O cientista chinês que alegou ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados no mundo anunciou que vai fazer uma "pausa" nas suas experiências, após as reações da comunidade científica internacional.

"Vamos realizar uma pausa nos ensaios clínicos, dada a situação atual", declarou He Jiankui durante uma conferência de especialistas em Hong Kong, na qual reiterou a sua declaração de segunda-feira (26), em ser o responsável pelo nascimento de gêmeas cujo DNA foi manipulado para torná-las resistentes ao vírus HIV.

Na mesma conferência, um antigo prêmio Nobel, David Baltimore, afirmou que o trabalho do cientista chinês mostrou uma falha de auto-regulação entre os cientistas.

Baltimore sublinhou que o trabalho de Jiankui "seria considerado irresponsável" porque não atendia a critérios com os quais muitos cientistas concordaram há vários anos, antes que a manipulação genética pudesse sequer ser considerada.

Baltimore adiantou que os membros que formam a comissão da conferência vão reunir-se e divulgar uma declaração na quinta-feira sobre o futuro neste campo científico.

Outro proeminente cientista norte-americano que discursou na conferência, o reitor da Escola de Medicina de Harvard, George Daley, alertou contra uma reação adversa à alegação de He.

Daley argumentou que seria lamentável se um passo em falso com um primeiro caso levasse cientistas e órgãos reguladores a rejeitar o bem que poderia advir da alteração do DNA para tratar ou prevenir doenças.

Ainda não há confirmação independente da alegação do cientista chinês, mas cientistas e reguladores foram rápidos em condenar a experiência como antiética e não-científica. Jiankui disse que as gêmeas nasceram este mês e que foram concebidas para resistir a possíveis futuras infecções pelo vírus da Aids

A Comissão Nacional de Saúde ordenou que as autoridades locais na província chinesa de Guangdong investigassem as ações de He Jiankui, enquanto o seu empregador, a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, anunciou também que abriu um inquérito.

Na segunda-feira, o cientista chinês afirmou ter ajudado a criar os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo, gêmeas cujo DNA He Jiankui disse ter alterado com tecnologia capaz de reescrever o 'mapa da vida'.

O cientista, He Jiankui, da cidade de Shenzhen, disse que alterou os embriões durante os tratamentos de fertilidade de sete casais, tendo resultado numa gravidez até agora. 

Jiankui afirmou que o objetivo não é curar ou prevenir uma doença hereditária, mas tentar criar uma capacidade de resistência a uma possível infecção futura por HIV.

Nos últimos anos, os cientistas descobriram uma maneira relativamente fácil de manipular genes. A ferramenta, chamada de CRISPR-cas9, torna possível alterar o DNA para fornecer um gene necessário ou desativar um que esteja a causar problemas.

Jiankui estudou nas universidades de Rice e Stanford nos Estados Unidos antes de regressar à terra natal para abrir um laboratório na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, em Shenzhen, onde também tem duas empresas de genética.

Um cientista norte-americano garantiu ter trabalhado com Jiankui nesse projeto. Trata-se de um professor de física e bioengenharia, Michael Deem, que foi seu conselheiro na Universidade de Rice, em Houston. Deem também detém "uma pequena participação" nas duas empresas de Jiankui, disse.

Todos os homens do projeto tinham HIV, enquanto que todas as mulheres não, mas a manipulação genética não visava evitar o pequeno risco de transmissão, explicou. 

Com informações da Lusa

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