Os donos de celulares do tipo iPhone que se liguem. Se, antes, esses aparelhos costumavam ser ignorados em assaltos, devido à dificuldade em reutilizá-los, agora eles vêm sendo alvo de quadrilhas de desmanche de celulares, que compram os aparelhos roubados nas ruas, ônibus, festas, em toda a cidade.
Somente na semana passada o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc) conseguiu desarticular três dessas quadrilhas que atuavam no comércio ilegal de peças de aparelhos da Apple e também de outros celulares, com lojas nos bairros de São Caetano, Centro e Comércio.
O Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), ao qual o Gerrc é subordinado, investiga ainda outras cinco quadrilhas da capital envolvidas em desmanche e fraude - por tentar reativar celulares bloqueados pelas vítimas - de aparelhos.
De acordo com o delegado titular do Gerrc, José Nélis Araújo, os roubos de iPhone são uma novidade para a polícia. “Do Carnaval para cá, os números de assaltos a ônibus e transeuntes subiram e esse impacto pode estar relacionado a isso (ao desmanche de peças). Antes, a polícia não tinha preocupação com esses aparelhos porque eram rejeitados”, explica ele.
O sistema de Estatística da Polícia Civil não contabiliza os objetos que são roubados ou furtados nos assaltos. Nos registros constam apenas a natureza do fato - se foi furto, roubo ou latrocínio, por exemplo. Também não separam quantos celulares, bolsas, cartões, joias foram levados.
No entanto, dados do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel de Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) computam mais de oito milhões de celulares bloqueados no Brasil por motivos de perda, furto ou roubo.
Com relação ao ano passado, o Gerrc registrou um aumento significativo - 14% - de assaltos a ônibus entre 1º de janeiro e o último dia 17. Até as 10h da última segunda-feira, 17 de abril, 800 coletivos tinham sido assaltados na capital, enquanto em 2016, até a mesma data, o número era de 710 ônibus assaltados.
[caption id="attachment_55630" align="aligncenter" width="620"] Reinaldo já foi roubado oito vezes: 'hoje tenho um celular simples' (Foto: Evandro Veiga/Correio)[/caption]
“iPhone não era objeto de roubo. Houve um aumento de procura pelos aparelhos e isso impactou no número de roubos a ônibus. A questão é a falta de disponibilidade de peças genuínas no mercado. Por isso, os criminosos estão estimulando o roubo de iPhones”, afirma o delegado. Os aparelhos da Apple são mais roubados em locais onde a população tem maior poder aquisitivo, como Barra, Pituba e Itaigara.
O assessor parlamentar Jairo Gonçalves estava saindo de casa para trabalhar, por volta das 6h da manhã, quando foi abordado em Itapuã por um casal armado. Os assaltantes levaram dele dois aparelhos: um iPhone 4S e um celular da marca Motorola.
“Os policiais chegaram rápido na minha rua e eu mostrei a eles a localização do aparelho. O sinal ainda estava em Itapuã, mas depois sumiu. Depois, o celular voltou a bater o sinal em Pernambués, mas não levei adiante porque fui assaltado na porta de casa, fiquei com receio de que fizessem algo comigo”, lembra.
Mas os assaltantes não têm restrições ao tipo de celular - levam tudo, mesmo. No final do ano passado, a dona de casa Gecilânia Araújo, 39, pegou um ônibus da linha Estação Mussurunga para retornar para casa e, ao chegar na Avenida Paralela, dois homens armados anunciaram um assalto.
“Eu tinha um celular muito simples, mas mesmo assim eles levaram. Já chegaram pedindo os celulares de todo mundo, era o foco deles”, conta. Atualmente, ela continua usando um celular simples para andar na rua. “Já o aparelho com zap zap, eu prefiro deixar em casa”, brinca. Segundo o delegado José Nélis, quase todos os assaltos a ônibus costumam ter registro de vítima com celular roubado.
Quem não dá sorte em assalto é Reinaldo Macedo, 26, que já teve oito aparelhos roubados. “Sempre aconteceu na rua, com arma, faca, caco de vidro. Oito foram as vezes em que levaram, outras eu consegui fugir”.
Na primeira vez em que foi assaltado, ele tinha apenas 13 anos e a última foi há três anos. Daí em diante, decidiu parar de comprar bons celulares. “Hoje tenho um celular supersimples. Ninguém quer esse que eu estou”, diz.
A corretora de imóveis Estela Fernandes, 59, voltava para casa num ônibus Praça da Sé – Vilas do Atlântico depois de ter esquecido um documento necessário para fazer uma prova, quando dois homens armados entraram no coletivo gritando palavrões e pedindo os pertences dos passageiros. Ela carregava duas bolsas.
