O Uber existe e está entre nós. Nesta quinta-feira (7) voltei para casa de uma forma diferente. Deixei de lado o bom e velho (mesmo quando é do novo) buzu e fui de Uber. Admito, bateu o medo de estar entrando no carro do maníaco do parque made in Bahia ou de ser agredido por mil taxistas. Mas fui. Antes, claro, distribuí o número do motorista para os amigos: “se eu morrer, foi ele”. Deus é mais. Parado um pouco antes do lugar onde o GPS sinalizava, estava o administrador de empresas Adson França, de 38 anos, dentro do seu Gol Branco. De calça social e camisa de botão, ele me esperava. Demorou pouco mais de cinco minutos para chegar desde que solicitei a corrida. “Boa noite. Qual o destino, senhor?”, perguntou. Respondi que iríamos para a Ribeira. Respirei fundo e usei a minha vez de perguntar: “sou jornalista. Peguei essa corrida mais para poder fazer uma matéria. Podemos conversar?”.
Certeiro, Adson disse sim. Na nossa corrida de exatos 30 minutos descobri que o hoje motorista do Uber já foi motorista de...táxi. Paradoxal, mas possível. “No táxi, tinha dias que eu terminava com R$ 40 na mão. Eu tinha que pagar uma diária de R$ 150 ao dono do carro, além de gasolina e o carro quebrava muito. O Uber me dá a chance de eu ter o meu próprio negócio e acaba com o monopólio”, resumiu ao defender o aplicativo tão demonizado por sua ex-categoria. Hoje, dono do seu próprio ganha pão, França espera ganhar R$ 5 mil – “é o que eles prometem, né?”. No começo do trajeto, o motorista parecia um pouco perdido. Tive de ensinar o caminho de casa – coisa que nunca me aconteceu com nenhum taxista, visto que moro num bairro popular.
Ele, no entanto, seguiu atentamente o trajeto que pedi – coisa que muitos taxistas já deixaram de fazer. “Eles [a Uber] mandam a gente ver um monte de vídeo sobre como se portar com o passageiro. Tem que estar de banho tomado, tem que abrir a porta, pedir para colocar o cinto, estar bem vestido, o carro não pode ter cheiro forte...”, enumerou. Para fidelizar a clientela, ele disse apostar numa rede de Wi-Fi boa. “Disseram para eu colocar umas balinhas. Ainda não tenho, mas vou colocar. A água eu não sei se vai rolar, não, bicho, mas a balinha é bobagem. Mas eu quero mesmo é dar uma internet de graça de qualidade”, contou.
No seu primeiro dia de atividade como Uber, o motorista contou – até 21h – quatro passageiros. Para fugir da fiscalização da prefeitura e dos taxistas, a tática é se camuflar: “Disseram que a PM tem um rastreador de aplicativo, mas acho que é mentira. Se a PM mandar eu parar, a primeira coisa que vou fazer é dizer pro cliente: ‘o senhor se importa de dizer que é meu amigo?’. Bloqueio meu celular e pronto. Se ele quiser ver, eu destruo o aparelho”. Ainda meio perdido, Adson pediu para que eu dissesse onde parar. Indiquei o local e aí a maior surpresa: a corrida, que daria de táxi R$ 45/ 50, deu R$ 22. Com o desconto de primeira viagem, na verdade, só paguei R$ 2. Tudo funcionou dentro da normalidade, exceto pela incomum entrevista sobre quatro rodas. Eu, que tinha um pé atrás com a empresa, comecei a desmitificar o processo e acho que devo adotar o meio de transporte. Pode até não ter “golpe”, mas uma coisa que eu sei que vai ter muito é Uber. Ah, se vai...
Bahia Notícias
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