Indignada, a correspondente do jornal francês Le Monde no Brasil, Claire Gatinois, relata o recente estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro, na edição do final de semana. “A polícia tenta encontrar 33 suspeitos. Sim, 33.”, enfatiza a jornalista.
“Sordidez” e “bestialidade” são termos usados no artigo do Monde em relação ao vídeo postado pelos estupradores, em que a jovem é mostrada nua e desacordada. A correspondente conta que o Brasil está em choque e que o crime é amplamente repercutido pela imprensa internacional.
Gatinois cita o Times of India, que vê inclusive uma versão brasileira do “caso Nirbhaya”, referente a uma jovem estudante indiana morta em 2012 após um estupro coletivo. “O Brasil não é a Índia”, diz o texto francês, “mas acordou com um profundo mal-estar” no dia seguinte ao crime.
Le Monde cita os números oficiais que chocam: 47.646 estupros registrados em 2014 – ou seja, cinco por hora, um a cada onze minutos. “Certamente essas indicações estão longe da realidade”, opina a correspondente, citando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), segundo o qual “apenas 10% das violações seriam registradas na polícia”.
Reatividade de Dilma contrasta com lentidão de Temer
A reportagem cita ainda apelos da Organização das Nações Unidas para as Mulheres no Brasil (ONU Mulheres) e da presidente afastada Dilma Rousseff para que as autoridades tomem medidas para combater, denunciar e punir os responsáveis.
Em contrapartida à rapidez de reação de Dilma, Le Monde observa que o presidente temporário Michel Temer precisou de mais de 24 horas e uma onda de indignação nas redes sociais para finalmente reagir ao ato bárbaro.
Como compensação à própria lentidão, Temer anunciou a criação de um departamento junto à polícia federal para se ocupar especificamente de violências contra a mulher. A correspondente do jornal francês cita reações irônicas, como a de Cynara Menezes, do blog Socialista Morena: “Não acredito que um governo que acabou com o ministério da Mulher se preocupe realmente com a questão”.
A matéria de Le Monde também relata as atuais discussões sobre a “cultura do estupro” no Brasil e reproduz os dados chocantes de uma pesquisa do IPEA, de 2014, na qual 26% das pessoas entrevistadas achavam que as mulheres com roupas reveladoras mereciam ser atacadas. Além disso, 65,1% responderam acreditar que uma mulher agredida pelo parceiro e que não o abandona é porque gosta de apanhar.
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