Outras catástrofes como a de Brumadinho podem acontecer no Brasil, considerando que quase 10% das 450 barragens localizadas em Minas Gerais não dispõem de condições de segurança satisfatórias, alerta Luiz Jardim Wanderley, especialista em mineração da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Uma barragem da mina de Córrego do Feijão, da mineradora Vale, rompeu na sexta-feira passada, provocando uma verdadeira maré de lama que varreu seu caminho, deixando pelo menos 60 mortos e cerca de 300 desaparecidos.

Em 2015, outra tragédia desse tipo ocorreu em Mariana, a 120 km de Brumadinho, com a ruptura de uma barragem de copropriedade da Vale, que deixou 19 mortos. Também causou um enorme desastre ambiental, com a contaminação do Rio Doce, de 650 km, até o oceano.

P: Como você avalia o risco de uma nova catástrofe como as de Mariana e de Brumadinho?

Resposta: "Muito possivelmente, a gente vai ter outros casos, que poderão não ser dessa magnitude, talvez de magnitude menor, ou de magnitude ainda maior. Aproximadamente 10% das barragens em Minas Gerais não estão com a sua estabilidade garantida, ou não se tem informações suficientes para definir a condição da barragem. Então, temos aí um número razoavelmente grande de barragens em dúvida ou em condições inapropriadas que continuam operando".

P: A que podemos atribuir esses problemas de segurança?

R: "No momento em que os preços das matérias-primas caíram (2015-2016, anos de uma recessão histórica), as empresas fizeram cortes, alguns dos quais atingiram setores como o de segurança e manutenção. É preciso ficar atento à investigação, para saber se a Vale reduziu o controle em suas barragens, mesmo após a catástrofe de Mariana.

No momento, em "Brumadinho, a gente não sabe ainda a extensão da tragédia. A gente sequer tem a extensão da tragédia em Mariana, que aconteceu há três anos e que continua afetando diariamente a vida das pessoas da região do Rio Doce".

P: O que podemos esperar do governo de Jair Bolsonaro em termos de prevenção de riscos?

R: "É um governo que não indica que vai atuar no sentido de maior controle na questão ambiental, de maior cuidado com o comportamento corporativo. Ele vai considerar que as corporações funcionam a priori de maneira responsável e o que a gente vem vendo é o contrário".

Fonte: AFP

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