Os incêndios que atingem o norte e o sul da Califórnia deixaram um rastro de destruição no estado, com ao menos 42 mortos e 228 desaparecidos. Mais de 250 mil pessoas tiveram de deixar suas casas por causa do fogo, que nesta terça-feira (13) entra no sexto dia.

A fuga em massa de milhares de moradores simultaneamente causou grandes engarrafamentos nas pequenas estradas que servem ao interior do estado -ao menos nove pessoas morreram dentro dos veículos, enquanto tentavam escapar das chamas.

Na noite desta segunda-feira (12), três incêndios ocorrem simultaneamente. O mais grave, o Camp, está localizado no norte da Califórnia, e se tornou no domingo (11) o mais mortal da história do estado. Com 29 mortos, igualou marca de 1933.

Ao sul, na região de Los Angeles, ocorrem outros dois incêndios. O Woosley, que deixou dois mortos carbonizados em um carro próximo a Malibu, é o que mais preocupa. O outro é o Hill, que já foi 75% controlado, segundo os bombeiros.

O banco de investimentos Morgan Stanley estima que o fogo tenha causado de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões (R$ 7,5 bilhões a R$ 15 bilhões) em perdas imobiliárias.

Os três incêndios começaram na última quinta-feira (8). O Camp pela manhã, a cerca de 200 km de San Francisco, seguido pelo Hill e pelo Woosley, 650 km ao sul.

A área total consumida pelos três chega a 809 km², equivalente ao município de Campinas (SP). Só o Camp já destruiu 441 km², área similar à de Sorocaba (SP).

A cidade de Paradise foi quase inteiramente consumida pelo fogo, e todos os 27 mil moradores foram retirados.

A prefeita Jody Jones foi uma das pessoas que ficou presa no trânsito durante a fuga em massa, mas conseguiu escapar ilesa para a cidade vizinha de Chico. O trajeto que normalmente dura 20 minutos foi feito em quatro horas.

Jones disse que o grande número de incêndios recentes no estado fizeram a prefeitura planejar uma retirada em massa caso necessário, mas o plano não foi suficiente.

"Não acho que seja possível construir a infraestrutura necessária para fazer a retirada de toda uma cidade tão rapidamente", afirmou ela ao jornal The New York Times.

O maior problema é que apenas uma estrada de quatro vias, a Skyway, liga o município ao restante do estado -situação que se repetiu em Malibu, ao sul, onde pessoas também enfrentaram engarrafamentos. Com isso, o tráfego de carros na rodovia parou e moradores ficaram presos no meio do fogo.

Um cenário semelhante aconteceu em junho de 2017, durante o incêndio que atingiu o vilarejo de Pedrógão Grande, em Portugal, quando diversos carros foram encontrados com os ocupantes carbonizados nas estradas.

Lauri Kester, outra moradora de Paradise, conta que conseguiu escapar por pouco. "Eu tinha carros na minha frente, carros atrás de mim e chamas por todos os lados", disse. Para escapar, Kester seguiu o conselho de um policial e abandonou o carro, fugindo a pé com o cachorro Biscuit no colo.

Outros não tiveram tanta sorte, como Sol Bechtold, que há dias vai de hospital em hospital atrás da mãe, Joanne Caddy, 75. Ela, que não dirige, morava sozinha em uma casa ao norte de Paradise.

"Sua mãe está em algum lugar e você não sabe onde, não sabe se ela está salva", afirmou ele. Até o momento, Joanne segue como uma das 228 pessoas desaparecidas no estado.

O governador da Califórnia, o democrata Jerry Brown, pediu que o presidente Donald Trump declare situação de emergência para ajudar na resposta às vítimas. No sábado (10), o republicano, que frequentemente critica o governo californiano, culpou as ações de reflorestamento do estado.

"Não há motivos para estes incêndios grandes e mortais na Califórnia, exceto que a gestão florestal é muito ruim", escreveu Trump em uma rede social. "Bilhões de dólares são dados a cada ano, com tantas vidas perdidas, tudo por causa da má administração das florestas. Consertem agora ou não acontecerão mais pagamentos do Fed."

Os bombeiros até o momento conseguiram conter 25% do incêndio no norte da Califórnia, que destruiu 6.453 casas e prédios, mas a previsão feita nesta segunda-feira(12) de um aumento dos ventos pode piorar a situação na região.

Apenas 20% contido, o Woolsey também preocupa as autoridades no sul. "A previsão do tempo para a região, com clima seco e fortes ventos, pode contribuir para dificultar o trabalho", disse Ken Pimlott, chefe do departamento estadual de combate a incêndios.

"Estamos realmente apenas no meio deste evento climático prolongado, este cerco de fogo", afirmou Pimlott. "Estamos nisso para o longo prazo."

Palco frequente de incêndios, a Califórnia já viu ser batido neste ano outro recorde, o de maior incêndio da história do estado em área destruída.

Em agosto, o Mendocino Complex atingiu a marca ao devastar 1.858 km², área pouco maior que a da cidade de São Paulo. 

Com informações da Folhapress

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