Apesar da greve dos servidores municipais, prevista para começar na próxima segunda-feira, mesmo dia do início da campanha vacinação contra poliomielite e sarampo, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) garante que todos os postos vão abrir normalmente. O Sindicato dos Servidores da Prefeitura do Salvador (Sindseps) avalia que a ação pode ser prejudicada pela paralisação.
"No momento em que 70% dos servidores não vão trabalhar, vai ter um prejuízo de, no mínimo, 70%", afirma o coordenador do Sindseps, Bruno Carianha. Ele ainda reclama que a prefeitura não dialogou com a categoria sobre a campanha.
Com o início da campanha, que segue até o dia 31 deste mês, a recomendação do Ministério da Saúde (MS) é que todas as crianças de 1 ano a menores de 5 anos devem ser vacinadas.
Em todo o País, 11,2 milhões de crianças devem ser imunizadas. Na Bahia, o público-alvo é formado por 849 mil crianças. Em Salvador, são cerca de 134 mil.
A meta é vacinar, pelo menos, 95% das crianças para diminuir a possibilidade de retorno da pólio e reemergência do sarampo. Uma tendência de diminuição na cobertura vacinal tem sido observada pelo poder público.
Até 2015, a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) conseguia atingir a meta de vacinar 95% do público-alvo, em 2016 esse número caiu para 84%. Em 2017, 78%. Já no caso do sarampo, até 2016, o percentual de 95% foi atingido, em 2017 ficou em 85%.
Para o coordenador do programa estadual de imunizações, Ramon Saavedra, a situação é preocupante. "O mecanismo de intervenção e maior prevenção é a vacina. A poliomielite está eliminada no País, mas o sarampo está circulando devido à importação no vírus. E, com o fluxo das pessoas, essa doença pode chegar à Bahia facilmente", salienta.
Atualmente, o Brasil enfrenta dois surtos de sarampo: em Roraima e no Amazonas. Além disso, alguns casos isolados foram identificados nos estados de Rio de Janeiro, com 14 casos, Rio Grande do Sul, com 13, Pará, 2, Rondônia, 1, e São Paulo, 1. O reaparecimento da doença está relacionado às baixas coberturas e a presença de venezuelanos no País.
Para Ramon, a falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar é um dos motivos do índice de vacinação ter diminuído com os anos. "A população não convive mais com a doença, não vê mais crianças com paralisia infantil. A mesma coisa com sarampo. Antigamente, acontecia com frequência em escolas e creches, hoje em dia está mais distante. Se isso não acontece tanto hoje, é por conta da vacina. Não podemos baixar a guarda para esse tipo de situação", completa o coordenador.
O Brasil está livre da poliomielite desde 1990. Em 1994, o País recebeu, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a Certificação de Área Livre de Circulação do Poliovírus Selvagem e, em 2016, recebeu, também da Opas, o certificado de eliminação da circulação do vírus do sarampo.
Preocupando-se com a baixa cobertura vacinal em 63 municípios da Bahia que tinham menos de 50% do público-alvo imunizado, a Sesab antecipou o início da campanha para o dia 20 do mês passado. A Sesab não soube informar o percentual atualizado de imunização nessas cidades.
Segundo o MS, todos os estados do País já estão abastecidos com 871,3 mil doses da vacina inativada poliomielite (VIP), 14 milhões da vacina oral poliomielite (VOP) e 13,4 milhões da tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. A Bahia recebeu mais de dois milhões de doses.
A campanha de vacinação deste ano é indiscriminada, ou seja, pretende vacinar todas as crianças dessa faixa etária no País. Para a poliomielite, as que não tomaram nenhuma dose durante a vida receberão a VIP.
Já os menores de 5 anos que já tiverem tomado uma ou mais doses da vacina receberão a VOP, a gotinha. Em relação ao sarampo, todas as crianças receberão uma dose da vacina tríplice viral, independentemente da situação vacinal, desde que não tenham sido vacinadas nos últimos 30 dias.
Recomendação
Apesar de os adultos também terem direito, a campanha é focada no público infantil. A recomendação da Sesab para adultos que não lembram se estão imunizados é que aguardem o fim da campanha para se vacinarem, evitando, assim, uma sobrecarga do serviço. Quem já se vacinou não precisa se imunizar novamente.
Gabriel Andrade* | Foto: Altemar Alcantara | Semcom