A morte do bebê Ali Saad Dawabsha em um incêndio atribuído a colonos judeus provocou a ira dos palestinos, com registros de distúrbios em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Em um raro telefonema ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, condenou o assassinato nesta sexta-feira e prometeu uma investigação completa. De acordo com a ONU, ataques de colonos a palestinos ou suas propriedades já somam 112 este ano.
[caption id="attachment_21691" align="aligncenter" width="620"] Um homem mostra uma imagem do bebê Ali Saad Dawabsha, morto em um incêndio criminoso em sua casa na Cisjordânia - JAAFAR ASHTIYEH / AFP[/caption]
— Todos em Israel ficaram chocados com o terrorismo condenável contra a família de Dawabsha. Temos de lutar contra o terrorismo juntos, independentemente de qual lado ele vem — disse Netanyahu a Abbas, segundo o gabinete do premier.
A forte condenação do ataque pelos líderes israelenses, algo incomum, não convenceu os palestinos. Após o assassinato do bebê de um ano e meio, o Hamas convocou um dia de fúria e disse que "cada israelense é agora um alvo legítimo". Abbas, por sua vez, prometeu levar o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI).
"Preparamos imediatamente o dossiê que será submetido ao TPI e nada nos deterá em nossa vontade de apresentar uma denúncia", afirmou Abbas, denunciando os "crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos todos os dias pelos israelenses contra o povo palestino".
Os pais do bebê e o irmão, de 4 anos, ficaram gravemente feridos no ataque na localidade de Duma, perto de Nablus, na Cisjordânia. De acordo com Ghassan Gaghlas, funcionário palestino que monitora atividades nos assentamentos no norte da Cisjordânia, quatro colonos quebraram as janelas antes de lançarem coquetéis molotov que provocaram o incêndio. Eles picharam as paredes da casa com a palavra "revanche" e as frases "longa vida ao Messias" e “preço a pagar”. Outra residência teria sido atacada.Segundo testemunhas, o pai conseguiu resgatar a mulher e o filho mais velho, mas não encontrou o bebê devido à falta de eletricidade.
Mesalem Daubasah, um morador da cidade, afirmou ter visto quatro colonos fugindo do lugar do ataque em direção ao assentamento de Maaleh Efraim.
Em um comunicado, a Autoridade Nacional Palestina responsabilizou Israel pelo ataque, dizendo que é "uma consequência direta das décadas de impunidade dadas pelo governo israelense ao terrorismo colono".
O Departamento de Estado dos EUA denunciou o que chamou de "ataque terrorista vicioso", exortando Israel e os palestinos a "evitarem a escalada de tensões na sequência deste incidente trágico".
Confrontos
A morte do bebê, no entanto, elevou a tensão entre palestinos e Israel ao maior nível desde a última guerra na Faixa de Gaza, em 2014. De acordo com o jornal "Jerusalem Post", colonos israelenses na Judeia e na Samaria relataram uma série de casos de distúrbios violentos e suspeita de incêndio provocados por palestinos nesta sexta-feira.
Dezenas de colonos da comunidade de Beit Hagai, em Hebron, foram retirados de suas casas depois de sofrerem de inalação de fumaça por causa de um incêndio que se acredita ter sido provocado por palestinos locais.
No total, 30 pessoas receberam tratamentos. Bombeiros trabalharam para conter o fogo, que subiu perigosamente para perto das casas dos colonos.
Israelenses que vivem no assentamento de Yitzhar também relataram que suspeitos palestinos atearam fogo em um posto militar.
Motoristas judeus em toda a Cisjordânia relataram ainda que palestinos estão jogando pedras.
Reação de Israel
Mais cedo, Netanyahu emitiu um comunicado no qual classificou o incêndio de ato de terrorismo e prometeu usar todos os meios para encontrar os responsáveis.
[caption id="attachment_21690" align="aligncenter" width="640"] Uma das paredes da casa foi pichada com a palavra "revanche" em hebraico - Majdi Mohammed / AP[/caption]
"É um ato de terrorismo em todos os sentidos", afirmou Netanyahu na nota, destacando que deu ordem às "forças de segurança para utilizar todos os meios à sua disposição para deter os assassinos e levá-los à Justiça".
O ataque também foi considerado um ato de terror pelo ministro da Defesa de Israel, Moshé Yalon. "O assassinato do bebê palestino é um ato terrorista. Não permitiremos que terroristas atentem contra a vida dos palestinos", disse Yalon em um comunicado.
Durante anos, extremistas judeu atacaram propriedades palestinas, assim como mesquitas, igrejas e bases do Exército israelense para mostrar sua oposição com o que consideram como políticas favoráveis do governo israelense aos palestinos. Os críticos dizem que a polícia é lenta para prender os criminosos. É raro que alguém morra nestes ataques.
— Este ataque contra civis nada mais é que um ato de barbárie terrorista — definiu o tenente coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército de Israel.
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