A busca pelo menino Marcos Vinícius de Carvalho dos Santos, de apenas 2 anos, que tinha sido dado como desaparecido na sexta-feira passada, terminou ontem após a polícia localizar o corpo do garoto. Marcos Vinícius estava enterrado em um areal próximo à Alameda Afrânio Coutinho, atrás do Tchê Caranguejo, em Itapuã, bairro onde morava com o padrinho, o cabeleireiro Rafael Pinheiro de Jesus. Ele foi preso em flagrante por ocultação de cadáver.
[caption id="attachment_23032" align="aligncenter" width="620"] Após indicação de Rafael Pinheiro, policiais localizaram corpo de Marcos Vinícius em areal próximo à Alameda Afrânio Coutinho, em Itapuã (Foto: Almiro Lopes)[/caption]
O major Carlos Humberto, comandante da 15ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Itapuã), já havia confirmado que Rafael foi à delegacia acompanhado de um advogado e teria confessado o crime. “Nossa primeira preocupação foi encontrar o corpo, ver se era mesmo do menino. Parece que ele se arrependeu, mas ele ainda vai ser ouvido, aí vamos saber a motivação, circunstâncias”, disse o major, antes de ser divulgada a versão de Rafael.
[caption id="attachment_23038" align="alignleft" width="300"] (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
Após o depoimento, o chefe do Serviço de Investigação (SI) da delegacia de Itapuã, Júlio Oliveira, contou que Rafael disse que enterrou o afilhado depois de ele passar mal com um mingau, na noite de quinta-feira.“Ele disse que o menino passou mal, que durante a noite ele deu um mingau e o menino passou mal. Ele se desesperou e enterrou o corpo, tudo isso na noite de quinta-feira”, disse Júlio. A informação foi confirmada pela assessoria de comunicação da Polícia Civil.
“Depois (do relato), ele passou a colaborar, foi ele que mostrou onde estava o corpo”, disse o delegado titular da 12ª Delegacia, Antonio Carlos Santos. Ontem à tarde, ele ouviu novamente a mãe de Marcos Vinícius, Fabiana Carvalho, 18 anos, e o pai biológico, cujo nome não foi divulgado. Rafael não tinha passagem pela polícia.
Durante o novo depoimento, Fabiana chorou e não quis falar com a imprensa. Ela foi à delegacia com uma camisa com a foto do filho e a inscrição “Desaparecido”, usada em uma manifestação no último domingo.
Antes, ela tinha dito à polícia que havia deixado o filho com o padrinho há cerca de quatro meses, depois de ter conseguido um emprego como garçonete, no qual trabalhava à noite. Fabiana tinha conhecido Rafael apenas um mês antes de entregar Marcos Vinícius para morar com ele.
Intolerância
Em entrevista ao Correio no dia em que o garoto foi dado como desaparecido, a mãe contou que Marcos Vinícius tinha diabetes, intolerância zero a lactose e um cisto no pâncreas. Ele precisava tomar remédios e passaria por uma cirurgia ainda este mês.
[caption id="attachment_23033" align="aligncenter" width="621"] “Somos sua família. Te amamos muito”, escreveu padrinho em foto (Foto: Reprodução/Facebook)[/caption]
O corpo de Marcos Vinícius foi removido ontem à tarde por uma equipe do Departamento de Polícia Técnica (DPT) e passará por uma perícia para identificar a causa mortis.
O corpo estava apenas coberto com mato e, de acordo com o perito Alex Gabriel Chehade, em avançado estado de decomposição. Por isso, não era possível identificar, num primeiro momento, o que matou o menino.
Rafael será apresentado hoje, às 10h, na sede da Polícia Civil, na Praça da Piedade. Segundo a polícia, os delegados Antonio Carlos Santos e Marcelo Sansão, da 1ª Delegacia de Homicídios , já sabiam que o padrinho tinha algum tipo de envolvimento no caso do desaparecimento.
Feira de Itapuã
O desaparecimento de Marcos Vinícius veio à tona no dia 15 de agosto, um dia após a morte. O padrinho, Rafael, procurou a 12ª Delegacia e contou que comprava verduras na Feira de Itapuã, na Avenida Dorival Caymmi, com Marcos Vinícius, quando ele sumiu.De lá, ele foi encaminhado para a Delegacia de Proteção à Pessoa, onde o desaparecimento do menino foi registrado. Rafael prestou depoimento várias vezes e chegou a dar entrevistas a emissoras de TV contando que três testemunhas diferentes haviam visto o garoto entrando em um carro modelo Corolla preto acompanhado de um rapaz moreno com camisa preta. O garoto teria sido visto no carro com um casal e outra criança.
[caption id="attachment_23034" align="aligncenter" width="620"] Segundo perito, corpo estava em avançado estado de decomposição (Foto: Almiro Lopes)[/caption]
“Ele estava comigo num estande de verduras, eu coloquei ele do meu lado enquanto olhava as verduras. Em questão de segundos, eu fui pegar a mãozinha dele para continuar andando e ele tinha desaparecido. Eu, o pessoal da feira, os amigos e parentes começamos a procurar, procurar, e ninguém conseguiu achar. Fomos até a delegacia de Itapuã e eles nos encaminharam para cá (DPP). Três testemunhas diferentes disseram ter visto ele com um rapaz moreno, de camiseta preta, em um Corolla preto, num posto de gasolina”, declarou Rafael ao Bahia Meio Dia, da Rede Bahia.
