Pela primeira vez em 25 anos, a fome aumenta no mundo e reverte um processo que em um quarto de século havia dado sinais claros de melhoria para a população de diversos continentes. O alerta foi lançado nesta segunda-feira, 3, pelo brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO.



Em um discurso para governos reunidos em Roma, Graziano advertiu que 60% daqueles que enfrentam a fome hoje estão em países afetados por conflitos ou mudanças climáticas. Num total, 19 países vivem uma situação considerada como crítica, seja por guerras, secas ou enchentes.


No total, apenas na Nigéria, Somália, Sudão do Sul e Iemen, 20 milhões de pessoas extras estariam passando fome em comparação a dados de 2015. Há dois anos, um total de 795 milhões de pessoas pelo mundo eram afetados pela fome, 216 milhões a menos que em 1990. A má-nutrição nos países mais pobres caiu de 23,3% para 12,9% em 25 anos, num avanço inédito na história contemporânea.


Mas hoje, diante das novas crises, essa taxa voltou a aumentar. Na avaliação do brasileiro, a "única opção para muitos tem sido a de aumentar a estatística da migração". Criticando a postura de governos de países ricos, ele alertou que a comunidade internacional "não salvará essas pessoas colocando-os em acampamentos". Para ele, apenas a garantia de que poderão produzir em suas terras é o que os manterá em seus países.


"Um compromisso político para erradicar a fome é fundamental. Mas não é suficiente", disse. "A fome apenas será vencida se os países transformarem suas promessas em ações", insistiu ao falar para 82 ministros. "Hoje, mais de 800 milhões de pessoas estão má-nutridas e infelizmente esse número voltou a crescer de novo", alertou Graziano.


De acordo com ele, ainda que o combate contra a fome tenha ganhado força nas últimas décadas, eles hoje estão ameaçados por conflitos, mudanças climáticas e impacto na dieta de populações inteiras.


Numa mensagem lida pelo cardeal Pietro Parolin, o papa Francisco alertou que chegou a hora de a comunidade internacional reconhecer que a fome "não é natural" e que é "causado pela indiferença de muitos ou o egoísmo de uns poucos". "As guerras, atos de terrorismo e deslocamentos forçados que minam a cooperação não são inevitáveis. Mas sim são consequências de decisões concretas", alertou.


Para ele, a ONU ou outras entidades internacionais precisam intervir quando fica claro que um país não é capaz de alimentar sua população. Num discurso duro, Francisco ainda alertou a comunidade internacional a não basear apenas suas decisões no "desejo da eficiência que carece da ideia de compartilhar".


Ao discursar em nome do Brasil, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, defendeu o consumo de carne bovina pela sua "contribuição à segurança alimentar e nutricional", e pediu um maior acesso a mercados.


"Entendemos que a FAO, no cumprimento do seu mandato, deve priorizar questões relativas à produção de alimentos, à produtividade e à nutrição. Nesse contexto, alimentos de alto valor proteico, como a carne bovina, como bem observou o Comitê de Segurança Alimentar-2016, devem ser reconhecidos", disse.


"Recomendações sobre diminuição do consumo de carne bovina, devido a emissões, não devem ser feitas", atacou o ministro.


Maggi destacou ainda a necessidade pela abertura de mercados, o que seria "essencial para a redução da insegurança alimentar, da fome e da má nutrição".


Vivendo ainda uma polêmica sobre a questão da qualidade das carnes, ele insistiu que "a agricultura brasileira se desenvolve de maneira sustentável em linha com a Agenda 2030". Segundos ele, o país fornece alimentos diversificados, seguros e de alta qualidade.


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