A senadora Lídice da Mata (PSB) reafirmou o desejo de compor a chapa ao governo da Bahia com Rui Costa, mas disse ao A TARDE que não trata deste assunto com o governador. Na avaliação de Lídice, ACM Neto tenta criar um “fato político” com sua indefinição e não teria chance em uma disputa com Rui. A senadora acha natural que Michel Temer queira se candidatar e defende a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida ao Palácio do Planalto.
Como a senhora avalia a indecisão de ACM Neto sobre concorrer ou não ao governo da Bahia?
Ele está tentando criar um fato político em torno de sua candidatura, está tentando se colocar no centro das atenções. Como eu coloquei no Twitter: "Ser ou não ser, de Shakespeare a ACM Neto, eis a questão". É claro que ele está em dúvida, porque tem o que perder. Ele sai de um governo no meio e nada lhe garante que a saída significará, de um lado, a continuidade do seu governo à frente da prefeitura e fica sem o poder real, que tem na prefeitura, para reunir apoio em torno dele, e criar a expectativa de vitória. Ao mesmo tempo, se ele não sai, certamente frustra uma parte daqueles que se agregaram em torno dele. Não há decisão que ele não perca de alguma maneira. Acho, no entanto, que o povo o elegeu para ser prefeito e eu tenho em mente que nunca alguém que saiu do governo para ser candidato a um cargo maior deu certo na política brasileira. O único que tinha apoio popular pra realizar isso foi Tancredo Neves, que abriu mão de seu governo pra ser candidato a presidente pelo Colégio Eleitoral, infelizmente, sequer chegou a tomar posse. José Serra uma vez saiu e foi candidato ao governo e sempre leva a carga de que abandonou a promessa que fez ao povo.
E Rui Costa?
Rui acho que está muito bem, embora tenha tanto compromisso que não fica satisfeito com o patamar que alcançou. Acho que Rui tem o reconhecimento da Bahia hoje, tanto em Salvador quanto no interior.
Como estão as conversas para formar a chapa com o Rui?
Eu diria que essas conversas estão em certa medida congeladas. Porém, é claro que há articulações nos bastidores de todos os lados, inclusive do nosso.
A senhora quer compor a chapa com o Rui?
Claro que eu quero compor a chapa com o Rui.
Se não compor essa chapa, a senhora sai ao Senado?
A discussão de candidatura avulsa passa pelo meu partido, que alguns defendem e outros não. Mas há um debate no partido a respeito desta questão. Eu diria que é um debate na sociedade, porque eu viajo pro interior, chego à capital, e as pessoas me dizem de forma muito enfática que se eu não for candidata, vão votar no candidato do Psol ou no lado oposto ao do governador. Ou seja, acho que em uma eleição com 45 dias de campanha, a minha candidatura dá vantagem ao governo, porque sou conhecida no estado e tenho, na minha opinião, o reconhecimento da sociedade. Sou a primeira mulher a ser senadora pela Bahia, e sempre tive uma posição de defesa dos ideais que me trouxeram a ser senadora.
A senhora avalia que a chapa de Rui vai ser determinante em como a esquerda da Bahia vai se comportar na campanha?
Acho que o que está em pauta na Bahia hoje não é como a esquerda vai se comportar, a esquerda tem um projeto vitorioso na Bahia que é de composição com forças democráticas, forças sociais-democráticas, liberais, mas que estão sob a direção e liderança de um pensamento à esquerda. Esse pensamento, esse projeto político, tem amplitude suficiente pra não perder adesões, pelo contrário, tem crescido. Essa crise do MDB poderia significar que todos os prefeitos do partido fossem pra oposição a Rui, mas não é isso que a gente está vendo.
A senhora acredita que o Rui tem mais chances que o ACM Neto?
Acredito que se fosse hoje Rui ganharia a eleição.
Em primeiro turno?
Provavelmente sim. Se ACM Neto sair ou não sair, continuo afirmando, Rui ganhará a eleição.
Independente de outro candidato que apareça?
E não é uma postura arrogante, é uma postura de quem está acompanhando o governo e acompanha Rui ao interior, eu viajo muito com Rui e sinto o seu crescimento, como foi adensando apoios principalmente nesse último ano.