Na ocasião, um feirante disse que as câmeras de segurança da Feira de Itapuã estavam quebradas. A delegada Heloísa Simões, da DPP, disse, na segunda-feira, que aguardava as imagens do posto de gasolina e os depoimentos de testemunhas para dar continuidade as investigações.
Após confissão, multidão foi à porta da delegacia de Itapuã: ‘Mata ele!’
No final da tarde de ontem, uma multidão foi à porta da delegacia, em Itapuã, onde Rafael se apresentou e estava preso. Cerca de 150 pessoas chamavam o padrinho do garoto de assassino e até quem passava pelo local de ônibus incitava a multidão contra o rapaz. “Mata ele!”, gritavam. O grupo foi disperso por policiais da 15ª CIPM (Itapuã) e do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto). “Domingo, ele estava na passeata pedindo que devolvessem o menino, fazendo a gente de idiota. Compartilhei foto e tudo”, disse Rosa Baiana, 56 anos, baiana de acarajé. Ela foi uma das pessoas que foi à porta da delegacia ontem. “Fico aqui até a hora que ele sair. Como pode fazer isso com uma criança de 2 anos? Absurdo”, disse a vendedora Priscila Moreira, 29.
[caption id="attachment_23035" align="aligncenter" width="620"] Ameaçado de linchamento, Rafael ficou na delegacia em cela separada. Multidão se aglomerou na porta da unidade policial na tarde de ontem (Foto: Almiro Lopes)[/caption]
Os protestos contra o homem se multiplicaram ontem também na internet. Assim que foi divulgado que o corpo do garoto havia sido encontrado e que Rafael confessou tê-lo enterrado, pelo menos 60 pessoas postaram mensagens condenando Rafael em sua página pessoal no Facebook. “Nao posso acredita que vc teve a coragem de matar uma crianca nunca iria imaginar isso nao queria criar dava para outra pessoa que alguem criaria com muito carrinho senhor e o fim do mundo mesmo o próprio padrinho quem criava quem morava junto porque pra que Fael? (sic)”, escreveu uma mulher.
“Porque você fez isso? Porque se deixou tomar pelo desespero e não pediu ajuda? Tvz ele ainda estivesse vivo (sic)”, postou outra. “Que mundo é esse? Tou passando mal com essa noticia. Ainda add esse monstro em meu face pra acompanhar o caso desse anjo! Meu Deus eu tou tentando não acreditar. Por que você fez isso? (sic)”, escreveu uma terceira. Até as 20h30 de ontem, cerca de 30 pessoas se aglomeravam na porta da delegacia aguardando a saída de Rafael. Ele, a mãe e o pai de Marcos Vinícius continuaram no local, porque havia risco de linchamento. Rafael vai ser transferido para a Cadeia Pública, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.
Padrinho criou página no Facebook e fez passeata
No dia 16 de agosto, o padrinho de Marcos Vinícius de Carvalho dos Santos, Rafael Pinheiro de Jesus, criou uma página no Facebook para ajudar na procura pelo menino desaparecido. Mais de 10 mil pessoas curtiram a página, onde foram compartilhadas fotos do garoto, inclusive um banner da Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), com os telefones para informações. Uma foto com uma criança nos braços de uma mulher chegou a ser postada no grupo, mas o próprio Rafael disse que não se tratava de Marcos Vinícius.
[caption id="attachment_23036" align="aligncenter" width="621"] Rafael participou de caminhada (Foto: Reprodução)[/caption]
No último domingo, ele também organizou uma passeata em Itapuã, onde pessoas saíram às ruas com cartazes e camisas personalizadas. “Ainda nenhuma noticia... Ele desapareceu no bairro de ITAPUÃ NA CIDADE DE SALVADOR. ... Porém estamos recebendo o carinho e solidariedade de todo o Brasil e outros países... Queria poder agradecer a todos pessoalmente mais n sendo possível agradeço por aqui.. Que Deus proteja a todos nos e ilumine a benção que levou meu bb (sic)”, escreveu Rafael no dia da manifestação.
Ele chegou a dar entrevistas para emissoras de televisão. No dia 17, em entrevista ao Bahia Meio Dia, da Rede Bahia, disse não ter suspeitos. “Todo mundo que a gente conhece, ninguém tem briga, ninguém tem rixa. Vamos continuar procurando e se tiver vendo, se não tiver coragem de entregar ele, deixe em local público que alguém vai achar e entrar em contato com a gente”, disse Rafael. A última postagem dele no grupo foi ontem, por volta das 9h. “Ainda não temos nenhuma noticia... A policia esta pressionada a encerrar logo esse caso... Para que isso aconteça vai ter que achar o culpado, o medo e da policia ser injusta”, postou, ao lado de uma foto do garoto com mais duas crianças. Ele se entregou horas depois.
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