A médica cubana Maydelkis Ferrer Guzman decidiu ficar em Jacobina após o fim do programa Mais Médicos |
Cubanos que trabalharam no programa Mais Médicos agora podem pedir autorização pra morar no Brasil. O Ministério da Saúde estima que cerca de 2 mil ficaram no Brasil - uma médica cubana reside em Jacobina e vende churrasquinho enquanto aguarda a realização do Revalida, na expectativa de voltar a exercer a medicina - após o fim do convênio com a Opas, a Organização Pan-Americana de Saúde, em novembro de 2018. Eles escolheram ficar, mesmo sem saber o que seria do futuro.
Osmani Fuentes, que foi para a cidade de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, não conseguiu arrumar outro emprego porque não tinha carteira de trabalho: “Eu cheguei a falar com um monte de pessoas, de loja, de mercadinho, de gari. Você não tem ideia. E eles me falaram: ‘Olha, não tem carteira de trabalho, não pode contratar’".
Para resolver situações como a do Osmani, o governo definiu as regras para que os cubanos que fizeram parte do Mais Médicos possam pedir autorização para morar no Brasil. O objetivo é “atender ao interesse da política migratória do país”.
Para legalizar a situação, o médico cubano deve apresentar um pedido à Polícia Federal e uma série de documentos, entre eles, os comprovantes de que atuou no programa. A autorização vale por um período de dois anos.
O Ministério da Saúde está elaborando um novo programa e discutindo algumas possibilidades, como o retorno dos cubanos para o Sistema Único de Saúde. O governo também quer que eles atuem no Saúde da Família, por pelo menos dois anos, e que, nesse prazo, façam o Revalida, o exame que permite que um diploma obtido no exterior seja reconhecido no Brasil.
Raymel Kessel, médico cubano que hoje tem família brasileira e conseguiu trabalho numa funerária, diz que já está estudando: “O foco agora é estudar, conseguir voltar a trabalhar como médico, para arrumar condição e continuar estudando para me preparar para o exame do Revalida. Objetivo é, seja como seja, mas estudando forte para poder aprovar nesse Revalida”.
Ele tem saudade do lugar onde trabalhou no município de Ilha Grande, no litoral do Piauí: “Do posto, do meu companheiro de trabalho, das pessoas, da população da ilha, de todo mundo. Porque eu fui muito bem acolhido lá”.
Em Belo Horizonte, neste domingo (28), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou que a prioridade do programa é oferecer atendimento a populações mais pobres, em cidades mais distantes: “Cidades que têm o IDH baixo, cidades que estão no semiárido, que estão na Região Norte, que estão no que a gente tem chamado de Brasil profundo. Aonde você tem realmente dificuldade de alocar esses profissionais. Nós vamos para os lugares críticos desse país”.
É tudo o que Osmani quer: “Meu sonho é voltar a trabalhar no programa Mais Médicos ou no SUS. Seja onde for. Rondônia, Amazônia, Salgueiro, onde for”.