Nessas viagens, como são as conversas em relação à formação da chapa?
É o que menos falamos. Geralmente vamos em avião com outras pessoas e discutimos muito mais a realidade das chapas proporcionais, como ajudá-los, a nossa meta de crescimento. Por incrível que pareça, não conversamos muito sobre esse assunto. Especialmente eu não converso.
Por quê?
Porque eu acho que esse é um assunto que deve ser maturado, é chegada uma hora, um momento, em que precisa ser colocado na mesa. Principalmente defendo que tenha critérios. Na mesma forma que reconheço em Rui o líder desse processo, essa liderança tem que ser exercida de maneira que democraticamente todos se sintam acolhidos.
Qual é o momento?
O governador vai ter que ter sensibilidade pra definir qual momento é esse.
Pessoalmente, qual a opinião da senhora?
Pra mim, o melhor é que já tivesse sido definido e que fosse eu. Sou uma defensora de que a política deve ter pouca artificialidade e muita maturidade, e acho que estou trabalhando nessa direção. Eu e muitas companheiras temos dito não ao feminicídio da mulher na política. Temos poucas representantes mulheres e abrir mão de uma mulher que já está no Senado com a possibilidade de dar esta contribuição à chapa e à política baiana eu acho que é ruim.
No cenário nacional, gostaria que a senhora comentasse decisão do TRF-4 de manter a condenação de Lula e negar seu recurso.
A negativa dos recursos consolidou a ideia de que há uma decisão de um grupo na Justiça de tirar Lula do processo eleitoral. Porque esse processo do Triplex não há comprovação, não há um documento jurídico em que a propriedade do imóvel esteja provada. Lula nunca dormiu naquela casa, então é difícil sustentar um processo de condenação em cima da ideia de que ele teve a intenção, por que qual é a acusação? A acusação é ele ter recebido um Triplex em troca de benefícios, mas como recebeu se não há comprovação e mais, esse mesmo apartamento foi arrolado entre os bens da construtora OAS recentemente numa decisão judicial. No entanto, as condenações seguidas me parecem ter muito mais um conteúdo de decisão política do que jurídica.
E a expectativa em relação ao julgamento do habeas corpus preventivo do Lula no STF?
Muito difícil anunciar expectativa sobre o Supremo e como sou da política, uma expectativa fica muito mais próximo de eu dizer o que eu gostaria, que é claro que fosse a garantia de que Lula seja candidato, o direito principalmente de garantir sua liberdade.
Aliados afirmam que independente da decisão do dia 4 de abril, Lula é o candidato do PT.
Do ponto de vista do PT, da postura do partido do presidente Lula, é isso que tem que ser feito. Eles não podem abrir mão de manter uma estratégia de defesa de Lula, que passa pela garantia de sua candidatura.
Como a senhora avalia o cenário com e sem Lula?
O cenário que pode ter Lula é o melhor, porque apesar das provocações que existem inclusive na caravana, pessoas que incitam o ódio e a violência. A figura de Lula como candidato é agregadora, apaziguadora. Ele consegue como candidato apaziguar o seu grupo, seu partido, porque realiza com sua candidatura esse desejo e essa busca de compromisso com a sociedade e, por outro lado, ele é capaz de agregar outras legendas, outros movimentos em torno dele. Na campanha com Lula, muita gente de outros partidos, que estão no governo de Temer, viriam com ele e essa é a visão de outros senadores que tenho conversado.
Sobre o MDB, como a senhora enxerga a candidatura de Michel Temer e Henrique Meirelles?
Está dentro do que era possível e previsto politicamente. O governo precisa e quer alguém que lhe defenda, o PSDB está fingindo que não foi governo até então, foi e é governo, o DEM também ensaia esse discurso de que não é governo, embora tenha todos seus tentáculos dentro do governo, diante dessa situação Temer se vê na condição de se apresentar como candidato para fazer a defesa do seu "legado", que considera que tem um legado positivo que o povo brasileiro ainda não viu.
Fonte: A Tarde / Por Juliana Dias