A professora Samantha Mascarenhas, 40, teve que estabelecer limites para o uso de um tablet e do vídeo game por parte do filho de 7 anos, Bernardo. “Se a gente não controlasse, ele usaria o dia todo para jogar e assistir vídeos”, conta.



No entanto, ela também considera o uso como um elemento importante para o desenvolvimento do filho: “Acho que tem os dois lados. Ajuda também a desenvolver a inteligência. Estimula o vocabulário e a criança raciocina mais. Mas se for demais, deixa de movimentar o corpo, o que é ruim”.


A situação que a professora teve que lidar é atualmente a realidade de muitas famílias que possuem filhos. Quem tem criança em casa sabe que elas estão cada vez mais conectadas com dispositivos digitais seja a televisão, vídeo game, computador ou celular.


Especialistas ouvidos por A TARDE afirmam que a proibição não é o melhor caminho e defendem o uso racional destes dispositivos. No entanto, alertam para os riscos que o uso em demasia pode acarretar.


Recentemente, foi divulgado que o vício em vídeo games e demais jogos eletrônicos são alvo de análise da Organização Mundial de Saúde (OMS) que deverá inclui-lo como um transtorno psiquiátrico. A proposta está em discussão nos comitês que elaboram a revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID).



Alternativas


Para Samantha Mascarenhas, a solução encontrada foi proibir de segunda a sexta. A partir da noite de sexta, o uso está liberado. As regras e o motivo da proibição são explicados para Bernardo. Como contrapartida, o menino é incentivado a ir brincar na rua, com amigos: “Tenho receio do efeito no sono. Como a gente explica, ele sabe que é para o bem dele”.


O pequeno Bernardo assume que, se pudesse, jogaria o tempo inteiro. Quando crescer, quer ser criador de jogos eletrônicos. “É chato (a proibição), mas sei que se jogasse o tempo todo poderia me fazer mal”, admite.


A psicóloga Rita Calegari diz que não se trata de banir: “Os recursos tecnológicos vieram para ficar. Não tem como não incorporar e proibir”. A especialista ressalta que, quanto menor a criança, mais ela precisa desenvolver a atividade exploratória. Não se deve permitir que ela brinque somente com dispositivos e nem perder a interação social com a família.


As crianças, defende Rita, devem ser estimuladas com livros, na areia, no parque, no tabuleiro, na argila, entre outros meios. “Essas atividades, que podem parecer besteira, vão ajudar a desenvolver as capacidades neurológicas delas”, afirma.


Com o crescimento de prédios como moradia, ela diz que há uma redução, de brincadeiras ao ar livre. O risco desta ausência é produzir uma geração de adolescentes com disfunções de desenvolvimento neuromotor que vão refletir em dificuldades escolares, de concentração e de interação social.


Para definir o tempo permitido para o uso dos equipamentos digitais, Rita diz que é necessário estabelecer um percentual dentro do tempo livre que a criança tiver. “O excesso pode resultar em redução das atividades e o sedentarismo, além de dificuldade de concentração”, destaca a psicóloga que trabalha na rede paulista de hospitais São Camilo.



Regras


O administrador Luciano Lopes, 39, tem um casal de filhos: Luciano, 4, e Camila, 8. Durante a semana, o tablet não pode ser utilizado. Só final de semana e feriados: “Com o mundo digital, você não pode deixar de fora, mas precisa impor regras. Imagine se minha geração fosse proibida de usar o computador? Hoje é algo extremamente necessário”.


O ortopedista Leandro Gregorut destaca que a posição da criança ao jogar, por exemplo, não costuma ser adequada. Sentada no chão, de pernas cruzadas e coluna encurvada, ela contribui para o enfraquecimento da musculatura e pode ter uma escoliose postural. Por ficar muito tempo sentada, enfraquece, ainda, a musculatura da coxa e do quadril. “Isso aumenta a pressão no joelho para andar e na bacia, provocando dores”, alerta.



Limites


Proibir totalmente não é a solução, diz o médico. É preciso fazer uma correção de postura com apoios: deve-se ficar sentado numa cadeira, com a coluna apoiada e os cotovelos também. “É bom também limitar o número de horas. Mais do que duas horas seguidas já começa a dar problema”, orienta.


Há risco, também, do uso excessivo de eletrônicos impedir a realização de outras atividades que contribuem para desenvolver a neuromotricidade. “Estamos falando das habilidades de se movimentar, quando a criança começa a correr, saltar e tem noção de pegar as coisas com a mão. Se fica muito em casa e no vídeo game, está perdendo a oportunidade de desenvolver isso, o que será sentido na adolescência”, acrescenta.


Por Anderson Sotero

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