O projeto de lei (PL) 1048/91, de autoria do então senador Valmir Campelo (PTB-DF), pode regulamentar a profissão de garçom e mudar a vida de milhares de profissionais, mas muitas vezes não têm qualificação e se sujeitam a um esquema de trabalho precário.
O PL também estipula a fixação de uma gorjeta obrigatória de 10%. Com isso, uma conta de R$ 100 seria obrigatoriamente transformada em R$ 110. Destes R$ 10 a mais, R$ 0,20 ficariam com o estabelecimento, R$ 0,02, com o sindicato da categoria e R$ 7, 8 seriam rateados entre os empregados.
"Isso seria importante porque além de aumentar a renda dos garçons serviria como base para o cálculo da aposentadoria", afirma o presidente do Sindicato dos Empregados em Hotéis, Bares e Similiares (Sindhotéis), José Ramos, que vê no PL uma possibilidade de valorização da categoria.
Um trabalho que existe desde que os homens começaram a consumir bebidas alcoólicas nas tabernas europeias da Idade Média. No século 17, quando os europeus passaram a consumir o café, bebida feita a partir de uma planta da Etiópia, o serviço foi incrementado. E nos refinados cafés parisienses, quando queriam ser atendidos os clientes chamavam o garçon (em francês, rapaz).
Mas anotar os pedidos é apenas uma das tarefas que se atribuem ao garçom, que, de acordo com os manuais das escolas de serviço, deve dominar uma série de procedimentos, posturas e gestos para tornar a experiência do cliente agradável. E a regulamentação da categoria profissional, proposta em 1991, pode sair agora, com 24 anos de atraso.
O PL foi aprovado pelo Congresso esta semana e aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff. Enquanto isso, a formação de profissionais está a cargo de instituições como o Restaurante Escola do Senac Bahia, que revelou Anderson Fonseca. Aos 22 anos, ele vai disputar em São Paulo, em agosto, a competição internacional World Skills, na categoria serviço de restaurante. "Pretendo me especializar e formar novos garçons", afirma Fonseca.
Formação
Com 25 turmas anuais de 40 alunos cada, o restaurante-escola Senac é a principal referência na formação de garçons na Bahia. "O mercado de trabalho inclui não apenas bares e restaurantes, mas a rede de hotéis", assinala Antônio César Falcão dos Santos, instrutor do curso.
Entre as características elencadas pelo instrutor para quem quer trabalhar como garçom ele destaca a disposição, o comprometimento e uma boa percepção do que agrada aos clientes
Com uma carga de 500 horas e duração de quatro meses, o curso envolve noções de preparação da mesa, atendimento, gestual e postura. "O profissional tem que prestar atenção simultânea nas mesas", destaca a coordenadora do curso, Crystiane Mota.
A atual turma do curso teve esta semana dois eventos especiais para acompanhar de perto como deve ser o atendimento à mesa. Anderson Fonseca, que vai concorrer no World Skills, participou de duas simulações, um jantar casual e um banquete.
"A postura do garçom no trabalho é importante para evitar que ele sofra lesões no ombro, por exemplo", explicou a fisioterapeuta Ana Virgínia Matos, que faz parte da equipe de instrutores.
Para este evento, especificamente, foi contratado o fonoaudiólogo e coach de voz Ivan Alexandre, que teve a responsabilidade de modular o tom de voz de Anderson. "Ele tem que estar atento aos ruídos no ambiente e empostar a voz de um jeito que não seja um sussurro, mas que também não seja um grito", explicou.
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