Quando o bebê americano Connor Florio nasceu, em 13 de julho do ano passado, os médicos disseram a seus pais, Jaimie e John Florio, que ele talvez não sobrevivesse. Nascido após 26 semanas de gestação, Connor pesava apenas 310 gramas.
"Bebês que nascem com esse peso não costumam sobreviver. Isso é extremamente raro. Ele é um dos menores bebês já nascidos nos Estados Unidos a sobreviver", diz à BBC News Brasil o médico Dennis Davidson, líder da equipe que cuidou de Connor no Hospital Infantil Blythedale, no condado de Westchester, no Estado de Nova York.
Davidson ressalta que um bebê nascido com 26 semanas de gestação e peso normal teria provavelmente entre 80% e 90% de chance de sobreviver. Mas Connor tinha menos da metade do peso apropriado.
"Ele tinha o peso de uma latinha de refrigerante. Seu pai podia literalmente segurá-lo na palma da mão", observa o médico, que é chefe da unidade para bebês do hospital Blythedale, para onde Connor foi transferido aos cinco meses de idade.
Mas na semana passada, depois de passar os primeiros 270 dias de vida hospitalizado, Connor foi para casa pesando quase 5 kg e após uma recuperação que impressionou médicos e enfermeiros. A imprensa americana o batizou de "bebê milagroso".
"Ele é um lutador", resume a mãe, Jaimie, uma professora de educação especial de 29 anos. "Eu sempre digo que Connor é não apenas a menor pessoa que eu conheço, mas também a mais forte. Apesar de ele ter suportado em seus nove meses mais dor do que qualquer bebê deveria suportar, ele sempre continuou a lutar e a superar cada obstáculo, sempre com um sorriso no rosto", diz Jaimie à BBC News Brasil.
Gravidez e nascimento
Jaimie conta que com 19 semanas de gravidez descobriu que Connor estava sofrendo de restrição de crescimento intrauterino e não tinha o peso normal. O bebê não estava recebendo nutrientes suficientes para crescer.
"Não sabíamos o que estava causando o problema. Mas com 26 semanas de gestação, Connor estava cerca de seis semanas atrás em termos de crescimento e não estava recebendo fluxo de sangue adequado pelo cordão umbilical. Os médicos então decidiram que ele teria mais chance de sobreviver fora do útero", relata.
O parto por cesariana foi feito no hospital Westchester Medical Center. Connor foi internado na UTI neonatal no Hospital Infantil Maria Fareri, onde permaneceu até dezembro, quando foi transferido para o Hospital Infantil Blythedale.
Connor foi diagnosticado com displasia broncopulmonar, uma doença pulmonar que afeta prematuros, além de uma leve hemorragia cerebral e outros problemas. Precisava de ajuda de um respirador e de sondas para alimentação. Também sofreu com infecções. Era tão pequeno que era difícil encontrar instrumentos médicos para seu tamanho.
"Dizem que a experiência em uma UTI neonatal é uma montanha-russa, e cada uma das fases baixas dessa experiência foi aterradora. Quando o seu bebê já tem uma chance de sobrevivência pequena, essas fases piores significam que a qualquer segundo você pode perdê-lo", afirma a mãe, ao lembrar dos momentos difíceis passados no hospital.
Jaimie relata que nos primeiros dois meses ela e John, que é professor de Estudos Sociais, estavam fora do trabalho devido às férias escolares de verão no hemisfério norte e podiam passar o tempo todo no hospital. Depois que as aulas recomeçaram, iam para o hospital assim que saíam do trabalho. Quando Connor foi transferido para o Blythedale, ela conseguiu licença para poder ficar o tempo todo com ele.
"Foi difícil praticamente viver dentro de um hospital nos últimos nove meses, mas isso faz com que a volta para casa seja ainda melhor", diz Jaimie da casa da família na cidade de Danbury, no Estado de Connecticut.
