As imagens do corpo afogado de Aylan Kurdy, 3 anos, em uma praia na Turquia provocaram muito mais que um choque. Uma onda de solidariedade invadiu a Europa, provocando manifestações nas principais cidades e levando governos a rever suas políticas para a imigração.
[caption id="attachment_24202" align="aligncenter" width="620"] Policial austríaca abraça criança entre centenas de refugiados que queriam pegar o trem para Viena (Foto: AFP)[/caption]
Ontem, Alemanha e Aústria receberam a primeira leva de refugiados vindos da Hungria, até então um dos países mais hostis à presença dos imigrantes fugidos das guerras no Oreinte Médio, principalmente na Síria.
Em Munique, no sul do país, alemães aplaudiram e ofereceram doces aos cerca de 450 migrantes que desembarcaram na estação de trem local. Outros 10 mil refugiados devem chegar ao país até hoje. O mesmo se deu em Viena, capital da Áustria. Na estação de trem Westbahnhof, austríacos receberam o primeiro grupo de 400 refugiados com calorosos aplausos. Inúmeros voluntários estavam na estação para recebê-los e ajudá-los, entre eles fluentes nos idiomas árabe, farsi e curdo, assim como funcionários de organizações de ajuda humanitária, que distribuíram água, alimentos, roupas e cobertores aos esgotados refugiados.
Impedimento
No início da semana, esses refugiados viveram momentos de desespero em Budapeste, após o governo húngaro impedi-los de seguir para a Europa Ocidental. Muitos dos migrantes se recusaram a ser levados para campos na Hungria onde seriam registrados para conseguir refúgio, afirmando que queriam ir para a Alemanha ou para a Áustria.
[caption id="attachment_24201" align="aligncenter" width="620"] Refugiado ferido é atendido no Porto de Lesbos, na Grécia (Foto: AFP)[/caption]
Depois de dias de impasse e cenas de violência, multidões furaram o bloqueio imposto pelo governo húngaro e se lançaram numa caminhada de 175 quilômetros até a fronteira, muitos acompanhados de idosos e crianças.
Sob crescente pressão, a Hungria finalmente abriu sua fronteira com a Áustria. Calcula-se que cerca de 10 mil pessoas cruzaram a borda apenas ontem. Autoridades de Viena afirmaram que 2.300 pessoas chegaram à cidade, e que 1.500 haviam embarcado em trens com destino a Salzburgo, última cidade antes da Alemanha.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que seu país pode lidar com o fluxo de refugiados sem aumentar impostos e nem comprometer o orçamento do país. Já o governo austríaco anunciou que não vai limitar o número de migrantes que atravessam as suas fronteiras.
Pressionado, o governo húngaro cedeu e passou a oferecer trem e ônibus para transportar os imigrantes. Muitos deles deixaram a caminhada para embarcar nos veículos, até porque um boato espalhado entre os imigrantes dizia que a fronteira com a àustria seria fechada à meia-noite.
Grécia
Durante a última semana, a Grécia informou que o ritmo de imigração aumentou e que cerca de cinco mil novos refugiados chegaram a ilhas pertencentes a seu território, especialmente no Porto de Lesbos. Muitos dos refugiados demandam atendimento médico tamanha a debilidade em que se encontram após uma longa jornada de fuga. A necessidade de prover documentação a todos também provoca tensão e conflito com a polícia.
O problema continua de difícil solução, mas a maré que levou Aylan parece, ao menos por enquanto, ter mudado de direção.
Navio brasileiro resgata 220 imigrantes
Duzentos e vinte imigrantes foram resgatados na sexta-feira, no Mar Mediterrâneo, pela corveta Barroso da Marinha do Brasil. O navio navegava para uma missão de paz no Líbano, quando recebeu um alerta do Centro de Busca e Salvamento Marítimo italiano sobre uma embarcação com risco de afundar, tendo a bordo imigrantes que iam para a Europa.
Os refugiados vinham da Líbia, estavam há sete dias no mar e não se alimentavam nem bebiam água havia dois dias, contou o comandante da corveta Barroso, Alexandre Amendoeira Nunes. “Era um barco de pequeno porte, de madeira, semelhante a esses regionais que existem na Amazônia. Estava superlotado”, afirmou. “Eles (os imigrantes) se encontravam muito debilitados. Estavam desidratados, com assaduras, queimaduras de sol. Uma senhora estava com o braço quebrado”, contou.
Após serem embarcados, os imigrantes receberam os primeiros socorros. “Passamos pomadas e hidratação oral. Nos casos mais graves, foi preciso usar hidratação intravenosa”. Os refugiados foram levados para Catânia, na Itália.
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