Num jogo de cintura, a corretora se safou de ter o celular levado pelos bandidos. Rapidamente, ela pegou a bolsa menor onde estava seu celular e escondeu entre o corpo e a parede do ônibus. “No meu celular havia muitos contatos de clientes, eu não podia dar porque é meu trabalho. É um absurdo a gente trabalhar e não poder usufruir das nossas coisas”, conta.
Já a estudante Samara Teles, 21, foi assaltada no ponto de ônibus da Estação da Lapa, quando tentava subir no coletivo. “Eu estava esperando uma mensagem de confirmação se ia ter que ir para o trabalho ou não e fiquei de bobeira com o celular. Quando eu tentei subir no ônibus, três caras me puxaram de volta”.
Com a estação cheia, a jovem chegou a enfrentar os assaltantes depois de perceber que não estavam armados, mas o celular, um MotoG1, acabou sendo levado. “Tenho saudades mesmo é dos meus arquivos, das minhas fotos. Hoje em dia, deixo o celular em casa. Quando preciso levar, tento esconder ao máximo”, declara.
Quando os celulares, em geral, são roubados ou furtados, o assaltante desliga o aparelho. Mas, através de um aplicativo geolocalizador do iPhone, as vítimas conseguem descobrir o local onde o pertence se encontra. Foi assim e através de denúncias que a equipe do Gerrc conseguiu chegar até o grupo de Eliel de Almeida Santos, 30, Roberto Luís Camilo, 30, e do técnico em eletrônica Edmilson Araújo dos Santos, o Dimas, 39, que atuavam em São Caetano, Centro e Comércio, respectivamente.
As investigações contra Eliel foram iniciadas por usuários de internet, que relataram à polícia que ele anunciava a venda de peças e desbloqueio de aparelhos. Já a prisão de Dimas e Camilo foi resultado de relatos de vítimas, que identificavam que o sinal dos celulares desaparecia na região onde ficava a loja dos dois.
Junto com Camilo, mais quatro foram conduzidos à delegacia. O grupo atuava no Prédio do Crato, no Comércio, e com eles foram apreendidos mais de 110 celulares, a maior parte iPhones. Dimas tinha um estabelecimento entre a Praça Marechal Deodoro e o Plano Inclinado Gonçalves. Foram presos também Luís Carlos da Silva Gomes, Gilmar Gomes Cunha e Níldson Estevão dos Santos.
Correio 24h
Somente na semana passada o Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc) conseguiu desarticular três dessas quadrilhas que atuavam no comércio ilegal de peças de aparelhos da Apple e também de outros celulares, com lojas nos bairros de São Caetano, Centro e Comércio.
O Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), ao qual o Gerrc é subordinado, investiga ainda outras cinco quadrilhas da capital envolvidas em desmanche e fraude - por tentar reativar celulares bloqueados pelas vítimas - de aparelhos.
Novidade
De acordo com o delegado titular do Gerrc, José Nélis Araújo, os roubos de iPhone são uma novidade para a polícia. “Do Carnaval para cá, os números de assaltos a ônibus e transeuntes subiram e esse impacto pode estar relacionado a isso (ao desmanche de peças). Antes, a polícia não tinha preocupação com esses aparelhos porque eram rejeitados”, explica ele.
O sistema de Estatística da Polícia Civil não contabiliza os objetos que são roubados ou furtados nos assaltos. Nos registros constam apenas a natureza do fato - se foi furto, roubo ou latrocínio, por exemplo. Também não separam quantos celulares, bolsas, cartões, joias foram levados.
No entanto, dados do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel de Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) computam mais de oito milhões de celulares bloqueados no Brasil por motivos de perda, furto ou roubo.
Com relação ao ano passado, o Gerrc registrou um aumento significativo - 14% - de assaltos a ônibus entre 1º de janeiro e o último dia 17. Até as 10h da última segunda-feira, 17 de abril, 800 coletivos tinham sido assaltados na capital, enquanto em 2016, até a mesma data, o número era de 710 ônibus assaltados.
[caption id="attachment_55630" align="aligncenter" width="620"] Reinaldo já foi roubado oito vezes: 'hoje tenho um celular simples' (Foto: Evandro Veiga/Correio)[/caption]
Demanda por peças
“iPhone não era objeto de roubo. Houve um aumento de procura pelos aparelhos e isso impactou no número de roubos a ônibus. A questão é a falta de disponibilidade de peças genuínas no mercado. Por isso, os criminosos estão estimulando o roubo de iPhones”, afirma o delegado. Os aparelhos da Apple são mais roubados em locais onde a população tem maior poder aquisitivo, como Barra, Pituba e Itaigara.
