A notícia de que a Petrobras aumentaria em 5,7% o preço do óleo diesel a partir desta sexta-feira pegou de surpresa o caminhoneiro Wallace Ladim, conhecido como Chorão. Afinal, para o presidente da Cooperativa dos Transportadores Autônomos do Brasil (BrasCoop), um dos líderes da histórica greve dos caminhoneiros em 2018, era um desfecho que não condizia com os meses de conversas da categoria com os integrantes do Governo Bolsonaro para evitar novos reajustes. O alívio, ainda que com tom de advertência, só veio quando Jair Bolsonaro, ciente da insatisfação, resolveu pressionar a Petrobras e, em poucas horas, determinou o veto ao aumento do combustível.
"Estamos sufocados e vem essa questão de aumento de diesel e gera esse transtorno. Continuamos apoiando o presidente porque ele está em prol da categoria, mas, se em algum momento formos prejudicados e se for necessário uma paralisação, eu serei o primeiro a chamar", disse Ladim. Ele elogiou a conduta de Bolsonaro que, em seus cálculos, é apoiado por 90% dos caminhoneiros. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) também elogiou a decisão de deter o aumento.
A forte interferência de Bolsonaro na política de preços da estatal —uma prática que nega a própria proposta econômica liberal do Governo— e a percepção de que o presidente está "refém" dos caminhoneiros assustou o mercado financeiro. As ações da petroleira despencaram até 8%, fazendo a companhia perder 32 bilhões de reais em valor de mercado.
Após o tombo da Petrobras, Bolsonaro disse que não será intervencionista e tampouco adotará práticas do passado —como a de controle de preços da gestão de Dilma Russeff—, mas quer detalhes de como é calculado o reajuste dos combustíveis e qual o custo de produção. "Terça-feira convoquei todos da Petrobras para me esclarecer por que 5,7% de reajuste, quando a inflação desse ano está projetada para menos de 5%", afirmou o presidente, que voltou a repetir que não entende de economia.
Os caminhoneiros preparam o terreno
Os caminhoneiros, que foram apoiados por Bolsonaro durante a paralisação de 2018, há tempos se preparam para esse novo round com a direção da Petrobras. Antes mesmo da posse do presidente, Ladim afirma já ter começado junto a outras lideranças o contato com membros do Governo para articular uma nova medida para proteger os caminhoneiros da volatilidade dos preços da Petrobras, que, desde meados de 2017, acompanham as oscilações do mercado externo. Para encerrar os protestos do ano passado - que levou a renúncia do então presidente da estatal, Pedro Parente- o Governo de Michel Temer resolveu subsidiar o combustível, mas o programa durou só até o dia 31 de dezembro.
"Há um mês, estive em uma reunião direta com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, onde fomos falar sobre o preço do diesel e também do piso mínimo do frete que não está sendo fiscalizado. Do jeito que estava subindo o combustível todo dia, estávamos igual ou até pior que na época anterior à greve", diz. A categoria pediu então uma ação do Governo, sugerindo inclusive que as elevações fossem mensais. Como resposta, tiveram um novo anúncio da petroleira no fim do março, que decidiu que os preços seriam reajustados, no mínimo, a cada 15 dias. "A situação não foi resolvida, mas eles sinalizaram que estavam tentando resolver o problema. Nós nunca tivemos um diálogo desse em nenhum outro governo, essa porta aberta".
Ladim afirma ter escutado pessoalmente do ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que Bolsonaro olharia a questão com carinho. "O Governo sabe que a gente está insatisfeito e que, se não houver um respaldo, há riscos", pondera. Além da alta do diesel, os caminhoneiros reclamam que as empresas têm descumprido o pagamento do valor mínimo e cobram uma fiscalização mais ostensiva da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Entre os especialistas do setor, há um debate se a fórmula atual da Petrobras, sem nenhum anteparo, é a mais acertada para o Brasil. Há os que defendem que, no lugar da flutuação pura de preços, o valor dos combustíveis não fique muito discrepante do mundial por muito tempo, mas que os reajustes sejam feitos em patamares e com previsibilidade dos critérios.
Fonte: El País
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