Falando para uma plateia de agricultores, operários e militantes petistas, presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (6) em Cabrobó, sertão de Pernambuco, que se manterá "brigando" caso seja afastada da Presidência pelo impeachment.
"Eles queriam que eu renunciasse. Mas, se eu renunciar, iria para debaixo do tapete. Eu não vou para debaixo do tapete, eu vou ficar aqui brigando", afirmou Dilma, que fez uma visita a obras da transposição do rio São Francisco.
A presidente afirmou ser a "prova de uma injustiça" e disse que o Congresso está condenando uma pessoa inocente. As declarações da presidente foram dadas no dia em que a Comissão do Impeachment do Senado aprovou por 15 votos a 5 o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB) que defende o prosseguimento do processo de afastamento da presidente do cargo.
Após uma defesa enfática de programas sociais como o Bolsa Família, Água para Todos e Minha Casa Minha Vida, Dilma disse que projetos voltados para os mais pobres serão reduzidos e extintos caso ela seja afastada da Presidência.
"Agora, há pessoas que não acham que a prioridade são os gastos sociais. Acham que é um desperdício o Bolsa Família para a quantidade de famílias que nós colocamos. Acham que só 5% dos mais pobres deve ter acesso ao Bolsa Família. E isso eu não concordo", disse, numa referência a declarações recentes de aliados do vice-presidente Michel Temer.
'UMA TAL PEDALADA'
A presidente disse que inventaram uma "tal de pedalada fiscal" para afastá-la do cargo. Afirmou que esta é uma prática comum de governadores, prefeitos e ex-presidentes. Em seguida, citou decretos assinados pelo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Ao se referir às obras de transposição do rio São Francisco, Dilma afirmou que ficará "muito triste" caso não possa inaugurá-la: "Meu coração vai ficar partido porque é uma grande injustiça. Nós lutamos para fazer essa obra", disse.
A precisão é que a obra seja entregue em dezembro de 2016, quando o Senado já deverá ter votado o julgamento final do impeachment, caso o processo prossiga.
O prosseguimento do processo de impeachment deve ser votado no Senado na próxima sexta-feira (13). Caso seja o impeachment seja aprovado pelo plenário por maioria simples, a presidente Dilma Rousseff será afastada do cargo por 180 dias.
No evento em Cabrobó, a presidente foi recebida por militantes do PT de Pernambuco, operários dos canteiros da transposição e moradores de comunidades rurais vizinhas. Alguns traziam cartazes com frases como "Dilma, defensora dos pobres".
Antes da presidente chegar, o mestre de cerimônias ensaiava com o público gritos de "Dilma, eu te amo" e "Dilma, guerreira do povo brasileiro", afirmando que a manifestação seria transmitida ao vivo para todo o Brasil.
Acompanharam a presidente na solenidade os governadores do Ceará, Camilo Santana (PT), e da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). Anfitrião, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), não compareceu.
VISITA TÉCNICA
Em Cabrobó, a presidente realizou uma visita técnica à segunda estação de bombeamento do eixo norte do canal de transposição do rio São Francisco.
Também participou da vistoria o ministro da Integração Nacional, Josélio Moura, que tomou posse no cargo há cerca de um mês indicado pelos deputados baianos Roberto Britto (PP) e Ronaldo Carletto (PP), que votaram contra o impeachment na Câmara.
O ministro não discursou, como é praxe em eventos ligados à transposição. A reportagem percorreu os cerca de 50 km que separam a primeira estação de bombeamento, em Cabrobó, até a segunda, já próximo à cidade de Salgueiro, seguindo uma estrada que margeia o canal.
Neste trecho a água do rio São Francisco já corre pelo canal. Contudo, ainda não há uso da água para produção nem para consumo humano. Num dos trechos, cabras se equilibravam nas margens íngremes de concreto para beber água no canal.
Já os canais que ficam após a segunda estação de bombeamento ainda seguem em construção e ainda não têm água.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, o projeto de transposição do São Francisco alcançou o índice de 86,3% de avanço físico nos eixos Norte e Leste.
Ao todo, a obra terá 477 km de canais e pretende levar água para 390 municípios de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
O trecho da obra em Cabrobó está sendo feito pela construtora Mendes Júnior, investigada na Operação Lava Jato. Desde abril, e empresa foi considerada inidônea pela CGU (Controladoria Geral da União) por irregularidades em contratos coma Petrobras.
No final do ano passado, executivo da Mendes Júnior foram condenados a penas que chegaram 19 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro. A defesa recorreu da decisão.
Iniciada na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obra foi inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões e tinha entrega prevista para 2012. O custo foi atualizado para R$ 8,2 bilhões. Com informações da Folhapress.
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