No cômodo apertado, cozinha, sala e quarto se misturam. A cama divide espaço com o sofá e o fogão, e no quintal um buraco no chão é o banheiro. À noite, quando precisa usá-lo, a doméstica Marize Santos, 53 anos, e o filho dela,  25 anos, e com necessidades especiais, ficam expostos ao relento. A falta de dinheiro impedia a reforma do imóvel, mas essa realidade vai mudar. A doméstica será uma das beneficiadas com o programa Morar Melhor, da prefeitura de Salvador.




[caption id="attachment_44258" align="aligncenter" width="620"]Programa habitacional atende 20 mil famílias em 47 bairros de Salvador (Foto: Marina Silva/Correio)[/caption]


Além de ganhar um banheiro novo, Marize verá a casa em que mora há 25 anos, finalmente, ser reformada. O imóvel foi construído com o dinheiro da aposentadoria do filho. No início, era um barraco de tábua. Depois, recebeu alguns tijolos, mas nunca foi reformado. Agora, a casa vai ser rebocada e ganhará uma janela e uma pintura nova. “Vivemos com o salário mínimo que ele (filho) recebe. Às vezes, não sobra o suficiente para comer e pagar as contas do mês,  que dirá para  fazer uma reforma. Deus sabe o quanto a gente está precisando. Esse programa vai aliviar o sufoco”, diz.


A casa dela é uma das 17.931 cadastradas em 47 bairros de Salvador, sendo que em 39 deles as obras já começaram. São imóveis de famílias com baixa renda selecionados para ser reformados, gratuitamente, pela prefeitura(veja ao lado os critérios para participar). Desde outubro de 2015, quando o Morar Melhor foi lançado, 12.500 mil casas tiveram as obras iniciadas, sendo que 8.111 unidades já estão prontas. Em média, cada imóvel leva cerca de três meses para ser reformado. A expectativa é que 20 mil casas sejam entregues reformadas até o final deste ano.


De acordo com a secretária municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps), Ana Paula Matos, o programa vai além das aparências. “O benefício não é apenas de uma reforma física. Morar em uma casa melhor, mais bonita e reformada, melhora a autoestima e a saúde, porque resolve problemas de saneamento básico e faz o cidadão se sentir respeitado. O programa ajuda no fortalecimento dos laços dele com a comunidade e tudo isso é muito bom”, ressaltou a secretária.



Fiscal

Mesmo não tendo que desembolsar nenhum valor pela reforma, as famílias contempladas fazem questão de acompanhar o trabalho de perto e cobram para que o serviço seja feito da melhor forma possível. Segundo relatos dos próprios donos dos imóveis, as equipes não estão tendo sossego durante as reformas. Em Pau da Lima, por exemplo, a manicure Patrícia de Souza, 31, teve a casa rebocada e pintada. “Exigi mesmo. Fiscalizei a obra para que ficasse tudo bem feito”, afirmou.




[caption id="attachment_44259" align="aligncenter" width="620"]Programa habitacional atende 20 mil famílias em 47 bairros de Salvador Dona Maria Faustina Cézar (Foto: Hilza Cordeiro/Correio)[/caption]

 

Com 102 anos, dona Maria Faustina Cézar é considerada a vovó do bairro. Ela mora há 40 anos em Pau da Lima e contou que acompanhou a reforma passo a passo. Lúcida, vovó Maria discutiu com a equipe da prefeitura os detalhes das obras. A assistente social orientou a troca das janelas, mas a idosa dispensou o serviço “para evitar o bate-bate dos martelos”, disse. Já a escolha da cor da casa, ela tratou como prioridade. “Eu queria amarelo e eles fizeram. Ficou mais bonitinha, mais novinha, chega dá gosto. É uma alegria muito grande na minha idade”.



Resistência

Alguns técnicos contaram que existem moradores que resistem em fazer o cadastro quando as equipes estão visitando os bairros. O motivo é o medo de que a ação seja, na verdade, de desapropriação. Em Pau da Lima não foi diferente. “As pessoas achavam que se tratava de desocupação por causa da expansão do metrô. Depois nós fomos percebendo que era benefício mesmo e ninguém quis ficar de fora”, lembrou uma moradora.


Para ganhar a confiança da comunidade, a prefeitura criou uma estratégia: “Reformamos uma ‘casa teste’ para que os moradores percebam o que é e o que representa o Morar Melhor e, então, vamos nos aproximando da comunidade”, afirmou Ana Paula. A maioria dos serviços está relacionada a reboco e pintura. O banheiro é o cômodo mais em falta em algumas casas, o que aumenta o risco de doenças, devido à falta de saneamento básico.


Na sexta-feira (12), as equipes visitaram 1.715 imóveis nos bairros de Alto de Coutos, Rio Sena e Plataforma, todos no Subúrbio Ferroviário. O número contempla as unidades de Saramandaia. A visita dos técnicos ao local renovou as esperanças da moradora Lilian Brito, 28, de ver a casa em que mora com o marido e dois filhos reformada. “Não temos a mínima condição de fazer uma reforma dessa. Isso ajuda bastante, não só a mim, mas também às outras pessoas que precisam tanto quanto eu”, contou.


Anteontem, 1.534 imóveis foram vistoriados pela prefeitura no Alto do Coqueirinho, São Marcos, Castelo Branco e Sete de Abril. Hoje, será a vez do Engenho Velho de Brotas, Nordeste de Amaralina e a Chapada do Rio Vermelho.



Saiba quem pode participar do Morar Melhor

Para ter a casa reformada através do Morar Melhor é preciso aguardar a visita das equipes da prefeitura nos bairros. Os agentes sociais da  Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps) vão até os locais acompanhados dos engenheiros responsáveis pelas obras. Enquanto são cadastrados, os moradores começam a discutir com os profissionais os detalhes das reformas dos imóveis. O custo das obras não podem exceder o valor de R$ 5 mil por imóvel e os donos não precisam deixar as casas durante as intervenções.


Quem foi beneficiado em programas como o Minha Casa Minha Vida ou vive em áreas de risco não pode participar do programa. Segundo a secretária da Semps,  Ana Paula Matos, os 47 bairros onde o Morar Melhor acontece foram selecionados de acordo com dados do IBGE de 2010 e contemplam famílias com renda per capita inferior a R$ 70. “São as regiões com maior precariedade da cidade, com maior predominância de pessoas abaixo da linha de pobreza e domicílios com alvenaria sem revestimento. Baseado nesses dados, traçamos as poligonais e visitamos os bairros”, informou.


Durante as visitas, os assistentes sociais orientam os moradores sobre quais devem ser as prioridades da reforma e o grupo entra em um acordo. O morador pode acatar as orientações ou fazer novas sugestões. Depois das visitas de porta em porta, as equipes retornam para a Semps e checam os dados dos cadastros. Em alguns casos, é necessário retornar nos imóveis. Caso esteja tudo em ordem, as obras já começam.


Correio24h

Receba notícias do Jacobina Notícias pelo nosso Instagram e fique por dentro de tudo! Também basta acessar o canal no Whatsapp e no Google Notícias.

Comentários

Postagem Anterior Próxima Postagem