Foram 10 horas e 25 minutos de um queda de braço entre magistrados pela soltura ou manutenção da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O embate, encerrado com um despacho do presidente do Tribunal Federal da 4ª Região, Thompson Flores, evidenciou a fragilidade atual do sistema jurídico brasileiro. Depois de idas e vindas, o petista permaneceu atrás das grades — mas até quando?
Em relatório publicado nesta segunda-feira (9), a consultoria Eurasia mantém a previsão de que Lula não deve sair da cadeia até as eleições de outubro. Para a consultoria, a postura de Rogério Favreto, o desembargador plantonista que ordenou a soltura do petista por três vezes neste domingo, é uma exceção entre os magistrados de cortes inferiores, que têm continuamente se posicionado contra a liberação do ex-presidente.
“Mesmo se Lula fosse liberto neste domingo, caso Thompson Flores não tivesse agido rapidamente, a soltura de Lula teria sido apenas temporária”, afirma o relatório.
Para a consultoria, a única saída para Lula da cadeia antes do prazo estipulado pela Justiça para cumprimento da pena no caso do tríplex do Guarujá é quando (e se) o STF revisar o entendimento que permite a execução da pena antes do trânsito em julgado.
Em 4 de abril, por seis votos a cinco, o Supremo rejeitou o pedido do habeas corpus de Lula e manteve o entendimento que autoriza a prisão após decisão em segunda instância. Há a expectativa de que o assunto volte ao plenário da mais alta corte do país — mas, em relatórios anteriores, a consultoria afirmou que é improvável que isso aconteça antes das eleições de outubro.
O ponto de atenção segue sendo a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do petista entrou, no final de junho, com uma reclamação junto ao colegiado pedindo a reversão da execução da pena de Lula. Ainda não é certo se o caso será votado pela Turma. Da última vez em que um habeas corpus de Lula foi pautado para a Segunda Turma, o ministro Edson Fachin, relator do caso, remeteu o processo para o plenário da corte.
De qualquer forma, no final de junho, quatro dos cinco ministros do grupo deram ao menos três indicativos de que podem aliviar para o ex-presidente Lula, segundo analisa o jurista Davi Tangerino, professor de Direito Penal da FGV Direito São Paulo.
Primeiro com a absolvição da presidente do PT, Gleisi Hoffmann sob a alegação de que o caso construído contra ela se baseou apenas em delações e não em provas. Com o mesmo critério, o colegiado trancou a ação penal contra o deputado tucano Fernando Capez e, depois, determinou a soltura do ex-ministro do governo Lula José Dirceu.
“Se todas essas decisões tomadas no apagar das luzes de junho forem replicadas no caso Lula, ele pode ser solto pelo Supremo sim. O caso do Lula é totalmente construído em colaborações premiadas. No caso do Dirceu, o Toffoli veio com a história da plausibilidade da tese, que as teses da defesa são plausíveis. Se esse habeas chega no Supremo de novo, estão abertas as portas para se conceder a liberdade a Lula”, afirma Tangerino.
Vale lembrar que, dos cinco integrantes da Segunda Turma, quatro votaram de maneira favorável ao petista quando o plenário do Supremo discutiu se o ex-presidente poderia ser preso ou não. A partir de setembro, a hoje presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, volta a compor o colegiado. No julgamento do habeas corpus de Lula, ela votou a favor da prisão dele. Mas, ainda assim, junto com Fachin, esse posicionamento seria minoria na Turma.
Em tempo: dentro ou fora da cadeia, tecnicamente, a candidatura de Lula ainda assim seria barrada pela Lei da Ficha Limpa já que ele foi condenado em segunda instância. A diferença é que, fora das grades, sua capacidade de mobilização aumentaria — hoje ele lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários em que é considerado.
Fonte: EXAME