O fundador e diretor-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, afirmou na noite desta quarta-feira, 21, em uma entrevista exclusiva à CNN, que “fará o que for necessário” para impedir a manipulação das eleições no Brasil, na escolha parlamentar nos Estados Unidos em novembro e em outras partes do mundo. Pressionado pelo escândalo do vazamento de dados de 50 milhões de pessoas da plataforma, que foram usados pela Cambridge Analytica na campanha de Donald Trump em 2016, Zuckerberg falou pela primeira vez à imprensa, em que admitiu seus erros.
- Nós temos um trabalho pesado para fazer para impedir a interferência de países como a Rússia nas eleições - disse ele, citando as eleições parlamentares de novembro nos Estados Unidos. - Temos uma grande eleição no Brasil, teremos outras grandes eleições pelo mundo, e estaremos muito comprometidos em fazer o que for necessário para ter certeza sobre a integridade destas eleições.
Em outra entrevista exclusiva publicada na noite desta quarta no site do “New York Times”, Zuckerberg afirmou que, sem muito alarde, o sistema de controle da plataforma conseguiu impedir manipulações nas eleições especiais para o senador do Alabama. Mas alertou que as pessoas que tentam manipular também estão se sofisticando, e voltou a citar preocupação com as eleições brasileiras:
- Eu me sinto muito melhor sobre os nossos sistemas (de controle) agora. Ao mesmo tempo, acho que a Rússia e outros governos vão ficar mais sofisticados no que fazem também. Então, precisamos ter certeza de que vamos melhorar a nossa atuação. Esse é um foco importante para termos certeza de que estamos preparados não só para as eleições de 2018 nos EUA, mas também para as eleições indianas, as eleições brasileiras e outras eleições que estão acontecendo este ano e que são realmente importantes.
Quebrando o silêncio após cinco dias de escândalos que derreteram em quase US$ 50 bilhões o valor de mercado do Facebook, Zuckerberg disse que está “feliz” em ir depor ao Congresso americano. Ele afirmou que nunca imaginaria que estes seriam os grandes temas de sua empresa atualmente.
- Grande parte da minha responsabilidade hoje é ajudar a proteger a integridade das eleições - disse ele. - Tenho certeza que há a versão dois de qualquer que tenha sido o esforço russo em 2016.
Em um momento de recuo, disse que “não está certo” se é contrário a novas regulamentações para redes sociais, se isso trouxer maior transparência e equiparar com o que já ocorre com as empresas de mídia - que gozam de grande liberdade nos Estados Unidos. Ele afirmou que fará uma grande auditoria em todos os aplicativos que estão hospedados no Facebook para evitar novos vazamentos ou distribuição de dados dos usuários sem o claro consentimento das pessoas:
- Vamos trabalhar duro para que isso nunca ocorra novamente.
Gaguejando muito e falando de maneira acelerada, Zuckerberg disse ainda que errou ao confiar na Cambridge Analytica, ao crer que eles haviam deletados estes dados em 2015, depois que ele foi alertado do episódio por uma reportagem do “The Guardian”. Ele disse que notificará a todos os 50 milhões de afetados pelo episódio individualmente.
Em outra entrevista exclusiva, dessa vez à revista “Wired” - que foi publicada também nesta noite - Zuckerberg esclarece que o Facebook estará realizando 15 mudanças tecnológicas e de procedimentos para garantir mais segurança aos dados dos usuários.
Ao “New York Times”, o fundador do Facebook disse que fará, em qualquer aplicativo que descobrirmos que tenha alguma atividade suspeita, “uma auditoria completa” para impedir este tipo de acesso novamente. Questionado sobre quantos aplicativos do Facebook serão vistoriados, Zuckerberg não titubeou:
- Será algo na casa dos milhares - disse ele, afirmando que contratará pessoal especial para estas fiscalizações.
Ao ser perguntado se está preocupado com o movimento de pessoas que defendem o fim das contas dos usuários do Facebook e o boicote à rede social, Zuckerberg minimizou esta ameaça:
- Eu não acho que tenhamos visto um número significativo de pessoas deixando suas contas, mas, você sabe, isso não é bom. Eu acho que é um sinal claro deste grande questionamento das pessoas sobre a confiança, e eu entendo isso. E se as pessoas excluem o aplicativo ou simplesmente não se sentem bem em usar o Facebook, esse é um grande problema que acho que temos a responsabilidade de corrigir.
Zuckerberg afirmou que não prevê mudanças no modelo dos negócios do Facebook, no qual a rede fornece dados para ajudar os anunciantes e desenvolvedores a melhor direcionar potenciais clientes. Ele descartou um modelo em que os usuários pagassem assinatura para usar o Facebook.
- Esta é uma questão muito importante. O tema do modelo de anúncio que é realmente importante é que ele se alinha com a nossa missão, que é construir uma comunidade para todos no mundo e aproximar todo o mundo. E uma parte muito importante disso é fazer um serviço que as pessoas possam pagar. Muitas pessoas, depois de passarem do primeiro bilhão de usuários, não podem pagar muito. Portanto, ficar livre de cobranças em um modelo de negócio apoiado por anúncios acaba sendo muito importante e em linha (com nossa missão).
A linha das duas entrevistas seguiu o texto que ele publicou na tarde desta quarta-feira em sua conta no Facebook, em que admitiu pela primeira vez os erros da empresa e afirmou que que houve uma “quebra de confiança” entre o Facebook e seus usuários.