Vítimas
O assessor parlamentar Jairo Gonçalves estava saindo de casa para trabalhar, por volta das 6h da manhã, quando foi abordado em Itapuã por um casal armado. Os assaltantes levaram dele dois aparelhos: um iPhone 4S e um celular da marca Motorola.
“Os policiais chegaram rápido na minha rua e eu mostrei a eles a localização do aparelho. O sinal ainda estava em Itapuã, mas depois sumiu. Depois, o celular voltou a bater o sinal em Pernambués, mas não levei adiante porque fui assaltado na porta de casa, fiquei com receio de que fizessem algo comigo”, lembra.
Mas os assaltantes não têm restrições ao tipo de celular - levam tudo, mesmo. No final do ano passado, a dona de casa Gecilânia Araújo, 39, pegou um ônibus da linha Estação Mussurunga para retornar para casa e, ao chegar na Avenida Paralela, dois homens armados anunciaram um assalto.
“Eu tinha um celular muito simples, mas mesmo assim eles levaram. Já chegaram pedindo os celulares de todo mundo, era o foco deles”, conta. Atualmente, ela continua usando um celular simples para andar na rua. “Já o aparelho com zap zap, eu prefiro deixar em casa”, brinca. Segundo o delegado José Nélis, quase todos os assaltos a ônibus costumam ter registro de vítima com celular roubado.
Oito vezes
Quem não dá sorte em assalto é Reinaldo Macedo, 26, que já teve oito aparelhos roubados. “Sempre aconteceu na rua, com arma, faca, caco de vidro. Oito foram as vezes em que levaram, outras eu consegui fugir”.
Na primeira vez em que foi assaltado, ele tinha apenas 13 anos e a última foi há três anos. Daí em diante, decidiu parar de comprar bons celulares. “Hoje tenho um celular supersimples. Ninguém quer esse que eu estou”, diz.
A corretora de imóveis Estela Fernandes, 59, voltava para casa num ônibus Praça da Sé – Vilas do Atlântico depois de ter esquecido um documento necessário para fazer uma prova, quando dois homens armados entraram no coletivo gritando palavrões e pedindo os pertences dos passageiros. Ela carregava duas bolsas.
Num jogo de cintura, a corretora se safou de ter o celular levado pelos bandidos. Rapidamente, ela pegou a bolsa menor onde estava seu celular e escondeu entre o corpo e a parede do ônibus. “No meu celular havia muitos contatos de clientes, eu não podia dar porque é meu trabalho. É um absurdo a gente trabalhar e não poder usufruir das nossas coisas”, conta.
Já a estudante Samara Teles, 21, foi assaltada no ponto de ônibus da Estação da Lapa, quando tentava subir no coletivo. “Eu estava esperando uma mensagem de confirmação se ia ter que ir para o trabalho ou não e fiquei de bobeira com o celular. Quando eu tentei subir no ônibus, três caras me puxaram de volta”.
Com a estação cheia, a jovem chegou a enfrentar os assaltantes depois de perceber que não estavam armados, mas o celular, um MotoG1, acabou sendo levado. “Tenho saudades mesmo é dos meus arquivos, das minhas fotos. Hoje em dia, deixo o celular em casa. Quando preciso levar, tento esconder ao máximo”, declara.
Quadrilhas
Quando os celulares, em geral, são roubados ou furtados, o assaltante desliga o aparelho. Mas, através de um aplicativo geolocalizador do iPhone, as vítimas conseguem descobrir o local onde o pertence se encontra. Foi assim e através de denúncias que a equipe do Gerrc conseguiu chegar até o grupo de Eliel de Almeida Santos, 30, Roberto Luís Camilo, 30, e do técnico em eletrônica Edmilson Araújo dos Santos, o Dimas, 39, que atuavam em São Caetano, Centro e Comércio, respectivamente.
As investigações contra Eliel foram iniciadas por usuários de internet, que relataram à polícia que ele anunciava a venda de peças e desbloqueio de aparelhos. Já a prisão de Dimas e Camilo foi resultado de relatos de vítimas, que identificavam que o sinal dos celulares desaparecia na região onde ficava a loja dos dois.
Junto com Camilo, mais quatro foram conduzidos à delegacia. O grupo atuava no Prédio do Crato, no Comércio, e com eles foram apreendidos mais de 110 celulares, a maior parte iPhones. Dimas tinha um estabelecimento entre a Praça Marechal Deodoro e o Plano Inclinado Gonçalves. Foram presos também Luís Carlos da Silva Gomes, Gilmar Gomes Cunha e Níldson Estevão dos Santos.
Correio 24h
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