Bombardeios e ataques com morteiros seguem acontecendo na região de Ghouta, no nordeste da Síria, apenas algumas horas depois do primeiro dia de “pausa humanitária” ordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Os ataques acontecidos em plena terça-feira deixaram claro o limite de influência que a Rússia tem sobre a Síria e seu presidente, Bashar al-Assad. Isso também motivou dúvidas sobre a sua real sinceridade em tomar ações para controlar a violência.
Moradores e ativistas afirmaram que a violência continuou acontecendo normalmente, mesmo com a afirmação de que um corredor humanitário seria aberto para permitir que civis escapassem.
“Apenas os aviões de ataque foram reduzidos, mas os bombardeios e foguetes continuam acontecendo. Nenhuma das famílias ou civis saíram dos abrigos de proteção contra bombas porque ninguém confia no regime dos russos”, afirmou Nour Adam, um ativista que trabalha na área.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos afirmou que estava bastante calmo em Ghouta desde a meia-noite, mas logo pela manhã quatro foguetes atingiram a região de Douma. Ao meio-dia, o bombardeio havia sido retomado, junto com ataques aéreos que tinham como alvo inúmeras cidades da região. Mais de 500 pessoas já morreram na área ao longo de oito dias de violência.
Participação da Rússia
A medida criada por Putin e anunciada pelo seu ministro da Defesa, Sergei Shoigu, na última segunda-feira, deixou claro a participação russa em assuntos internos da Síria e a falha da ONU em conseguir um cessar-fogo na região da fronteira de Damasco. A ação russa vem logo após a condenação internacional da violência na região. O secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, descreveu a situação na cidade de Ghouta como “um inferno na terra”.
O ministro da Defesa russo afirmou na última segunda-feira que as medidas, tomadas em conjunto com a Síria, foram criadas para tentar ajudar os civis a escaparem e também para poder evacuar os que estão doentes e feridos.
Residentes afirmaram não ter conhecimento do corredor e preferiram permanecer no local do que ficarem desabrigados. Um dos oficiais humanitários também apresentou dúvidas sobre sua confiança em relação ao corredor, afirmando que seria ideia da imprensa e seus aliados.
“Não é para salvar o povo. É exatamente a mesma propaganda de guerra, muito mais para a imprensa do que para os civis”. A guerra da Síria, que já dura quase oito anos, já matou milhares de pessoas e já fez com que metade da população existente no país antes da guerra, de 23 milhões de pessoas, deixassem suas casas.
Troca por sexo
Mulheres sírias estão sendo exploradas sexualmente por homens que prestam ajuda humanitária ao país em nome da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições de caridade. As alegações surgiram há três anos, mas um novo relatório confirma que os casos continuam a surgir no sul do país. A denúncia foi feita pela BBC.
A delação foi citada em um relatório do Fundo de População da ONU (UNFPA), que com base numa análise no terreno sobre violência de gênero concluiu que há vários lugares da Síria onde essa situação está acontecendo. “Todas as mulheres, em especial as viúvas, divorciadas e deslocadas, estão vulneráveis a esta exploração sexual”, relata o documento.
O canal britânico ouviu funcionários humanitários, os quais confirmaram que alguns homens obrigam mulheres a trocar favores sexuais por comida, por exemplo.
A Tarde