O jornal Le Monde vem cobrindo de maneira intensiva a crise política brasileira. Depois de vários artigos publicados nos últimos dias, o vespertino traz em sua edição desta quarta-feira (30) um editorial no qual contesta o argumento de que o país poderia enfrentar um "golpe de Estado".
Com o título “Ceci n’est pas un coup d’Etat” (Isso não é um golpe de Estado), o editorial do Le Monde questiona a posição de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva que, “acuados politicamente, denunciam um ‘golpe de Estado’”. Para o vespertino, esse argumento não se sustenta, já que “a destituição de um chefe de Estado é prevista e regulamentada pela Constituição brasileira”.
O jornal explica que o país já viveu esse tipo de situação quando, nos anos 1990, tirou do poder o então presidente Fernando Collor de Mello, acusado de corrupção. “Na época, o Partido dos Trabalhadores não disse que se tratava de um push e ficou do lado do povo, que se manifestou em massa para exigir a saída do chefe de Estado”, lembra o editorial.
Para Le Monde, Dilma e Lula, que conheceram e já foram vítimas das consequências de um golpe de Estado, após o push de 1964, quando a justiça militar prendeu e torturou opositores, deveriam escolher melhor os termos usados para classificar a atual crise brasileira. Segundo o jornal, ao falar de golpe, os petistas tentam desqualificar os manifestantes e a oposição. Isso revela “dirigentes desesperados, negando seus erros”. A consequência dessa atitude, continua a vespertino, é que eles ‘impedem a serenidade e o diálogo necessários para superar a crise política, econômica e moral que sacode o país”.
Na mesma linha do restante da imprensa francesa, que já conta com afastamento de Dilma, o editoral do Le Monde afirma que vai ser difícil para a presidente terminar seu mandato. “O impeachment não é a melhor solução para o impasse. A renúncia da chefe de Estado, que perdeu a maioria parlamentar, seria menos complicada”, diz o jornal. “Uma eleição presidencial antecipada teria como vantagem o fato de dar novamente voz aos brasileiros”, se posiciona o vespertino. “Isso permitiria a cada um, inclusive o PT, defender seus argumentos e o Brasil poderia atacar a crise de crescimento e de confiança que atravessam tantos países emergentes”, conclui o editorial do jornal.
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