Datas especiais
Para alegrar os vários feriados e datas especiais que passaram no hospital, Jaimie e John decoravam o quarto e fantasiavam Connor para festejar. No primeiro, o feriado de Halloween, em outubro, ele era tão pequeno que as fantasias - uma de médico e a outra de super-homem - tiveram de ser compradas em uma loja que vende artigos para ursinhos de pelúcia.
"São lembranças que teríamos se essas datas fossem comemoradas em casa. Então, mesmo não estando em casa, ainda assim são recordações para o futuro. E foi divertido", comenta John.
Depois de sobreviver ao risco de morte inicial, aos cinco meses de idade Connor deixou a UTI neonatal do hospital Maria Fareri e foi transferido para o hospital Blythedale, onde começou seu processo de reabilitação
Connor necessitava de ajuda para respirar e de oxigênio suplementar. Parte de sua alimentação tinha de ser feita por meio de uma sonda que liga o nariz ao estômago. "Também havia preocupação sobre se conseguiria se desenvolver normalmente", recorda o médico Dennis Davidson.
John lembra que o objetivo era trabalhar, entre outros aspectos, no desenvolvimento dos pulmões de Connor e fazer com que ganhasse mais peso antes de ir para casa.
Além de cuidados médicos, ele passou por fisioterapia, terapia ocupacional e terapias para melhorar a alimentação, coordenação, força e linguagem. Connor também participou de uma "escola para bebês" dentro do hospital, onde deixava o isolamento de seu quarto e podia interagir com brinquedos e com outras crianças e desenvolver suas aptidões sociais.
"Ele está muito mais forte (do que quando chegou, em dezembro), sua coordenação melhorou muito e ele está mais sociável", compara Jaimie. "Ele sorri, ri, tenta conversar com as pessoas."
"E ele adora observar pessoas", complementa John. "Ele inclusive teve de mudar de lugar na sala de aula porque estava tão concentrado observando os outros bebês que não queria fazer mais nada."
Volta para casa
Os pais contam que o temor inicial, diante das poucas chances de sobrevivência do bebê, foi sendo substituído pela alegria de ver que Connor estava não apenas sobrevivendo, mas prosperando. "Nós ficamos impressionados com sua força e seu progresso. Nosso orgulho crescia à medida que vários terapeutas comentavam o quão alerta e ativo Connor é", destaca Jaimie.
Ainda no hospital, Jaimie e John também receberam treinamento de enfermeiros para aprender a realizar algumas tarefas necessárias no cuidado de Connor durante o período inicial, após ir para casa, como recolocar a sonda de alimentação e o cateter nasal.
O médico de Connor ressalta a importância que a dedicação e presença constante de Jaimie e John tiveram na recuperação do bebê. "A família esteve extremamente envolvida. Nada supera isso", salienta.
Davidson acredita que em poucas semanas Connor não precisará mais de oxigênio suplementar. Por enquanto, ele segue uma dieta especial que inclui leite materno fortificado, e parte de sua alimentação ainda é por sonda, mas o médico afirma que em breve a sonda não será mais necessária.
Connor ainda é pequeno se comparado a um bebê da mesma idade nascido ao final da gestação e sem problemas de saúde, mas Davidson ressalta que não há nenhuma anormalidade em seus exames neurológicos e calcula que até os três anos de idade Connor já terá alcançado completamente as crianças da mesma idade em termos de desenvolvimento, coordenação motora, aptidões sociais e outros aspectos.
Os pais se dizem aliviados de poder voltar para casa e gratos pelo desfecho feliz. "Eu sempre tentei acreditar que tudo acabaria bem", diz John, ao destacar a coragem e determinação que Connor demonstrou desde o momento em que nasceu. "Eu sentia que ele ficaria bem. Claro que foi assustador quando ele nasceu, mas ele é tudo o que eu esperava e mais um pouco."
Fonte: BBC News Brasil
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