Polícia investiga se homem que ateou fogo em família é o pai do bebê que a enteada esperava
O 13º salário de 2016 da costureira Ana Cristina de Jesus, 37 anos, foi tomado pelo marido dela, Gilson de Jesus Moura, 49, e utilizado para fazer a revisão do carro. O Gol vermelho, ano 1999, foi vendido pelo autônomo dias depois de ele trancar toda a família em casa, no bairro da Mangabeira, em Feira de Santana, atear fogo e fugir. Para a polícia, esse é um indício de que o crime, que terminou na morte de três filhos de Gilson, da enteada dele, grávida de cinco meses, e do filho dela, foi premeditado.
Após incendiar a casa, na madrugada de quarta-feira (4), Gilson passou pelos municípios de Capim Grosso, Jacobina e Irecê, no Centro-Norte da Bahia. Quando foi preso, às 7h de ontem, ele se preparava para retornar a Capim Grosso.
“Ele dormiu em rodoviárias e no carro, para fugir da perseguição policial. Foi uma fuga momentânea. Hoje ele voltou para Feira de Santana para entregar o carro e o DUT (documento do veículo) à pessoa que ele ia vender o carro. Ele estava no Marajó, quando um policial militar à paisana o viu, reconheceu e avisou à polícia”, contou o delegado João Uzzum, coordenador de Polícia Civil de Feira de Santana. Gilson foi preso no Largo do Marajó, onde moradores costumam pegar transporte para o interior do estado.
Ontem à tarde, ele foi apresentado na sede da Polícia Civil, em Salvador, antes de ser levado para o Presídio de Feira. Ele cumprirá a prisão preventiva num pavilhão separado, junto com estupradores e autores de crimes hediondos.
Gilson será acusado por quíntuplo homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio e aborto - a enteada estava grávida de cinco meses. A polícia pediu exame de DNA para verificar se ele é o pai do bebê que a enteada esperava.
Na chacina, morreram três filhos de Gilson - Thaís de Jesus Moura, 13, Carlos Alexsandro de Jesus Moura, 9, e Xayane Vitória de Jesus Moura, 8 -, a enteada dele, Emily de Jesus Moura, 16, que estava grávida de cinco meses, e o filho dela, Enzo, de 1 ano e 11 meses. Os corpos das cinco vítimas ainda não foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML).
Ficaram feridas a esposa de Gilson, Ana Cristina de Jesus, e outra filha do casal, Ayla de Jesus Moura, 3 anos. Elas ainda estão internadas no Hospital Geral do Estado (HGE).
Amnésia
“Minha família sempre foi a base de tudo, sempre amei minha minha família”, garantiu Gilson. A contradição entre a declaração e o crime é explicada por Gilson com uma amnésia. “Sei que todas as evidências mostram que eu que fiz isso, mas não lembro de nada”, conta. Ele alegou que pode ter tido um surto por ter interrompido um medicamento. Segundo a delegada Larissa Lage, da Delegacia de Homicídios de Feira, um remédio para ejaculação precoce, que não causa efeitos do tipo.
Gilson também garante que está triste e arrependido. “Triste é pouco. Toda essa tragédia que eu cometi, não tenho palavras”, disse, embora não demonstrasse emoções. Durante toda a entrevista, o comerciante aparentou frieza e lucidez - mesmo comportamento registrado no depoimento à polícia.
Questionado sobre o motivo de ter cometido o crime, ou um gatilho que disparou a amnésia, ele disse não saber. “Não tinha motivo nenhum para isso. A gente não tinha problemas”, afirmou, negando sentir ciúme da esposa: “Eu montei um bar e coloquei ela trabalhando lá. Se eu tivesse ciúmes, não faria isso”.
Planejado
A tese da polícia é que, motivado por um sentimento de posse doentio pela esposa, Gilson premeditou o crime. “Tivemos vários indícios pelas oitivas que colhemos. Ele já havia feito ameaças, alguns vizinhos disseram que no Natal ele já dizia que ia tocar fogo na casa e matar todo mundo”, diz a delegada Larissa Lage.
“Ele também se apossou de um dinheiro da esposa e gastou na revisão do carro e encheu o tanque, já se preparando para fugir”, completa a delegada. “Ele combinou a venda do veículo e voltou hoje para Feira de Santana, para entregar”, afirma. Gilson ainda apanhou o celular da esposa e ficou com ele.
De acordo com o delegado João Uzzum, Gilson escondeu um galão de gasolina dentro da residência - outro indício de ter premeditado. “Quando a família dormiu, ele derramou (a gasolina) sobre as pessoas, ateou fogo e trancou as portas”, conta Uzzum.
Gilson negou as acusações da polícia. “A gasolina era para abastecer a moto da minha mulher. O celular eu peguei por pegar, inclusive ficou desligado o dia inteiro”, disse.
Facadas
De acordo com o delegado João Uzzum, Gilson já havia esfaqueado a mulher, Ana Cristina, por ciúmes. Ele contou, em depoimento, que há dez anos flagrou a mulher na rodoviária com outro homem. “Ele disse que ela estava fazendo carícias no ouvido do cara e que, como ele estava com uma faca, teria dado duas facadas nas costas dela”, informou Uzzum.
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