O incêndio criminoso que deixou cinco crianças da mesma família mortas e mais duas mulheres feridas, na madrugada desta quarta-feira (4), no bairro da Mangabeira, em Feira de Santana, foi presenciado por vizinhos, que ainda tentaram resgatar as vítimas.
Moradora de uma casa em frente ao imóvel que o autônomo Gilson de Jesus Moura, 49 anos, teria trancado e ateado fogo com a família dentro, no Condomínio Alto do Rosário, Mônica de Almeida Pinho, 48 anos, contou que por volta das 4h escutou um barulho de coisas quebrando e porta batendo. Quando desceu com o marido para ver o que estava acontecendo, encontraram a casa em chamas.
"Meu marido usou o extintor do prédio para quebrar a maçaneta da porta e Cristina (mulher de Gilson) saiu pedindo que, pelo amor de Deus, salvassem os filhos dela. Ele ainda tentou ir no quarto, mas como a casa era toda forrada de PVC, o fogo se propagou rápido”, disse ela ao Correio.
“Meu marido ainda ouviu uma criança gritando: 'tio, não me deixa morrer'", complementou ela. Segundo o delegado Gustavo Coutinho, da Delegacia de Homicídios de Feira, testemunhas presenciaram a fuga de Gilson. “A casa ainda estava em chamas e ele fugiu, cantando pneu”, disse Coutinho, que já pediu a prisão preventiva do acusado. O autônomo deve responder por cinco assassinatos, duas tentativas de homicídio e um aborto, já que uma das vítimas era gestante.
As vítimas foram Thaís de Jesus Moura, 13 anos, Carlos Alexsandro de Jesus Moura, 9, Xayane Vitória de Jesus Moura, 8, filhas de Gilson. Além delas, a enteada dele, Emily de Jesus Moura, 16, que estava grávida de cinco meses, e o filho dela, Enzo, de 1 ano e 11 meses, também morreram. Os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal (IML) da cidade.
Os vizinhos ainda foram no fundo da casa e chegaram a ver Thaís pedindo socorro. Depois, o corpo dela foi encontrado agarrado na grade. “Era muita gritaria. Depois foi parando aos poucos, e a gente não ouviu mais nada, só o barulho do telhado e das coisas caindo”, contou outra vizinha, Milena de Jesus Carvalho, 18.
Socorridas
A mulher do suspeito e mãe de quatro das vítimas, Ana Cristina de Jesus, 37, e outra filha dela, Ayla de Jesus Moura, que também estavam no imóvel, foram socorridas pelos vizinhos com queimaduras graves, segundo o delegado Gustavo Coutinho.
“Cristina saiu do imóvel com o corpo coberto de fogo da cintura até os pés. Já Ayla, saiu sozinha do meio das chamas. Os vizinhos usaram cobertores molhados para conter o fogo que se espalhava pelo corpo delas”, afirmou.
"O médico disse que o estado de saúde dela é gravíssimo e deve se agravar por conta de infecções, já que ela teve queimadura de terceiro grau da altura da cintura até os pés", complementou. Mesmo internada, Ana Cristina contou ao delegado que ele jogou gasolina no primeiro quarto, trancou e ateou fogo. Depois, entrou no quarto dela com o galão de gasolina. “Ela acordou com o banho do combustível e pediu para que ele não fizesse nada com os filhos e ele dizia que todos iam morrer”, comentou o delegado.
Ana Cristina está internada no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA). Já Ayla foi para o Hospital da Criança. "Foram salvas porque os vizinhos perceberam as chamas e derrubaram a porta. A mulher tinha queimaduras graves nos braços e nas pernas", informou o major Luiz Alberto Souza e Silva Junior, comandante do 2º Grupamento de Bombeiros Militar (GBM).
O imóvel
O incêndio foi debelado por volta das 7h30 e o imóvel foi evacuado. Duas guarnições participaram da operação. Segundo informações do major, eles foram acionados por volta das 4h40 e menos de dez minutos depois já estavam no local.
No local, os moradores informaram que o Corpo de Bombeiros só chegou às 6h, quando o fogo já tinha sido controlado pela vizinhança, que usou baldes e extintores dos prédios.
O imóvel onde o crime ocorreu possuía dois quartos. Em um deles dormiam as cinco vítimas fatais e, no outro, Cristina e a filha Ayla. A casa é toda gradeada, mas o vizinho conseguiu quebrar a maçaneta da porta da frente, por onde Gilson fugiu. A grade estava aberta.
Irmãos
Segundo vizinhos ouvidos pelo Correio, Gilson era uma pessoa tranquila, amava as crianças, e trabalhava como autônomo. Cristina e Gilson são irmãos biológicos por parte de mãe e estavam juntos há 11 anos, mesmo tempo em que moravam no Condomínio Alto do Rosário, que é um empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, composto por casas e prédios.
Segundo o delegado Gustavo Coutinho, ele estava há oito anos sem beber. “Uma vez o casal teria discutido, cogitado se separar e as crianças teriam escolhido ficar com o pai. Vizinhos contam que ele era um pai exemplar”, relatou o delegado, que acredita que o suspeito voltou a beber após uma crise de ciúmes durante o Réveillon.
Junto com a mulher, Gilson construiu um bar na frente da casa, que só abria nos finais de semana. Ana Cristina era quem atendia os clientes e houve alguns incidentes em que eles chegaram a discutir, mas nunca na frente de outras pessoas.
“Como Cristina trabalhava como costureira em uma fábrica, o bar só funcionava nos finais de semana. Durante a festa do Réveillon, ele teria ficado com ciúmes dela, durante uma dança. Por conta desse episódio, ele teria saído de casa na madrugada de segunda-feira e só retornado à noite. Questionado por onde teria andado, ele alegou que tinha ido comprar peças para a moto”, contou o delegado.
A partir de então, ele passou a ameaçar a mulher e as crianças. “Depois do episódio do Réveillon, ele teria ligado para o celular da mulher e falado para ela ir para casa que ele tinha acabado de botar fogo na casa com as crianças dentro. Ela teria percebido, pelo tom de voz, que ele estava mentindo”, explicou Coutinho. Isso ocorreu um dia antes do crime desta madrugada. Na madrugada desta quarta, no entanto, ele cumpriu a promessa.
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