Tiroteios intensos, perseguições, morador baleado e a ameaça de um ataque à Base Comunitária de Segurança (BCS) de Santa Cruz e à 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina) em represália à morte do traficante Rafael Xavier de Jesus, o Chouriço. Pelo sexto dia consecutivo, o clima é de tensão e medo no Vale das Pedrinhas. Por conta da mais nova vítima de tiroteios e do possível ataque, o policiamento no bairro foi reforçado.
Na última quinta-feira, os ônibus deixaram de entrar no bairro e ir até o final de linha por conta do clima de insegurança gerado após duas ações policiais em que dois homens, um adolescente de 13 anos e uma mulher, de 55, foram baleados. Somente cinco dias depois, o transporte público foi normalizado, na tarde de anteontem.
A informação que circula entre policiais militares e civis que atuam no Complexo do Nordeste de Amaralina é de que o ataque seria realizado ontem por traficantes do Comando da Paz (CP), facção à qual pertencia Chouriço, morto numa ação da PM no domingo. O Serviço de Inteligência da 40ª Companhia Independente (CIPM / Nordeste de Amaralina) descobriu na noite de anteontem que os bandidos pretendiam atacar usando coquetel Molotov.
[caption id="attachment_47378" align="aligncenter" width="600"] Policiamento reforçado no Vale das Pedrinhas, segundo policiais, após ameaça de ataque de traficantes (Foto: Arisson Marinho/Correio)[/caption]
“Fomos informados por rádio que o alvo é a Base Comunitária de Santa Cruz, por ter sido instalada numa área rodeada de morros, além da 28ª Delegacia. Por isso que há tanta polícia aqui hoje (ontem). Estamos em estado de alerta”, disse um dos homens da 40ª CIPM que estava em uma das guarnições que patrulhava a rua principal do Vale das Pedrinhas.
“O policiamento está sendo reforçado em pontos fixos e móveis, mas até agora tudo transcorre na normalidade”, declarou um soldado de uma guarnição da BCS do Nordeste de Amaralina, uma das unidades acionadas para reforçar a segurança no local. Equipes da Rondesp e do Comando do Policiamento Regional da Capital (CPRC) também circulavam pelo Vale das Pedrinhas.
A informação do possível ataque de traficantes da facção CP foi confirmada por um agente da 28ª Delegacia. “Recebemos o comunicado e estamos atentos”, disse o policial, sem dar mais detalhes. Apesar disso, em nota, a assessoria da PM informou que de acordo com o Comando da 40ª CIPM, a informação não procede. “São boatos disseminados nas redes sociais”, diz o comunicado.
Baleado
As informações repassadas pelo Serviço de Inteligência, no entanto, fizeram com que guarnições da companhia intensificassem o patrulhamento na região, na noite de anteontem, ocasião em que Alisson Nobre Ferreira, 18 anos, foi baleado na cabeça após um confronto entre a polícia e suspeitos na Rua 26 de Abril. O local fica na fronteira entre Santa Cruz e o Vale das Pedrinhas.
Sobre o incidente, a assessoria da PM informou que viaturas da 40ª CIPM faziam rondas quando avistaram bandidos com armas, por volta das 22h30. Conforme o comunicado, eram “pelo menos três homens armados, que ao avistar a guarnição efetuaram disparos contra os policiais, houve revide, mas os suspeitos fugiram atirando a esmo”.
Segundo a PM, em seguida, Alisson e o tio pediram socorro aos policiais após o jovem ter sido baleado de raspão na cabeça. A vítima foi levada para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas o estado dele não foi divulgado. A polícia não informou se o jovem tem passagens por delegacias.
Tiroteios
Segundo moradores da região, após o incidente com um ferido, novas trocas de tiros foram ouvidas no Nordeste e Santa Cruz. “Não consegui mais dormir. Foi uma noite de tiros constantes. Policiais e bandidos se enfrentavam”, contou um morador. “Ninguém podia sair. Lá em casa, nos trancamos em um quarto com medo de uma invasão durante perseguição. Dava para perceber que os tiros eram sequenciais, como se fosse revidando”, relatou um vizinho.
Por volta das 23h30, novos disparos foram efetuados, desta vez na Santa Cruz. “Inicialmente, pensávamos que era uma briga entre eles, mas só depois, com a chegada das viaturas, que percebemos que se tratava de um confronto”, disse um morador da Santa Cruz.
Medo
Um morador do Vale disse estar perplexo com a situação de insegurança na região. “Nunca podia imaginar que um dia chegaríamos a esse ponto. Ficamos sem ônibus por cinco dias. Foi um transtorno. Apesar da presença dos policiais hoje (ontem), não há garantia de que isso vai acabar”, declarou.
O medo fez com que alguns moradores alterassem suas rotinas. “Mesmo com as viaturas subindo e descendo, não me sinto segura. Tenho receio de uma bala perdida. Minha mãe mora na Santa Cruz e costumo levar meus filhos para vê-la, mas desde esse episódio que só saímos o necessário”, contou uma dona de casa. Na ocasião em que o traficante foi morto, no domingo, uma mulher que trabalhava em uma quitanda também acabou baleada.
Comércio afetado
O temor também trouxe consequências ao comércio. A dona de uma loja estima o prejuízo de pouco mais de R$ 7 mil. “Abri todos os dias, mas tive um prejuízo de quase R$ 1.500 por dia. Minhas clientes são idosas que dependem de ônibus para vir a minha loja”, declarou. A situação não foi diferente em uma casa de material de construção. “Normalmente, atendo entre 20 e 25 pessoas por dia. Durante o período sem ônibus aqui, se muito atendi foram 10 pessoas”, disse uma funcionária.
A decisão de colocar o fim de linha na Rua do Canal, no Rio Vermelho, a 2 km do local de origem, no Vale, entre a noite de quinta e as 13h de anteontem, foi do Comitê Integrado de Defesa do Transporte Rodoviário, que reúne representantes do Sindicato dos Rodoviários, SSP, Ministério Público, empresas de ônibus e órgãos municipais.
Postar um comentário