação foi difícil, com muito enjoo mas, depois de um tempo, acostumou-se com o medicamento e a melhora foi significativa. O tratamento durou cerca de um ano e meio, quando a psicóloga percebeu a evolução dela e as doses do medicamento foram reduzindo até finalizar o uso.
"Eu aprendi a gostar da minha presença e eu até viajei sozinha, fiquei uma semana sozinha, ia à praia, me curtia e queria estar comigo. Hoje eu sinto a necessidade de estar sozinha, fazer minhas coisas, antigamente eu era muito dependente, só fazia as coisas com outras pessoas. Se eu não consigo companhia, vou sozinha", conta Luiza.
Depressão, transtornos de ansiedade e de personalidade, entre outros, são causados por diversos fatores. "Os transtornos mentais surgem a partir de interrelações dimensionais, complexas, entre características específicas do indivíduo, ambientais e sociais, como fatores biológicos, relacionamentos interpessoais e nível socioeconômico, por exemplo", explica o médico psiquiatra Eduardo Reis.
"Nenhum de nós está livre de desenvolver/evidenciar um transtorno mental ou comportamental em qualquer momento de nossas vidas. É uma tendência crescente. Em alguns países do mundo, os transtornos mentais e comportamentais são os mais prevalentes na população e impactam na qualidade de vida, capacidade laborativa ou produtividade", acrescenta.
Embora o nascimento de um filho seja considerado um dos momentos mais felizes da vida de muitas mulheres, não foi bem assim que aconteceu com a pedagoga Carolina Garrido, de 31 anos. "Fui diagnosticada com depressão pós-parto quando minha filha tinha quatro meses de vida. Eu e o meu esposo sonhamos muito com a chegada da bebê, então nos preparamos bastante pra isso. Mas quando eu recebi ela nos meus braços, não tinha desejo e nem motivação para o cuidado direto com ela. Eu me sentia muito apavorada, angustiada e triste", lembra ela.
Em situação como depressão ou qualquer transtorno mental, é importante que haja o apoio de amigos e familiares junto ao tratamento. "O paciente deve, além de apoio médico e psicológico, ter também uma rede formada, sobretudo, por familiares, que devem ser também orientados pelos profissionais de saúde quando à conduta que deve ser adotada por eles", aponta o especialista.
Carolina também conta que, com o passar do tempo, a situação foi piorando e sua rede de apoio a ajudou bastante. Ela também acrescenta que nunca pensou em fazer nenhuma maldade com a criança, queria apenas ficar longe da filha. "Os dias passaram e eu ainda continuava muito apavorada. Eu tinha muita crise de pânico, tremia, chorava escondida. Cada vez que ela tinha que vir pros meus braços mamar, ou quando eu tinha que ter um cuidado direto com ela, me sentia violentada, era muito invasivo pra mim e eu me sentia exausta".
Ela só procurou ajuda profissional depois que contou a situação ao marido, e ele pediu que ela relatasse o caso para a obstetra, que deu início ao tratamento com terapia e medicação. "É um diagnóstico difícil pra mim, que nunca tive algo assim, nem tem nenhum caso na minha família. Mas descobrir é um alívio, porque você entende que é um problema e não é escolha. O diagnóstico me ajudou a seguir, junto com a medicação, a terapia, atividade física e uma boa alimentação ajudam na superação da depressão", diz Carolina.
Histórias como as de Luiza e Carolina se repetem diariamente no mundo, e iniciativas como o Setembro Amarelo têm como objetivo mostrar que é possível vencer a depressão e outros transtornos que poderiam levar a um suicídio através de informação de qualidade e um tratamento adequado.