Sob a suspeita de ter sido alvo de uma gravação de seu ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), disse que, se ela de fato ocorreu, foi algo desarrazoado e gravíssimo. “Gravar clandestinamente é sempre algo desarrazoada, quase indigno. Ou diria, mesmo, indigno. Mas um ministro gravar um presidente da República, é gravíssimo”. Nos próximos dias, o presidente deverá fazer uma consulta ao Gabinete de Segurança Institucional para saber da viabilidade e da legalidade de que todas as audiências públicas dele sejam gravadas.
Sua decisão surgiu no esteio da crise política que resultou nos pedidos de demissão de dois de Calero e do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. Desde que então titular da Cultura se demitiu alegando sofrer pressões para atuar em favor de Geddel que visava interesses particulares, circula em Brasília versões de que ele teria gravado conversas com colegas de ministério e com o próprio presidente. Os áudios ainda não vieram à tona, mas resultaram na incomum convocação de uma entrevista coletiva em pleno domingo – evento do qual participaram Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Aproveitando essa gravação clandestina, ilógica, agressiva, desarrazoada, talvez deste limão, nós façamos uma limonada institucional, fazendo com que as audiências públicas sejam todas gravadas”, afirmou. Em outro momento da entrevista, Temer disse esperar que os áudios sejam divulgados o quanto antes, para que ele possa mostrar que – segundo sua versão –estava tentando arbitrar um conflito entre seus ministros. “Se gravou, espero que essa gravação venha à luz (...) Sou cuidadoso nas palavras. Jamais diria algo inadequado”.
Calero se demitiu do governo no dia 18 de novembro alegando que seu então colega, o articulador político do Governo Geddel Vieira Lima, estaria o pressionando para mudar uma decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que embargou a construção de um luxuoso prédio em Salvador. Geddel comprou um apartamento nesse edifício e, por mais que tenha dito que não fez nada ilegal e de ter recebido o apoio de deputados que representam todos os partidos aliados de Temer na Câmara, não resistiu à crise que gerou no Planalto e acabou pedindo demissão no último dia 25. Em depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro da Cultura afirmou ainda que, além de Geddel, o presidente e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, também o pressionaram. Algo que ambos negam.
Sobre o novo ministro da Secretaria de Governo, Temer disse que está examinando alguns nomes com muito cuidado. “O perfil será de alguém com lisura absoluta, evidentemente, como convém. E por outro lado alguém que tenha uma boa interlocução com o Congresso Nacional, alguém que possa manter bom contato e estabelecer um diálogo muito produtivo, como tem sido feito”, declarou.
Sem um responsável oficial por dialogar com o Legislativo, o presidente reforçará ele próprio nas conversas com os senadores e os deputados. “Sempre fiz articulação política”. Essa, aliás, tem sido sua característica desde que substituiu Dilma Rousseff (PT) quando ela sofreu o impeachment. Frequentemente Temer se reúne com os congressistas para debater assuntos de interesse do Governo que tramitam nas duas Casas.
Entre os cotados para substituir Geddel, estão o secretário do programa de privatizações do Governo, Moreira Franco, os ex-deputados Sandro Mabel e Rodrigo Rocha Loures, além dos deputados Darcísio Perondi e Jovair Arantes. Desses cinco, apenas Jovair não é do PMDB, ele é filiado ao PTB. Caciques políticos do PSDB, o principal aliado do Governo, também tentam apresentar algumas sugestões ao presidente. A tendência, porém, é que um peemedebista assuma a função.
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