Um jovem de 19 anos morreu na tarde desta quinta (14) após ser imobilizado por um segurança do supermercado Extra na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele era dependente químico e teve um surto, conforme familiares contaram à polícia.
Pedro Henrique Gonzaga foi levado já em parada cardiorrespiratória para o hospital municipal Lourenço Jorge, no mesmo bairro. O Corpo de Bombeiros, que fez o transporte, afirmou que ele estava em "estado vermelho de saúde", ou seja, não estava mais respondendo.
Depois, o rapaz foi ressuscitado, mas teve outras duas paradas e faleceu às 15h10, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e o caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da capital fluminense.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Gonzaga deitado e aparentemente desacordado no chão, com o segurança Davi Ricardo Moreira Amâncio, 32, deitado sobre ele durante no mínimo um minuto. O vigia contesta pedidos de outras pessoas para que ele solte o rapaz.
Assista:
Uma diz: "Está desmaiado, não está, não?". Ele afirma: "Circula, quem sabe sou eu, pô". Outra mulher grita: "Ele tá com a mão roxa". E então o segurança repete diversas vezes: "Você tá mentindo". Há outros funcionários e vários clientes em volta olhando a cena.
Na versão da defesa do vigia, a sequência dos eventos se deu da seguinte forma: o rapaz correu em direção a Amâncio -o que a mãe confirmou a uma das testemunhas que prestou depoimento- e, parando a cerca de dois metros de distância, se jogou no chão e simulou uma convulsão e um desmaio.
"O segurança imediatamente se aproximou, abaixou, botou ele de lado e levantou a cabeça dele, seguindo os procedimentos de primeiros socorros", afirma André Barreto, advogado da empresa Groupe Protection, responsável pela vigilância no supermercado Extra.
Logo depois, o jovem partiu para cima do segurança, pegou a arma na perna dele e começou a ameaçar as pessoas, ainda de acordo com a defesa. Um segundo vigia, Felix (o advogado disse que não sabia o sobrenome de cabeça), chegou e conseguiu tirar a arma de Gonzaga.
O rapaz, no entanto, se voltou novamente para Amâncio e os dois entraram em luta corporal. O vigia o conteve com o corpo. "Não tem mata-leão no vídeo", afirma Barreto. Foi aí que o jovem desmaiou, mas a defesa diz que o segurança achou que ele estava fingindo mais uma vez, por isso teria gritado "você tá mentindo" no vídeo.
De acordo com o depoimento de uma das testemunhas, a mãe do rapaz -que ainda não depôs porque está em estado de choque- confirmou que os dois entraram em luta corporal, mas disse que a arma do vigilante acabou se soltando. Ela mesmo teria chamado outros seguranças para impedir que o filho pegasse o revólver.
O delegado Cassiano Conte, que está cuidando do caso, confirmou que, segundo familiares, Gonzaga era dependente químico e teve um surto. Ele seria internado horas depois em uma clínica em Petrópolis (região metropolitana do Rio), e a família estava no supermercado para comprar mantimentos.
Questionado sobre o que é possível dizer sobre a atuação do segurança até agora, o delegado afirmou por mensagem à reportagem que "ele agiu com excesso na forma de conter a vítima, conduta imprudente". Amâncio foi preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo, com o agravante de "inobservância de regra de profissão".
De acordo com seu advogado, o segurança chegou a acompanhar a vítima até a unidade de saúde e depois ficou detido por cerca de duas horas na delegacia para prestar esclarecimentos. Foi solto após pagar fiança de R$ 10 mil e responderá o processo em liberdade.
Até agora foram ouvidos três funcionários do supermercado, o padrasto e dois amigos da vítima. Outras possíveis provas, os vídeos internos do Extra "são menos esclarecedores do que o que foi divulgado na imprensa", diz o delegado.
O supermercado, que pertence ao Grupo Pão de Açúcar, afirmou em nota que os vigias envolvidos no caso foram afastados definitivamente e que instaurou uma sindicância interna "para acompanhamento junto à empresa de segurança e aos órgãos competentes do andamento das investigações".
Também reiterou que não aceita qualquer ato de violência e que "um grave fato ocorreu na loja do Extra e a rede não vai se eximir das responsabilidades diante do ocorrido, sendo o maior interessado em esclarecer a situação o mais rapidamente possível".
Por fim, acrescentou que, "independentemente do resultado da apuração dos fatos, nada justifica a perda de uma vida e a companhia se solidariza com os familiares e envolvidos". Nas redes sociais, internautas criaram um evento com mais de 2.000 confirmados convocando uma manifestação em frente à loja no próximo domingo (17).
Por Júlia Barbon | Folhapress