Passado um ano desde que os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, que à época estava à frente do órgão, destacou a importância da colaboração, que resultou em 91 investigações, incluindo duas denúncias contra o presidente Michel Temer.

Em entrevista ao O Globo, Janot afirma que não há nenhum outro país do mundo em que um chefe da nação é réu em dois processos criminais e alvo central de outros dois.

"Foi um acordo importantíssimo para desvendarmos toda organização criminosa que se apropriou do poder público brasileiro. As informações, provas e a proatividade dos colaboradores foram medidas nas denúncias feitas contra o presidente em exercício Michel Temer e nas investigações que seguiram. Ele responde a duas denúncias e duas investigações criminais, que decorrem dessa colaboração. Acredito que essa foi uma das colaborações premiadas que mais auxiliaram o combate à corrupção no Brasil. Atingiu um presidente da República em exercício que, depois de três anos e meio da Lava-jato, continuava praticando atos que queria. Achava que era imune a qualquer investigação do Ministério Público. E nenhum cidadão é", disse.

O ex-procurador também citou o senador Aécio Neves. "Chegamos ao virtual futuro presidente da República (senador Aécio Neves), que também continuava praticando atos e se acreditava imune. Esse é o quadro que eu desenho de um ano depois dessa colaboração da J&F", completou.

Questionado sobre o que manteria Temer no poder, Janot disse que "essa pergunta tem de ser feita à Câmara dos Deputados que não permitiu o prosseguimento dos dois processos penais contra ele". "Processos inaugurados contra ele com provas, estou falando em provas, não em indícios, que decorreram da colaboração premiada e da atuação proativa desses colaboradores. Malas de dinheiro circulando em São Paulo, “tem que manter isso, viu ?”, isso não é pouco. Isso é muito. Então quem tem que responder a essa pergunta é Câmara que, num juízo político, entendeu que ele não poderia ser processado agora enquanto presidente da República, apesar de ter cometido, ao que tudo indica, crime no exercício da presidência da República depois de quase quatro anos de Lava-Jato em curso. Quanto ao senador (Aécio) é réu, responde a um processo penal", pontuou.

O ex-procurador ainda disse ser provável uma terceira denúncia contra Temer. "Não conheço o conteúdo dessas investigações. O caminho normal é que a denúncia virá. A justiça brasileira é republicana. Não estamos aqui mais para proteger oligarquias. O Brasil está mudando para melhor", afirmou.

Sobre a expectativa para as próximas eleições, Janot destacou que haverá "decisões importantes". "Não haverá possibilidade de financiamento de pessoas jurídicas. A expectativa é de que os custos se reduzam. O custo das eleições no Brasil é muito mais caro que na França, Inglaterra, Alemanha, Itália. Temos outros estudos que mostram que dos 20 maiores doadores das eleições de 2010, 14 delas caíram na Lava-jato. Será uma eleição diferente ? Sim, será uma eleição diferente. Mas se haverá interferências dessas organizações eu não posso dizer. Existe um ditado, 'criada a lei, criada a fraude à lei'. Então vamos esperar. Como a reforma política não veio, temos que ver o que vai acontecer".

Com informações do Notícias ao Minuto

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