A disposição final de resíduos urbanos domiciliares em aproximadamente 80% das cidades brasileiras é realizada diretamente sobre o solo sem nenhuma impermeabilização, sem drenagem e tratamento para o chorume. Assim, a migração de contaminantes para o solo abaixo dos Aterros de Resíduos Urbanos passa a ser uma questão de relevância.
[caption id="attachment_39937" align="aligncenter" width="620"] Lixo a céu aberto contendo diversos materiais no entorno da Vila de Itaitu (Foto: Rota 324)[/caption]
Atualmente, existem normas que regulam a implantação dos aterros, e uma dessas é a implantação de mantas impermeabilizantes que evitem essa infiltração. É necessário também que haja a retirada desse líquido, por sistemas de drenagem eficientes, com posterior tratamento dos efluentes sem que agrida o meio ambiente. Gases também são liberados e podem ser aproveitados como combustíveis, o que pode trazer benefícios financeiros. Outras maneiras ambientalmente mais viáveis são a reciclagem, a compostagem, a reutilização e a redução.
A região de Jacobina e suas elevações acima de 1000m favorecem o acúmulo de água e o surgimento de inúmeras nascentes que abastecem um grande número de pessoas. Parte desse patrimônio natural que hospeda importantes espécies de animais e vegetação centenárias encontra-se ameaçado pelo lixo e a produção do chorume, principalmente na região do entorno da Vila de Itaitu, um importante reduto natural preservado que abriga inúmeros rios e cachoeiras
O chorume é uma substância líquida resultante do processo de putrefação (apodrecimento) de matérias orgânicas. Este líquido é encontrado em lixões e aterros sanitários. É viscoso e possui um cheiro muito forte e desagradável (odor de coisa podre). Caso não seja tratado, o chorume pode atingir rios, córregos e os lençóis freáticos. Neste caso, os peixes podem ser contaminados e, caso a água seja usada na irrigação agrícola, à contaminação pode chegar aos alimentos (frutas, verduras, legumes, etc).
[caption id="attachment_39936" align="alignleft" width="300"] Modelo esquemático de migração do chorume em subsuperfície.[/caption]
Além de possuir baixa biodegrabilidade, o chorume carrega metais pesados que os organismos vivos não são capazes de eliminar, acumulando-os. Esse acúmulo, pode causar uma série de problemas de saúde, como diarreia, tumores no fígado e tireoide, dermatoses, problemas pulmonares, rinite alérgica, alterações gastrointestinais e neurológicas.
Até o momento nenhum estudo foi conduzido para avaliar os efeitos provocados pelo chorume que se infiltra no solo na região de Itaitu. Na tentativa de minimizar os riscos ambientais causados pelo lixão e de forma a contextualizar e facilitar a compreensão mais detalhada que a presença de um lixão representa, é apresentado um mapa indicando a localização do lixão e suas áreas de influência. Estas áreas são definidas como Área de Influência Indireta – 1,5 km, Área de Influência Direta – 1 km e Área Diretamente Afetada – 0,5 km.
Este mapa indica que a Vila de Itaitu está situada dentro da Área de Influência Direta do lixão (raio de 1km do lixão). Indica também que para seguir sentido a cachoeira das Arapongas, as pessoas devem circulam pela estrada que passa ao lado do lixão, o que potencializa o risco de transmissão de doenças. O mapa permite ainda individualizar um conjunto de áreas (córregos e rios) com potencial risco de contaminação por chorume e/ou resíduos urbanos. Estas áreas ficam próximas ao lixão e a Vila de Itaitu e representam risco ao abastecimento de água dos rios, córregos e a da água subterrânea.
[caption id="attachment_39962" align="aligncenter" width="620"] Mapa indicando a localização da Vila de Itaitu e das áreas de influência.[/caption]
Em uma época em que as tecnologias ambientais evoluíram, recomenda-se a remoção do lixão deste local e/ou a construção de um aterro sanitário controlado. Este novo aterro deve ser construído em um local com base nas características geológicas e hidrogeológicas do terreno, de forma a minimizar seus impactos. Recomenda-se ainda que a presença do atual lixão seja tratada como um problema ambiental grave, principalmente por estar localizado em um importante reduto natural preservado. Reduto que depende da imagem ecológica para prosperar economicamente.
Recomenda-se também que seja elaborado um plano de ação. Este plano deve incluir uma sondagem elétrica vertical e deve avaliar a “possível” migração de chorume em subsuperfície. Se este for o caso, recomenda-se a perfuração de poços de monitoramento nas zonas mapeadas como de alto risco. Somente assim será possível avaliar a extensão da contaminação e mensurar os seus possíveis impactos. E por fim, que sejam implantadas práticas de coleta seletiva na Vila de Itaitu e seu entorno.
Por Carlos Victor Rios da Silva Filho - Geólogo
Aspaff Chapada Norte
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